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Clima mais quente pode diminuir, mas não impede transmissão do coronavírus

Regiões com temperaturas médias acima de 18ºC representam menos de 6% dos casos globais

Por Knvul Sheikh e Ernesto Londoño
Atualização:

As comunidades que vivem em locais mais quentes parecem ter uma vantagem comparativa para retardar a transmissão de infecções por coronavírus, de acordo com uma análise inicial de cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA. Os pesquisadores descobriram que a maioria das transmissões de coronavírus ocorreu em regiões com baixas temperaturas, entre 3°C e 17°C.

Enquanto países com climas equatoriais e no hemisfério sul, que acabaram de sair do verão, relataram casos de coronavírus, regiões com temperaturas médias acima de 18°C representam menos de 6% dos casos globais até agora. "Onde quer que as temperaturas estivessem mais baixas, o número de casos começou a aumentar rapidamente", disse Qasim Bukhari, cientista computacional do MIT e coautor do estudo. "Você vê isso na Europa, mesmo com os serviços de saúde entre os melhores do mundo".

Turistas tomam sol na praia de Jumeirah, em Dubai, mesmo com casos confirmados do coronavírus nos Emirados Árabes. Foto: Giuseppe Cacace/AFP

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A subordinação à temperatura também é clara nos Estados Unidos, disse Bukhari. Estados do sul, como Arizona, Flórida e Texas, tiveram um crescimento mais lento do surto em comparação com Estados como Washington, Nova York e Colorado. Os casos de coronavírus na Califórnia cresceram a uma taxa que varia entre os dois cenários.

O padrão sazonal é semelhante ao que os epidemiologistas observaram com outros vírus. Deborah Birx, coordenadora global da resposta ao HIV nos Estados Unidos e também diretora da força-tarefa do governo Trump contra o coronavírus, disse durante uma recente entrevista que a gripe, no hemisfério norte, geralmente segue uma tendência de novembro a abril.

Os quatro tipos de coronavírus que causam o resfriado comum todos os anos também diminuem com o clima mais quente.

Temperaturas mais altas podem tornar esse vírus menos eficaz, mas a transmissão menos eficaz não significa que não há transmissão

Qasim Bukhari, cientista do MIT

Deborah também observou que o padrão era semelhante à epidemia de Sars em 2003. Mas ela enfatizou que, como os surtos de vírus na China e na Coreia do Sul começaram mais tarde, era difícil determinar se o novo coronavírus seguiria o mesmo curso. A possível correlação entre casos de coronavírus e clima não deve levar as lideranças políticas e o público à acomodação. "Ainda precisamos tomar fortes precauções", disse Bukhari. "Temperaturas mais altas podem tornar esse vírus menos eficaz, mas a transmissão menos eficaz não significa que não há transmissão."

O fato de a transmissão local estar ocorrendo no hemisfério sul sinaliza que esse vírus pode ser mais resistente a temperaturas mais quentes do que a gripe e outros vírus respiratórios. É por isso que as autoridades da Organização Mundial da Saúde (OMS) ainda insistem que os países ajam com urgência e agressividade para tentar conter o vírus enquanto os números de casos são relativamente baixos e aqueles que mantiveram contato podem ser facilmente rastreados e colocados em quarentena.

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"Um dos grandes perigos em assumir que o vírus é menos perigoso em temperaturas mais altas, entre idades específicas ou para qualquer grupo específico é a complacência", disse Julio Frenk, médico que atuou como ministro da Saúde no México e agora é presidente da Universidade de Miami. "Se as pessoas não atenderem às advertências e recomendações dos profissionais de saúde pública, os resultados serão desastrosos."

Mas como a alta umidade e o calor só se alinham perfeitamente durante principalmente julho e agosto em algumas partes do hemisfério norte, Bukhari alertou que os efeitos do clima mais quente na redução das transmissões podem durar apenas um breve período em algumas regiões. "Isso sugere que, mesmo que a propagação do coronavírus diminua com a umidade mais alta, seu efeito seria limitado para regiões acima de 40 graus ao norte, o que inclui a maior parte da Europa e da América do Norte", disse ele.

E como sabemos ainda tão pouco sobre ele, ninguém pode prever se o vírus voltará com tamanha ferocidade no outono. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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