Baleias e golfinhos começam a passar pelo litoral norte do Estado de São Paulo em sua trajetória para reprodução e atraem a atenção de turistas e pesquisadores. A temporada 2024 de avistamento dos cetáceos seria lançada oficialmente na quarta-feira, 29, em Ilhabela, mas foi adiada devido à previsão de tempo ruim. Mas, os exemplares, isolados ou em grupos, já vêm sendo avistados desde o final de abril.
A espécie mais frequente é a baleia jubarte, que nesta época está viajando da Antártida, no extremo sul do globo, para as águas quentes do arquipélago de Abrolhos, no sul da Bahia.
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Na temporada passada, em 2023, houve 787 registros de avistamentos de jubarte, um recorde desde que os registros foram iniciados em 2018, segundo o Projeto Baleia à Vista, que pesquisa e acompanha os cetáceos. No ano anterior, tinham sido 178 e, em 2021, foram 214.
- A temporada vai de abril a outubro, mas o pico de avistamentos acontece nos meses de junho e julho – no ano passado, os dois meses tiveram 70% dos registros
De acordo com o pesquisador Julio Cardoso, coordenador do projeto, a primeira jubarte do ano foi avistada no dia 12 de abril, no mar de Ubatuba, pelo navegador Jefferson Ramiro, com seu barco Mestre Arildo.
O mesmo cetáceo foi visto no dia seguinte pelo marinheiro Fabio França. Já no lado sul de Ilhabela, o primeiro avistamento de uma jubarte aconteceu no dia 21 de abril.
“Em Ilhabela e São Sebastião, temos um grupo de voluntários e parceiros que fazem os registros das jubartes e nos ajudam com as fotos e a identificação”, disse. O grupo inclui operadoras de turismo (veja serviço dos passeios ao fim da reportagem).
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Baleias juvenis buscam alimento no litoral paulista
O que chama a atenção este ano é a presença de baleias muito jovens no litoral paulista. “Pudemos identificar três novas jubartes, todas juvenis, que seguiam rodando desde o final de abril em uma área de aproximadamente 30 km ao longo da costa sul de São Sebastião, entre as praias de Guaecá, Toque-Toque, Camburi e Boiçucanga”, disse Cardoso.
São jubartes “pequenas”, com cerca de 7 metros de comprimento, que nasceram no ano passado, após uma gestação de 11 meses, segundo ele. ”Chamamos de yearlings (potrinhas, em inglês), baleias que provavelmente desmamaram há pouco tempo e estão em busca de alimentação para poder se desenvolver. Elas estão aprendendo a se alimentar sozinhas”, explicou.
Quando adultas, elas podem chegar a 16 metros e pesar 40 toneladas, por isso estão sempre à procura de alimentos.
- As baleias jovens são naturalmente mais magras, pois ainda não desenvolveram a reserva de gordura das adultas, que conseguem fazer toda a migração praticamente sem se alimentar
- As mais novas ainda precisam crescer e treinar para acompanhar as adultas
“Elas ainda não estão maduras para a atividade sexual e reprodutiva, por isso nem devem seguir adiante (até Abrolhos). Provavelmente, essas baleias vão retornar daqui para Antártida”, disse.
As baleias juvenis foram batizadas pelos “padrinhos”, os primeiros a fazerem os registros. Os exemplares foram fotografados e filmados durante 15 dias seguidos, nadando e se alimentando.
Segundo o pesquisador, com a abertura da pesca do camarão no dia 1º de maio, a frota de barcos com redes de arrasto estava no mar da região. Com isso, ele acredita que o alimento ficou mais disponível para as baleias. Os novos exemplares já entraram no catálogo da Happywale.org, que tem registros de mais de 100 mil baleias de todo o mundo.
Elas também entraram no catálogo do Projeto Baleia à Vista, que já registrou com fotos 532 baleias jubartes, além de exemplares de outras espécies, como a baleia-de-bryde, que não migra, por isso raramente aparece em nosso litoral.
Das jubartes, 54 foram avistadas mais de uma vez, inclusive em outros locais do oceano. “Dessa forma, nós conseguimos saber o roteiro delas, por onde costumam passar”, disse Cardoso.
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Uma das jubartes jovens, avistada por Marcos Cara, foi batizada como Melina. Entre o dia 29 de abril e 15 de maio, ela foi vista sete vezes próximo de Ilhabela.
Já a Ticonha, batizada por Rafael Mesquita, foi flagrada interagindo com uma aglomeração de centenas de raias ticonhas, daí seu nome. Ela foi reavistada cinco vezes desde o dia 4 de maio. O navegador Gabriel Santos registrou e batizou uma terceira baleia jovem avistada como Pepe Indaiatuba.
