Saiba como prevenir e tratar lesões de corrida

Tênis inadequado, falta de alongamento ou postura errada são falhas a corrigir; importante é não deixar que problemas se agravem

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Por Danilo Casaletti
Atualização:

Atleta amadora há quatro anos, a empresária Andrea Araújo, de 40 anos, já correu sete meias maratonas (21k) e se prepara para correr sua primeira prova de 42k. Com treinos quatro vezes por semana e supervisão de um treinador, Andrea conhece bem seu corpo. Por isso, acendeu o sinal de alerta quando, no começo deste ano, sentiu uma dor persistente no quadril. Após uma consulta com um ortopedista, descobriu que estava com uma tendinite no local.

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“Eu não sentia dores durante a corrida, apenas quando estava em repouso, com o corpo mais frio, eu sentia fisgadas. O corredor está acostumado com dores, mas elas duram alguns dias. Quando essa persistiu por um mês, percebi que havia algo errado”, conta ela, que atribuiu o fato à falta de fortalecimento muscular adequado, prejudicado pela alteração de rotina durante a pandemia. Atualmente, além dos treinos – ela não quer perder a data da prova, no fim do ano – Andrea faz sessões de fisioterapia e fortalecimento de duas a três vezes por semana para se recuperar da lesão. 

“Tenho muitos treinos previstos até o fim do ano. A fisioterapia me ajuda a continuar a treinar. Se eu parasse de correr, provavelmente melhoraria mais rapidamente. Aceitei ter uma melhora mais lenta para não desistir da prova”, diz Andrea, que tomou a decisão com ajuda do médico.

Andreia com a fisioterapeuta no Morumbi: traçar metas, saber a hora certa de voltar aos treinos Foto: Felipe Rau/Estadao

Como em toda atividade física de alto impacto, ou seja, aquelas que produzem maior sobrecarga nos ossos, articulações e músculos, a corrida traz riscos de lesões. E elas estão quase sempre associadas ao treinamento inadequado ou à falta de preparo do corpo.

Luciano Miller, ortopedista e cirurgião de coluna do Hospital Albert Einstein, explica os principais erros dos corredores que podem levar ao aparecimento de lesões. “Estas ocorrem por inúmeras causas, entre elas o uso de tênis inapropriado, falta de alongamento de base, correr na postura errada, ausência de descanso e excesso de treino.”

Derivados dessas incorreções estão os tipos mais comuns de prejuízos: a fascite plantar, que é a inflamação do tecido da sola do pé; a canelite de corredor, um estresse da medial da tíbia ou periostite; e a tendinite de calcâneo ou do tendão de aquiles, igualmente dolorosa; dor fêmoro-patelar, a dor na região anterior no joelho; síndrome do trato iliotibial; dor na lateral do joelho; e a tendinopatia calcanear, a dor na região de trás do calcanhar.

PREPARO MUSCULAR

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Além delas, há o perigo de entorse de tornozelo, sobretudo para quem corre em superfícies irregulares ou esburacadas. E dores de joelhos ou estiramentos para quem não faz um preparo muscular prévio. Miller explica que as lesões podem ter diferentes graus e evoluir quando o esportista não respeita os sinais que o corpo emite. “É preciso entender que, se está doendo, é um sinal de que algo não está bem. Essa é a hora de diminuir a intensidade do esporte e, se a dor for intensa, procurar um profissional de saúde”, explica.

A lombalgia, a popular dor nas costas, em virtude também do excesso de treinos, pode incomodar e afastar o corredor da pista e acarretar problemas mais graves e que requerem um tratamento mais intenso, como o caso das hérnias de disco. 

“A corrida promove o fortalecimento do disco. Porém, para que tem uma condição prévia, se forçar muito, pode ocorrer o agravamento dessa condição. A dica é se preparar para o esporte. Percebo que muitos corredores focam apenas na parte aeróbica e se esquecem da parte muscular”, diz o médico.

O tratamento para lesões da corrida, em geral, inclui repouso, medicação analgésica e fisioterapia. Os casos cirúrgicos, para lesões da corrida, são mais raros. “As lesões da corrida envolvem menos tratamentos cirúrgicos se comparadas às do futebol, por exemplo. Isso porque são causadas por movimentos repetitivos e aumento de impacto – já as lesões no futebol, que podem ser causadas por movimentos com mudança de direção ocorrendo ruptura de ligamentos”, conta a fisioterapeuta Andreia Miana, pesquisadora do Laboratório de Performance do Movimento do Instituto Vita e há 20 anos lidando com corridas.

