PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Histórias de São Paulo

Debate paulistano: dar descarga no número um ou no número dois?

PUBLICIDADE

Milhões de cidadãos paulistanos, contribuintes arrochados de casa em casa pela cobrança de IPVA, IPTU, ISS, Cide, IR, INSS, tarifa de luz, ICMS - além da chuva de radares nas ruas, dos assaltantes, das árvores podres, dos black blocs -, vivem agora sob a ameaça da falta de água, mesmo tendo pago regiamente as taxas da Sabesp. Em dias tão desoladores, é bom dar uma lida principalmente no capítulo "Lugares da sociabilidade escrava: bicas e chafarizes", da historiadora Maria Helena P. T. Machado, no volume 2 de História da Cidade de São Paulo - a cidade no império1823 - 1889.

PUBLICIDADE

É uma maravilha!

Está lá. A história da seca de 1875, origem do famigerado Sistema Cantareira, fundado em 1877, quando a turma ficou sem água e uma canalização salvou a cidade. Naquele tempo, a população vivia das bicas e chafarizes.

Havia chafariz do Chá, da Pólvora, do Miguel Carlos, dos Quatro-Cantos, a bica do Acu, o tanque do Zunega, e o chafariz do Piques."(...) aos chafarizes acorriam os escravos, forros e os pobres em geral, produzindo, em seus entornos, uma sociabilidade menos vigiada (...) sobretudo em épocas de seca, como a de 1875, quando a rotina de munir as residências de água tornou-se tarefa quase impossível", escreve a historiadora.

Bom, em se sabendo que na metade do século 19, quando a cidade tinha não mais do que 30 mil habitantes (em 1854 havia 23.834 moradores, 7.068 deles eram escravos), já havia preocupação com secas por aqui, que prejudicavam o abastecimento do que a escritora chama de "precioso líquido" para "lavar a roupa, dessedentar as bestas que atravessavam a cidade", matuto de 2015 fica pensando como, passados 160 anos e com pra lá de 11 milhões de pessoas bebendo e se banhando, os fornecedores da água encanada - e os governantes que os chefiam - não enxergaram o perigo da escassez rondando as torneiras de todo esse povo?

Publicidade

Pode isso?

Pode, claro. Tanto pode que hoje, aos milhões dos sem-bicas esfolados por impostos resta se sociabilizar, como os escravos dos 1800, em torno de canecos, baldes e cisternas. E ali discutir, terrível dilema, o que fazer - e como fazer - com o pipi da madrugada.

Não há outro assunto na cidade!

O momento nem é de procurar identificar o responsável pelo caos da falta de planejamento e o desgoverno na crise hídrica do estado (que, certamente, não é o São Pedro).

Na verdade, a grande preocupação do povo nestes dias de janeiro na maior cidade do país, capital do estado mais rico da federação, é a seguinte: vamos dar a descarga no número um ou no número dois?

Publicidade

Cadê Antonio Prado e Washington Luís? Cadê o Arthur Neiva? E o dr. Geraldo (Geraldo de Paula Souza,claro)?

Como não temos mais rábulas como Xavier da Silveira e Luís Gama para enfrentar poderosos na Justiça e não podemos nem contar com o juiz Moro ou com o Joaquim Barbosa (eles não são de São Paulo), parece mesmo que vamos voltar ao mundo dos penicos e comadres. Tempos do escravo Piteco, o desastrado limpador de latrinas da cidade.

 

 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.