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Ministro da Saúde defende aumento de preços do cigarro para controlar tabagismo

Pasta trabalha com um cenário de uma majoração de 50%; pesquisa indica queda de 35% no número de fumantes entre 2006 e 2016

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A prática de adicionar substâncias que conferem sabor e aroma ao produto foi proibida pela Anvisa Foto: AFP

BRASÍLIA - O ministro da Saúde, Ricardo Barros, defendeu nesta terça-feira, 29, o aumento dos preços de cigarros como uma medida para se tentar controlar o tabagismo no País. A pasta trabalha com um cenário de uma majoração de 50%. Além da elevação dos preços, Barros disse ser favorável a uma mudança nas embalagens do produto, consideradas como uma alternativa da indústria para propaganda. 

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A ideia, que há tempos está em avaliação na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é adotar embalagens genéricas, padronizadas para todas as marcas. O ministro, no entanto, observou que as mudanças fazem parte de uma discussão que está em curso no governo e que qualquer alteração depende de um consenso entre os demais integrantes da equipe. "Faz parte da pauta, é uma questão de governo, interministerial. Tudo tem seu tempo. Mas estamos tentando avançar mais nessas ações."

Barros admitiu que um eventual aumento de preços poderia provocar um efeito colateral não desejado, o aumento do contrabando. Medidas para tentar reduzir esse risco, afirmou, estão em análise por um grupo do Mercosul. Os resultados obtidos até o momento, no entanto, não são animadores. Na última reunião entre ministros da saúde do bloco para discutir o tema, afirmou, não houve consenso.

Projeções feitas pelo Ministério da Saúde indicam que um eventual aumento de 50% no preço dos cigarros poderia evitar em 10 anos 136,5 mil mortes, 507 mil enfartes do miocárdio, 100 mil acidentes vasculares cerebrais e 64 mil cânceres. 

Recomendada pela Organização Mundial da Saúde, a elevação de preços de cigarros no Brasil enfrenta dura resistência, sobretudo de produtores que afirmam que a medida poderia levar ao aumento do contrabando. A pesquisadora do Instituto Nacional do Câncer, Tânia Cavalcanti, no entanto, argumenta que todos os cigarros, sejam eles legais ou contrabandeados, fazem mal à saúde. E que a elevação do preço traria, sim, uma redução do consumo. Tânia argumenta ainda que o Brasil tem uma lição de casa a fazer: ratificar o protocolo para erradicar o mercado ilegal. A proposta aguarda a avaliação no Congresso Nacional.

Nesta terça-feira, Dia Nacional de Combate ao Fumo, Barros reforçou uma declaração feita em dezembro em favor da resolução que proíbe a adição de produtos que conferem aroma e sabor ao cigarro. A medida, publicada pela Anvisa em 2012 nunca chegou a ser colocada em prática. Em 2013, pouco antes de a resolução entrar em vigor, a ministra do Supremo Tribunal Federal Rosa Weber concedeu uma liminar em uma Ação Direta de Inconstitucionalidade suspendendo seus efeitos. O ministro sugeriu que defensores da luta antitabagista fossem ao gabinete da ministra Rosa Weber como forma de pressão para que o assunto fosse votado rapidamente. "Como eu, que já fui ao gabinete da ministra duas vezes", disse.

A adição de sabor e aroma a cigarros é considerada como uma estratégia da indústria para incentivar a experimentação de jovens ao cigarro. Tânia observa que, desde a suspensão da resolução, a indústria nacional registrou uma série de marcas de cigarro no País com aroma e sabor. O assunto está há tempos para ser discutido no STF, mas rotineiramente é tirado de pauta. 

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O Brasil é considerado como exemplo na luta antitabagista. Uma das medidas mais recentes que trouxeram um impacto para queda de fumantes foi a ampliação da taxação de cigarros, ocorrida em 2011. Números de uma pesquisa feita por telefone conduzida pelo Ministério da Saúde indicam uma queda de 35% do tabagismo entre 2006 e 2016. Um novo levantamento indica também uma queda do fumo passivo no ambiente doméstico. Em oito anos, a queda foi de 42%, passando de 12,7% em 2009 para 7,3% em 2016

Embora os números sejam animadores, há ainda muito a ser feito, indicam especialistas do ministério. Por dia, morrem no País 428 pessoas por doenças relacionadas ao cigarro. "Temos tido um grande sucesso em nível nacional na queda de fumo passivo, mas precisamos focalizar em algumas cidades", afirmou a diretora do Ministério da Saúde, Fátima Marinho. 

Os dados da pesquisa confirmam o alerta. Quatorze Estados apresentam taxas de fumo passivo acima da média nacional. Em Porto Alegre, por exemplo, a taxa de fumo passivo é de 10,4%, mais do que o dobro do que é registrado em Aracaju, capital que apresenta o melhor indicador, que é de 5,1%. 

Fátima observa ainda que o Brasil registra uma média de 155 mil mortes anuais atribuíveis ao tabaco. "Daí a necessidade de se reforçar medidas de prevenção. Isso significa salvar vidas." Além de medidas nacionais, Fátima defendeu a adoção de estratégias específicas em locais onde o tabagismo resiste em cair. 

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O impacto gerado pelo tabagismo se reflete não apenas nos indicadores de saúde, mas nos custos. Dados do Ministério da Saúde indicam que os gastos com assistência médica e perda de produtividade representam 1% do PIB brasileiro. 

Para completar, há ainda um risco entre a população mais jovem. "A experimentação de cigarro entre adolescentes ainda é alta", observa a diretora. Pesquisa mostra que, apesar da queda, 32 mil alunos entre 13 a 17 anos já experimentaram cigarro. "O SUS tem orçamento limitado. Boa parte dos recursos é dirigida para financiar o tratamento das doenças. Se pudéssemos reverter essa lógica e destinar o dinheiro para prevenção, todos sairiam ganhando."

Cigarro eletrônico e narguilé. Tânia Cavalcanti afirmou ser prematuro fazer qualquer afirmação em torno do cigarro eletrônico como uma medida para redução de riscos ao tabagismo. "Ele vem sendo propagandeado como um produto que ajuda a parar de fumar e também como um produto que reduz o dano. Mas esse ainda é um tema que necessita de pesquisa dentro da saúde pública", afirmou a pesquisadora do Instituto Nacional do Câncer. 

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Ela observou que o embora ofereça menos substâncias tóxicas do que os produtos tradicionais, o cigarro eletrônico está longe de ser inócuo. Tânia fez ainda um alerta sobre o narguilé. "Ele é considerado também um derivado do tabaco. É um produto da moda entre crianças e adolescentes, mas ele tem taxas de monóxido de carbono 13 vezes maior do que cigarro, além de teores mais elevados de nicotina e alcatrão."

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