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O perigo do colesterol alto para as mulheres

Taxas elevadas aumentam o risco de doenças cardiovasculares, infarto e AVC também para elas

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Por Novartis
Atualização:
Getty Images 

Anualmente, quase 18 milhões de pessoas no mundo perdem a vida em razão de abalos no coração, acidente vascular cerebral (AVC) – o popular derrame – e outras complicações cardiovasculares.1 Elas são a principal causa de mortalidade globalmente, e no Brasil não é diferente: por aqui, o número de mortes por essas condições chega a 400 mil todo ano.2

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Embora ainda persista o mito de que os homens é que precisam se preocupar com problemas como infarto, especialistas alertam que já não é mais possível ignorar o crescente aumento da incidência desse perigo entre as mulheres.

Elas há tempos assumiram uma rotina intensa de trabalho fora de casa e muitas vezes são a principal ou única fonte de sustento, que se soma às preocupações com o bem-estar da família, gerando a conhecida jornada dupla ou tripla de tarefas diárias. Muitas vezes falta tempo para o autocuidado. Para piorar, elas acabam subestimando a importância de diagnosticar, prevenir e buscar tratamento para evitar o descontrole das taxas de colesterol, um dos principais fatores por trás dos índices de mortalidade cardiovascular.3 Não à toa, entre as brasileiras, as cardiopatias chegam a representar 30% das causas de morte, a maior taxa da América Latina.3

Mulher também precisa cuidar do coração

Apesar de recorrerem mais aos cuidados médicos, elas não estão atentas às patologias cardiológicas

Na comparação com os homens, elas até costumam ser mais ligadas nas questões de saúde e recorrem mais aos serviços médicos. Então o que explicaria o dado da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) de que nas últimas décadas vem aumentando significativamente a proporção de mortes de mulheres por doenças cardiovasculares no País?4

“A mulher não sente esse risco como uma ameaça. Elas habitualmente procuram mesmo mais cuidados médicos que os homens, em geral em consultas com ginecologista a partir da adolescência. Mas a maior preocupação acaba sendo com o câncer, sobretudo o de mama”, diz a cardiologista Maria Cristina Izar, diretora de Promoção e Pesquisa da Socesp. “Só que as doenças cardiovasculares são mais prevalentes e matam mais do que as neoplásicas.”

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“Nas mulheres, a doença coronariana surge, em média, dez anos depois que nos homens”, afirma a cardiologista Lilia Nigro Maia, coordenadora do Socesp Mulher. “Nelas, a mortalidade por doença cardíaca aumenta exponencialmente com a idade”, completa.

Para Maria Cristina Izar, uma das explicações para isso está nas diferentes fases do ciclo hormonal. “A partir da adolescência, acontece uma subida dos valores de colesterol e triglicérides tanto para homens quanto para mulheres, mas elas permanecem com as taxas de HDL, a partícula boa, que carrega o colesterol, sempre um pouco mais alta que eles”, explica. Com a queda hormonal no climatério e menopausa, o LDL, o colesterol ruim, aumenta, e o HDL cai.

“Existe uma relação clara entre colesterol e doença aterosclerótica cardiovascular. Seja nas coronárias, que leva ao infarto, seja nas artérias que se ligam ao cérebro, ocasionando o AVC”, alerta Maria Cristina. “Mas os estudos também evidenciam que usar medicamentos para diminuir as taxas de LDL pode reduzir em mais de um quinto os eventos desse tipo em cinco anos.”

Por isso, a recomendação é que elas façam avaliações periódicas de seu quadro cardiovascular e, sempre que necessário, sejam orientadas a mudar o estilo de vida e fazer uso de medicação para conter o LDL.

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É preciso criar estratégias de prevenção

Ao ser questionada sobre a existência de ações voltadas à proteção do coração da mulher, Marlene Oliveira, presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida, é taxativa: “No Brasil, não temos programas específicos para promoção da saúde, por isso continuamos a administrar doenças”.

À frente de uma organização que tem como objetivo acolher pacientes e atuar por políticas públicas voltadas a doenças crônicas e cardiovasculares, Marlene defende a importância de investir em uma linha de cuidados para a mulher na atenção primária. “As Unidades Básicas de Saúde (UBS) precisam estar preparadas para reconhecer os sinais de problemas cardíacos na população feminina e ter um olhar mais preventivo para essas condições.”

