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Novos prédios do centro de SP já nascem com guarita blindada e ‘esconderijos’ para carros de app

Medidas buscam garantir proteção para quem escolhe morar em uma região marcada pelo espalhamento da Cracolândia, além de roubos e furtos de celulares

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Foto do author Gonçalo Junior
Atualização:

Os novos condomínios do centro de São Paulo já incluíram a preocupação com a segurança na arquitetura dos projetos. Em uma área marcada por saques em mercados e farmácias, além de roubos frequentes pela gangue das bicicletas, os prédios já nascem com guaritas blindadas e “esconderijos” para carros de aplicativos. Também são criadas diferentes etapas de acesso para moradores, visitantes e entregadores. O reforço na iluminação das portarias é outra necessidade, para evitar emboscadas de criminosos à noite.

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Como o Estadão mostrou, a região tem visto uma alta de obras e novos empreendimentos, apesar do espalhamento dos usuários de drogas da Cracolândia e da alta de assaltos nas ruas. Os novos empreendimentos, que atraem público diverso, têm piscinas, espaços gourmet, áreas para pet e academia.

As guaritas blindadas são comuns nos novos endereços para facilitar a atuação dos agentes de segurança em caso de invasão ou tentativa de roubo. Estão presentes, por exemplo, nos dois empreendimentos da Setin na Praça da República. Tanto em um prédio com estúdios quando na obra ainda em construção, com acabamento de alto padrão e unidades que custam cerca de R$ 1,5 milhão.

À esquerda, a guarita blindada do Setin Downtown República, localizado na Praça da República, centro da capital paulista  Foto: Werther Santana / Estadão

Essas salas possuem vidros, portas e passa-volumes protegidos. “A proteção se inicia na portaria. Se o porteiro sabe que está protegido e está orientado a acionar a polícia ou empresas de segurança, ele evita a invasão”, afirma Gutto Pinesi, presidente da Câmara de Blindagem Arquitetônica da Associação Brasileira de Blindagem (Abrablin).

O nível de proteção balística mais comercializado hoje tem vidros mais espessos que os comuns, com cerca de 38mm (ou 3,8cm), específico para a linha arquitetônica e capaz de suportar, segundo os fabricantes, disparos de todas as pistolas de mão até a magnum 44. Pinesi compara essas características ao nível de proteção de um carro blindado.

No condomínio Helbor Urban Resort, na Santa Ifigênia, a blindagem está presente até na porta e gaveta de passagem de objetos. Ali, a fachada tem vidros escuros que não permitem ver o interior do edifício.

“Aprendemos a ter cautela ao circular na região, evitando expor celular, cartões e documentos pessoais. Dentro do nosso prédio, onde a vigilância é mais efetiva, encontramos mais conforto e segurança”, afirma a síndica Daniela Caetano, 44 anos, mais de um terço deles vividos na região.

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“A segurança e o policiamento nunca foram pontos fortes do centro, mas não me sentia insegura. Agora enfrentamos constantes assaltos e a presença de dependentes químicos se tornou cada vez mais frequente”, acrescenta

Guaritas ou salas de segurança são tratadas com discrição pelas equipes. O Estadão não conseguiu autorização para mostrar o interior das salas - só o lado externo. Pinesi explica que a procura pela blindagem tem sido grande não só no centro, mas em outros bairros. Ele estima crescimento de 25% no mercado de blindagem residencial em São Paulo no último ano.

Controle de acesso é uma das preocupações dos condomínios no centro de SP, como o Helbor Urban Resort, na Praça Julio Mesquita Foto: Taba Benedicto/Estadão

Acesso de visitantes exige cuidados

Além das guaritas superprotegidas, os prédios dedicam atenção especial ao acesso de visitantes. A maioria dos prédios adota o sistema de clausura, geralmente constituído por dois portões. Para uma porta abrir, a anterior tem de estar fechada. O objetivo é criar um espaço confinado, em que a pessoa fica isolada para checagem das condições de segurança.

No Today Centro, na Rua Brigadeiro Tobias, bem no centro histórico, a clausura foi “projetada com especial atenção”, diz Hubert Carvalho, diretor de Incorporação da Canopus. O edifício oferece apartamentos de um ou dois quartos, de 29m² a 39m².

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Nos prédios da Setin, são três clausuras: uma para o morador, outra para os serviços de delivery e uma adicional para visitantes. “São entradas diferentes, para diferentes tipos de uso, para que ninguém precise ficar esperando na rua para entrar”, explica Eduardo Pompeo, diretor de Incorporação da Setin. A empresa possui oito prédios na região central.

A preocupação com a segurança orienta até mudanças estruturais. Os três lançamentos que a incorporadora Mundo Apto prevê para o centro nos próximos meses, na Praça da Sé, Avenida Rio Branco e Parque Dom Pedro, têm áreas recuadas na entrada do prédio para quem chega com carros por aplicativo. É um espaço mais seguro para estacionar, evitando que o morador ou visitante fique exposto quando desce do carro. Também busca trazer maior segurança para os próprios motoristas.

prédios cracolândia Foto: Estadão

A mudança exemplifica a preocupação com o que acontece no entorno do prédio, no caminho do morador até o endereço. “Nossos perímetros recebem barreiras físicas, como muros e gradis, além de iluminação com sensores de presença”, diz Luiz Armando Fairbanks, CEO da Mundo Apto.

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“Nas áreas onde nossos vizinhos são praças e parques, instalamos holofotes nos muros com sensores fotoelétricos. Assim, as áreas estão sempre sendo iluminadas quando anoitece. Nossos moradores precisam se sentir seguros ao entrar e sair do condomínio”, afirma.

Ali, existe infraestrutura para futuras instalações de portarias remotas, que são capazes de substituir a presença física de um porteiro por meio do gerenciamento à distância por meio de câmeras de monitoramento.

Moradores rateiam instalação de refletores

Há adaptações que são implementadas pelos próprios moradores. No condomínio Helbor Urban Resort, na Praça Júlio Mesquita, o mesmo da guarita blindada, os moradores fizeram um rateio para instalar seis refletores para melhorar a iluminação nas entradas principais. O objetivo é tornar mais segura a chegada à noite, quando diminui o movimento nas ruas.

O violinista Bruno de Luna, de 37 anos, mora no condomínio e tem uma rotina de ensaios da Orquestra Sinfônica no Theatro Municipal. Na ida, faz o percurso a pé, gastando oito minutos contados no relógio – ele não pode se atrasar.

Violinista vai a pé ao Theatro Municipal, mas não tem coragem de caminhar pelo mesmo trajeto à noite  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Já no retorno, o músico acha o percurso perigoso e prefere garantir proteção a si próprio e a seus instrumentos. “Na hora de voltar do ensaio, que termina às 10h da noite, pego carona, carro de aplicativo ou até um ônibus, que são só dois pontos até em casa.”

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