Conforme o pesquisador, não dá para saber quanto tempo elas ficam na orla do litoral norte paulista, antes de seguir para o sul.
“O fato de terem ficado ao menos 20 dias na área, permitindo vários registros de seu comportamento, se movimentando em busca de alimentação, é algo importante, pois ajuda a ciência a conhecer mais sobre as jubartes que frequentam nosso litoral”, disse.
Quais são as regras ao avistar baleias?
Em Ilhabela, a prefeitura promoveu oficinas de boas práticas para treinar os profissionais das empresas que vão receber e transportar turistas para os pontos de avistamento.
As equipes em terra foram orientadas para conhecer o conjunto de regras que devem ser seguidas pelas marinas, marinheiros, tripulantes e proprietários de embarcações envolvidas com esse segmento de turismo no mar.
Uma parceria entre a prefeitura e o Viva Instituto Verde Azul para levar atividades de educação ambiental às escolas municipais de Ilhabela adotou como tema, este ano, a diversidade de baleias e golfinhos que ocorrem na região. Cerca de 6 mil alunos, entre eles moradores de comunidades tradicionais e caiçaras, aprendem os cuidados e boas práticas para observação e conservação dos cetáceos.
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Conforme o instituto, as regras para observação das baleias são definidas por leis e portarias do governo federal e valem para toda a costa brasileira.
A lei prevê pena de dois a cinco anos de prisão, além de multa, para pesca ou qualquer forma de molestamento intencional de toda espécie de cetáceo no País. A portaria do Ibama que regulamenta a legislação proíbe a aproximação com o motor do barco engrenado a menos de 100 metros de qualquer baleia.
Para evitar o descumprimento das normas, as prefeituras de Ilhabela e São Sebastião recomendam que os turistas busquem operadores autorizados e sigam à risca as orientações.
Regras:
- Não persiga as baleias e golfinhos
- Mantenha distância de 100 metros
- Não separe animais do grupo
- Não encurrale as baleias
- Não faça barulho
- Não jogue objetos na água
- Não mergulhe com baleias
- Não permaneça mais de 30 minutos nas proximidades
- Drones somente acima de 100 metros
Como visitar: veja serviço
Os passeios para avistar baleias e golfinhos em São Sebastião e Ilhabela acontecem todos os dias da semana, desde que as condições do mar e do clima permitam navegar com segurança. As embarcações saem da Praia do Perequê, em Ilhabela, e da Praia de São Francisco, em São Sebastião, a depender da operadora. O percurso pode se estender por até 40 km no mar.
Os preços variam de R$ 220 a R$ 600, conforme o tempo, com direito a água, sucos e frutas. Barcos de passeios longos oferecem refeições a bordo. Como a demanda é alta neste período, é preciso reservar. Os passeios duram de três a oito horas, com partidas às 9h e 14 horas (passeios mais curtos) e 8h e 9h30 (os mais longos).
Antes do embarque, é feita uma preleção aos turistas, explicando as regras para observar baleias. Eles são alertados de que, eventualmente, podem não ter contato visual com algum cetáceo, mas isso é raro. No ano passado, mais de 90% dos passeios encontraram baleias.
Na falta desse animal, os turistas podem observar golfinhos, tartarugas marítimas e aves aquáticas, muito abundantes na região. Os turistas que fotografam as baleias podem compartilhar o registro em um catálogo online que é colocado à disposição de pesquisadores da vida dos cetáceos.
Veja algumas das empresas que ofertam o serviço:
- Maremar Turismo – (12) 3896-3679/1783 – Todos os dias. Duração: 4 horas. Valor: R$ 400 por pessoa. Inclui água, suco e frutas.
- Bellamare – (12) 99701-8469 – Todos os dias. Duração: 3 horas. Valor: R$ 300 (flex boat) e R$ 220 (lancha). Inclui água e cooler.
- Capitão Ximango – (12) 97405-4066 – Sexta, sábado e domingo. Duração: das 8 às 16 horas. Valor: R$ 380 por pessoa com almoço incluso.
- Captain Hook Juquehy – (11) 98381-3281 – Sexta, sábado e outros dias com turmas fechadas. Duração: 4 horas. Valor por pessoa: R$ 400. Inclui água.
- Mar e Vida Eco Trip – (12) 99654-5378 – Todos os dias, menos às quartas-feiras - Duração: 3 horas. Valor: R$ 350 por pessoa. Inclui água e refrigerante.