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Nesse contexto, campanhas permanentes de informação são fundamentais para alertar sobre a necessidade de medir precocemente o colesterol. “As diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia recomendam que a avaliação do perfil lipídico deve ser feita a partir dos 10 anos de idade”, diz Maria Cristina Izar. “Quando alguém é diagnosticado com colesterol alto, a família inteira pode ser beneficiada se todos juntos aderirem a medidas preventivas.

Arte Estadão Blue Studio 

​​O efeito das disparidades socioeconômicas no País

Vulnerabilidades, como falta de acesso à saúde e à educação, impactam na mortalidade das mulheres

A doença coronariana decorrente do processo de aterosclerose, o acúmulo de colesterol que prejudica a passagem de sangue pelas artérias, compromete a qualidade de vida das mulheres, podendo gerar incapacitações. “Mas estamos falando de uma condição prevenível. Quanto mais cedo forem identificados e tratados fatores de risco como colesterol, obesidade, diabetes, hipertensão, sedentarismo e estresse, melhores serão os desfechos”, observa Lilia Nigro Maia.

A questão é que, muito além da falta de adesão a uma rotina mais saudável, as desigualdades socioeconômicas precisam ser consideradas nessa equação. Em recente estudo, pesquisadores de instituições dos Estados Unidos analisaram o impacto de quesitos como renda, educação, racismo e discriminação na saúde cardiovascular das americanas.4 De acordo com o documento, as inúmeras barreiras enfrentadas resultam no crescimento expressivo de infartos, derrames e mortes nas populações de risco.

“Não temos dúvidas de que as disparidades afetam ainda mais as brasileiras”, diz a cardiologista Gláucia Maria Moraes de Oliveira, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Alguns trabalhos mostram que determinantes sociais são extremamente relevantes. E que vulnerabilidades como dificuldade de acesso à saúde e à educação impactam grandemente a mortalidade das mulheres, inclusive as mais jovens”, relata.

Esse padrão aparece em pesquisa realizada pelo Grupo de Estudo de Espaço Urbano e Saúde do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA) a respeito da mortalidade por doenças do aparelho circulatório na capital paulista antes e depois da pandemia. Um ponto chamou atenção: o risco relativo de morrer por problemas cardiovasculares foi maior nas periferias das zonas leste, sul e norte da cidade, tanto antes quanto durante a crise da covid-19. E mais: nas regiões de pior condição socioeconômica, morre-se mais jovem em razão desses eventos.

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Enquanto os óbitos entre as mulheres das áreas de baixo risco ocorrem acima de 70% na faixa etária de 75 e mais anos, nas de alto risco o percentual nesse grupo chega apenas a 50%, porque acontecem de forma prematura. “É um fato gritante nas grandes cidades brasileiras, onde se tem camadas sociais muito definidas, como em São Paulo”, pondera Ligia Vizeu Barrozo, coordenadora do estudo. “É necessário criar um diálogo com gestores de saúde para conseguir um olhar mais atento ao papel das desigualdades nessas doenças”, defende a pesquisadora.

Nelas, os sinais do infarto podem confundir

A cena é clássica: um homem com dor aguda no peito irradiando para o braço logo levanta a suspeita de infarto. Na ala feminina, no entanto, os sintomas podem ser mais vagos. “A fisiopatologia da doença coronariana na mulher tem diferença em relação à do homem”, explica Lilia Nigro Maia. “Ela tem aterosclerose mais difusa, com mais evidência na microcirculação. As placas costumam ter menos ruptura e mais erosão”, descreve. Essas alterações, continua a cardiologista, são relacionadas ao risco de morte no longo prazo.

E as diferenças se refletem também nos sintomas do infarto. Elas relatam mal-estar geral, enjoo, cansaço, desconforto nas costas. Daí a probabilidade de se confundir com problema estomacal, gases ou tensão e estresse ocasionados pela correria do dia a dia. “Sem contar que como nós, mulheres, temos a característica de subestimar as próprias dores, aumenta o risco de não recebermos o socorro adequado”, diz Marlene de Oliveira.

“Estudos comprovam que a mulher chega mais tardiamente ao hospital, e a tendência é não conseguir a mesma atenção que o homem. Ela passa por menos cateterismo, recebe menos medicação, e tudo isso aumenta a mortalidade”, lamenta Lilia Nigro Maia.

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