"Uma idealizada vida campestre, natural e simples” é como o Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) descreve o estilo do antigo chalé do Dr. Franco da Rocha, construído em 1910. Essa Perdizes, do início do século passado, hoje escondida por prédios, virou patrimônio. Na quinta-feira, 19, a Prefeitura de São Paulo homologou o tombamento de 40 imóveis no entorno de Perdizes, incluindo espaços na Água Branca e na Barra Funda. Dentre eles, originalmente, 37 eram residências unifamiliares.
Hoje, o modelo prossegue em apenas cinco. Nas restantes, foram instalados escolas e espaços de comércio e serviços, além de duas pensões e residenciais para idosos. O chalé do doutor, dos anos 1910, de bangalô, se tornou uma farmácia em 2014. Hoje vive realidade distinta, em um dos distritos mais populosos da zona oeste de São Paulo.
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Mas não é caso isolado. Na região, a maioria da população vive em edifícios, erguidos principalmente após os anos 1970, período em que o Plano Diretor proibia prédios de uso misto. Por isso, o comércio migrou para as casas, explica Lucio Gomes Machado, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP). “Tudo que não é usado vira ruína”, pontua. "Já existiu, durante uma certa época, a identificação entre construção antiga e centro cultural, mas isso não tem nada a ver. O importe é continuar vivendo", acrescenta.
O tombamento reúne imóveis construídos nas primeiras quatro décadas do século 20. Os bens têm estilo neocolonial e eclético, sem assinatura de arquiteto famoso. A exceção é o único edifício tombado, que foi reformado em 1948 por Oswaldo Bratke, autor da sede da Fundação Maria Luiza e Oscar Americano.
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Além de sobrados, casarões e afins, também foram tombados o Colégio Santa Marcelina (de estilo neogótico) e o Centro de Educação Infantil MMDC. Com exceção da escola e de uma casa, que hoje abriga uma instituição católica, os demais precisam preservar apenas as características externas. Todos foram apontados para preservação por moradores em processos em 2011 e 2016.
Entre os proprietários, a decisão divide opiniões. A aposentada Marilda Carvalho, que viveu 70 dos seus 80 anos em uma residência na Água Branca, discorda do tombamento e diz que a casa é “como outra qualquer”.
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"É minha e não posso mexer”, reclama, em relação à necessidade de aprovação para fazer modificações na fachada. O aposentado, Celso Paschoal Moraes, de 71 anos, vê de outra forma. “Para mim não tem diferença. A única deve ser econômica, porque não pode derrubar, mas nunca fui atrás”, aponta. Morador de um sobrado na Barra Funda há 13 anos, herdou o imóvel de um tio. “Hoje não se tem nenhuma pretensão de uma casa durar o que essa dura, com material bom”, elogia.
Já Ângela Castello Branco, de 41 anos, e Giuliano Tierno, de 40, alugaram um espaço na região justamente pelas características dos anos 1930. Em 2015, fundaram o centro de arte e educação A Casa Tombada, instalado em duas casas geminadas na Avenida Ministro de Godoi. “Estava caindo aos pedaços. Investimos o que tínhamos na reforma, pelo gosto de cuidar da casa”, conta Ângela. “O projeto teve muito esse apelo da casa como elemento central, a sala é uma sala, o quintal é um quintal de convivência. Chamamos os alunos de moradores. É uma outra forma de morar, em torno de ideias."
Confira o endereço dos 40 imóveis tombados: 01. Rua Cardoso de almeida, 1.065 - Perdizes; 02. Rua Dr. Homem de Melo, 165 - Perdizes; 03. Rua Dr. Homem de Melo, 167 - Perdizes; 04. Rua Parintins, 120 - Barra Funda; 05. Rua Lavradio, 73 - Barra Funda; 06. Rua Lavradio, 71 e 71a - Barra Funda; 07. Rua Lavradio, 65 - Barra Funda; 08. Rua Lavradio, 55 - Barra Funda; 09. Rua Lavradio, 53 - Barra Funda; 10. Rua Doutor Cândido Espinheira, 412 - Perdizes; 11. Rua Doutor Cândido Espinheira, 449 - Perdizes; 12. Rua Turiassu, 98 - Perdizes; 13. Rua Turiassu, 99 - Perdizes; 14. Rua Cardoso de Almeida, 541 - Perdizes (Colégio Santa Marcelina); 15. Rua Ministro de Godoi, 81 - Perdizes (Centro de Educação Infantil M. M. D. C); 16. Rua Ministro de Godoi, 101 e 109 - Perdizes; 17. Rua Ministro de Godoi, 109 - Perdizes; 18. Rua Dr. Cândido Espinheira, 882 - Perdizes; 19. Rua Dr. Cândido Espinheira, 866 - Perdizes; 20. Rua Dr. Cândido Espinheira, 850 - Perdizes; 21. Rua Dr. Cândido Espinheira, 846 - Perdizes; 22. Rua Dr. Cândido Espinheira, 832 - Perdizes; 23. Rua Dr. Cândido Espinheira, 830 - Perdizes; 24. Rua Turiassú, 566 - Perdizes; 25. Rua Melo Palheta, 37 - Barra Funda; 26. Rua Dona Germaine Burchard, 458 - Água Branca; 27. Rua Dona Germaine Burchard, 418 - Água Branca; 28. Rua Itapicuru, 402 - Perdizes; 29. Rua Cardoso de Almeida, 520 - Perdizes; 30. Rua Minerva, 156 - Perdizes; 31. Rua Dr. Homem de Melo, 786 - Perdizes; 32. Rua Itapicuru, 381 - Perdizes; 33. Rua Monte Alegre, 715 - Perdizes; 34. Rua Dr. Homem de Melo, 446 - Perdizes; 35. Rua Dr. Homem de Melo, 438 - Perdizes; 36. Rua Cardoso de Almeida, 586 - Perdizes; 37. Rua Caiubi, 242 - Perdizes; 38. Rua Cardoso de Almeida, 1.182 - Perdizes; 39. Rua Cardoso de Almeida, 1.538 - Perdizes; 40. Rua Cardoso de Almeida, 1.528 - Perdizes.
Correções
O processo de tombamento de Perdizes no Conpresp indica que o imóvel na Dr. Homem de Melo também pertenceu a Homem de Melo. No local, a indicação é de que pertenceu a Dr. Franco da Rocha, informação também apontada em artigo científico sobre os chalés paulistanos.
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