BRASÍLIA e SÃO PAULO – O Ministério da Saúde divulgou neste sábado, 21, que o Brasil já contabiliza 18 mortes pelo novo coronavírus no País. Ao todo, o Brasil tem 1.128 casos confirmados da doença. O governo afirma que, a partir de agora, não serão mais apresentados os casos suspeitos dado que já há transmissão local no País. São Paulo concentra o maior número de óbitos, 15, e de casos suspeitos, 459. Na sexta-feira, de acordo com o ministério, eram 11 mortes no País. A taxa de letalidade, de acordo com a pasta, é de 1,6%.
O secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo Reis, afirmou que, por enquanto, a taxa de letalidade global do novo coronavírus gira em torno de 3,4%, mas ainda é cedo para comparar esse dado à situação do Brasil pois, de acordo com ele, o País tem poucos casos registrados até o momento.Segundo Gabbardo, "estamos muito longe da curva [de evolução] da Coreia, estamos um pouco acima da Alemanha e abaixo da Itália."
O secretário-executivo fez ainda um apelo para que a população faça sua parte para conter o avanço do novo coronavírus no País. Na avaliação dele, não se deve esperar que apenas o poder público adote ações para impedir a evolução da doença. Gabbardo pediu a todos que fiquem em casa como forma de proteger a própria família, principalmente os mais velhos. “Estamos chegando em um momento difícil. Todos nós temos que ter uma decisão e um engajamento pessoal”, afirmou. “Cada um de nós terá que fazer sua parte, com calma, tranquilidade. Não adianta ter pânico.”
Ele também reforçou o apelo para que as pessoas passem mais tempo em casa e evitem ficar nas ruas. “Isso vai diminuir a velocidade de evolução da doença”, disse.
Gabbardo afirmou que o governo está expandindo o número de leitos de UTI antes que a doença se espalhe. “Estamos usando hoje 10 ou 15 leitos, temos 55 mil. Conseguimos adquirir insumos, máscaras, equipamentos de proteção individual. Distribuímos 20% do estoque para Estados e municípios, temos 80% ainda e vamos distribuir gradativamente, conforme a necessidade”, acrescentou.
De acordo com Wanderson Kleber de Oliveira, secretário de Vigilância em Saúde, o número de casos e óbitos ainda não está representando a realidade da epidemia que o Brasil está vivendo. Oliveira também falou sobre como se dá o quadro da doença no País. "A maioria absoluta dos casos está em cidades com mais de 500 mil habitantes. Em cidades menores, são sempre casos relacionados a viagens. Então, temos uma epidemia muito concentrada em grandes centros", afirma.
Gabbardo afirmou que todos os países terão problemas no enfrentamento do novo coronavírus e que, no Brasil, não será diferente. “Algumas características nos ajudam, outras nos prejudicam. Mas neste fim de semana, vamos mostrar cada um de nós fazendo a sua parte, as cumprindo recomendações.” Ele disse que a velocidade de evolução da doença está na mão de cada um e que toda a comunicação do País – seja do governo, seja da imprensa – está direcionada para o combate ao novo coronavírus.
“O número de casos, óbitos e internações pode estar na nossa mão, se cada um fizer sua parte para reduzir”, afirmou. “Esperamos que a população entenda que cada medida de precaução não é apenas para si mesmo, mas principalmente para a sua família, para os de mais idade, e para o seu próximo. E esperamos que seja por pouco tempo.”
Remédios
Gabbardo afirmou também que a produção dos remédios hidroxicloroquina e azitromicina pelas Forças Armadas, como anunciou mais cedo o presidente Jair Bolsonaro, já é feita no Brasil, tanto no laboratório das Forças Armadas quanto em instituições como a Fiocruz.
Ele afirma que o presidente autorizou a ampliação de produção dos medicamentos para disponibilização a pacientes graves do coronavírus, reforçando que esse tipo de tratamento ainda é feito de forma experimental e a nova leva disponibilizada será para reforçar os testes.
De acordo com o governo, na próxima semana, serão recebidos 5 milhões de testes rápidos. Com isso, serão realizados novos exames em casos não considerados graves.
Análises
O médico Naomar Almeida Filho, professor de epidemiologia do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA), alerta a subnotificação de casos deve tornar a taxa de letalidade no País superestimada. Neste sábado, com 1.128 infecções confirmadas e 18 mortes, a letalidade do coronavírus no Brasil ficou em 1,6% – mas deve ser mais baixa, segundo os especialistas, já que o número de casos real é maior.
"Prossegue a tendência de ascensão rápida, como era esperado", disse o professor, sobre os números divulgados neste sábado. "O Brasil tem uma das epidemiologias mais bem desenvolvidas do mundo. Depois de Estados Unidos e Reino Unido, estamos nessa faixa de competência junto a países europeus que agora estão no epicentro da pandemia."
Para Almeida FIlho, no entanto, a comparação dos dados na epidemia brasileira com outros países será difícil, já que a capacidade de realizar de testes tem variado no mundo. Ele sugere que pesquisadores e o governo façam um "estudo epidemiológico tipo fast-track" para identificar detalhes da população mais afetada pelo vírus, e estimar a subnotificação.
"Microindicadores de morbidade, internos à população afetada por um problema de saúde como a infecção por coronavírus, são muito úteis para planejamento e alocação de recursos", ele diz. "Aí deixaremos de depender de análises de riscos feitas em outros países, com perfis demográficos totalmente distintos, em outros contextos."
Já o professor Bernardino Alves Souto, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), considera que as autoridades brasileiras demoraram para implementar medidas de restrição. Ele diz que a curva ascendente dos casos confirmados no Brasil é semelhante à situação de países na Europa. "Quando se começa a agir tarde, quase não se tem mais o que fazer", diz Alves Souto. "Enquanto a taxa de crescimento for positiva, a epidemia ainda está em ascensção. Quando a taxa de crescimento é menor do que no dia anterior isso é um alento, mas essa redução tem de ser sustentada, não pode ser só de um dia para o outro."
Veja a distribuição dos casos pelo País
REGIÃO NORTE:26 casos confirmados - 2.3% do total do País Acre: 9 Amazonas: 11 Amapá: 1 Pará:2 Rondônia: 1 Roraima: nenhum caso Tocantins: 2
REGIÃO NORDESTE: 168 - 14.8% Alagoas: 7 Bahia: 41 Ceará: 68 Maranhão: 1 Paraíba: 1 Pernambuco: 30 Piauí: 4 Rio Grande do Norte: 6 Sergipe: 10
REGIÃO SUDESTE: 642 casos - 56.9% Espírito Santo: 26 Minas Gerais: 38 Rio de Janeiro: 119 (3 óbitos) São Paulo: 459 (15 óbitos)
REGIÃO CENTRO-OESTE: 138 casos - 12.2% Goiás: 20 Mato Grosso do Sul: 16 Mato Grosso: 2
REGIÃO SUL: 154 casos - 13.7% Paraná: 43 Santa Catarina: 51 Rio Grande do Sul: 60
Receba no seu email as principais notícias do dia sobre o coronavírus.