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De acordo com Andreia, o profissional que vai tratar um corredor precisa avaliá-lo como um todo para então definir qual tipo de tratamento vai adotar. “O fisioterapeuta não deveria avaliar apenas o pé do corredor que está com fascite plantar, por exemplo, e sim fazer uma avaliação mais global dos outros segmentos corporais, pois o corredor não corre apenas com os pés. Joelhos, quadris e coluna precisam ser avaliados para que tenhamos uma visão mais ampla dessa lesão.”

Para quem está em tratamento, um sentimento bastante comum e até legítimo é a ansiedade de saber quando poderá voltar aos treinos e, posteriormente, a uma prova. “É preciso traçar metas junto com o corredor, explicar a duração da reabilitação e fazê-lo enxergar e participar do cenário inteiro até o retorno à corrida”, ensina Andreia. “Dependendo da lesão, se ele não puder correr naquela etapa do tratamento, uma forma de driblar a ansiedade é realizar outra atividade física, como por exemplo o ciclismo.”

PREVENÇÃO

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Quem corre com frequência ou quer cada vez mais evoluir na prática esportiva pode usar a fisioterapia não apenas para tratamento, mas também como uma ferramenta de proteção contra lesões. A empresária Andrea Araújo, que trata de tendinite na região do quadril com a fisioterapeuta Andreia Miana no Instituto Vita, afirma que a fisioterapia ajuda a ter mais consciência corporal. “Junto com o fortalecimento, me dá a segurança de que eu não irei piorar a minha lesão. Mesmo quando já estiver 100%, pretendo continuar com a fisioterapia preventiva, pelo menos a cada 15 dias”, observa.

A fisioterapeuta explica que é possível fazer uma avaliação de capacidade versus demanda do corredor para traçar um plano, saber até onde ele pode ir e, dessa maneira, diminuir os riscos por meio de técnicas e exercícios. A profissional ainda dá outra dica: o fortalecimento dos pés, o chamado footcore. “Segundo um estudo cientifico recente, os corredores que realizaram o footcore mostraram uma taxa 2,42 vezes menor de lesões relacionadas à corrida, em comparação com os corredores que não fizeram os exercícios.”

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BENEFÍCIOS X RISCOS

É importante ressaltar que os benefícios da corrida são maiores do que um risco de lesão. A diminuição do aparecimento de doenças cardiovasculares, controle da pressão arterial e a glicemia, a regulação do sono, a prevenção da osteoporose, trabalhar a musculatura o combate à depressão e o emagrecimento são os principais deles.

“Todo mundo pode correr. Só é preciso saber o limite. Quem tem algum desgaste no joelho ou quadril não deve forçar tanto. Quem está acima do peso precisa fazer um treino mais lento e intercalar corrida com caminhada”, conclui o ortopedista Luciano Miller.

Saiba prevenir e identificar lesões

  • Intensidade

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A dor do exercício é de leve a moderada. A lesão gera um incômodo mais agudo e piora durante ou após a atividade física.

  • Duração

A dor normal do exercício, a muscular, dura, no máximo, três dias. Após isso, pode ser um indicativo de lesão.

  • Aspecto

Fique atento a hematomas ou inchaços no local da dor.

  • Procure um médico

Para identificar qual o problema, o médico deverá fazer a avaliação física inicial, pedir uma radiografia e, se necessário, uma ressonância magnética.

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  • Não force seu corpo demais

É preciso prestar atenção na carga do treino para não forçar o corpo além do que ele pode suportar. Tampouco aumente a carga bruscamente. Isso pode gerar dores e lesões.

  • Tratamento

Em caso de lesão, o tratamento não deve ser isolado, apenas na área específica da dor. É preciso preparar e fortalecer o corpo com um todo para voltar ao exercício.

  •  Fisioterapia além da lesão

A fisioterapia pode ajudar não apenas na recuperação da lesão, mas também para prevenir. O método pode ser usado na preparação do corpo para uma prova, por exemplo.

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