TPM ao quadrado: conheça a forma grave de tensão pré-menstrual que afeta seriamente a vida da mulher

Com sintomas muito mais intensos, quadro pode prejudicar relacionamentos e a rotina profissional; veja como identificar e tratar

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Por Thais Szegö

Se a tensão pré-menstrual normal já é capaz de atrapalhar muito a vida de uma pessoa, imagina se ela for muito mais forte? Essa é a realidade das mulheres que sofrem com o transtorno disfórico pré-menstrual, conhecido pela sigla TDPM, quadro que atinge entre 5 e 8% da população. Assim como a TPM, ele surge entre 10 e 15 dias antes da menstruação e tende a melhorar ou até desaparecer após a descida do sangue.

Os principais sintomas

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Eles envolvem questões físicas, como inchaço em várias partes do corpo, dor de cabeça, fadiga e alterações no sono e no apetite, e emocionais, labilidade emocional acentuada, irritabilidade ou dificuldade para controlar a raiva, tristeza, desesperança, ansiedade intensa, redução do interesse pelas atividades habituais e sentimento de estar sobrecarregada ou fora do controle, por exemplo.

Esses sinais são familiares para quem sofre com TPM, mas, no caso da TDPM, surgem de forma muito mais grave, interferindo de maneira bem marcante na vida da pessoa, podendo levar à redução na produtividade, afastamento do trabalho por dias, dificuldade de ter uma rotina e problemas graves de relacionamento.

Além disso, a TDPM é capaz de tirar a mulher do prumo emocionalmente, a ponto de ser confundida com depressão ou transtorno de ansiedade e, em casos mais graves, pode provocar pensamentos suicidas.

O transtorno disfórico pré-menstrual, conhecido pela sigla TDPM, provoca sintomas de TPM muito mais intensos. Foto: olly/Adobe Stock

Como é feito o diagnóstico

“É importante destacar que para ser dado o diagnóstico de transtorno disfórico pré-menstrual, pelo menos cinco sintomas precisam estar presentes na maior parte dos ciclos menstruais por uma a duas semanas antes do início da menstruação e devem remitir em até poucos dias após o início do sangramento”, diz a psiquiatra Maria Clara Faleiros Maranho, docente do curso de medicina do Centro Universitário Barão de Mauá, em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, que fez mestrado na Universidade de São Paulo sobre mulheres com síndrome pré-menstrual.

As causas do problema ainda não foram totalmente esclarecidas pela ciência. “Acredita-se que estejam ligadas a uma sensibilidade anormal dessas mulheres às variações hormonais características do ciclo menstrual, fatores genéticos e desequilíbrios químicos, mas não existe uma única razão que determine porque algumas são afetadas e outras não”, diz o ginecologista Mauricio Abrão, professor de ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

“Alguns estudos sugerem que há alterações no sistema cerebral onde age a serotonina e que está relacionado ao humor e ao bem-estar”, acrescenta Maria Clara.

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Tratamento

O combate ao transtorno disfórico pré-menstrual envolve múltiplos fatores. É importante ajustar o estilo de vida, apostando em mudanças na dieta para que ela fique bem equilibrada, prática regular de atividade física – especialmente os aeróbicos e os que levam ao relaxamento, como yoga – técnicas de gerenciamento de estresse, meditação e relaxamento, além de psicoterapia.

Também podem ser indicados medicamentos para aliviar os sintomas e antidepressivos, em especial aqueles que são inibidores da receptação de serotonina que aumentam os níveis da substância. “Um estudo muito importante feito na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, apontou que o uso de microdoses de fluoxetina, um antidepressivo desse tipo, na fase pré-menstrual pode ser benéfico”, conta Abrão.

O médico destaca ainda que os contraceptivos hormonais orais também podem entrar em cena para regular os hormônios e combater o desconforto.

Maria Clara acrescenta que vitamina B6, erva-de-São-João, cálcio, óleo de prímula ou gingko biloba até podem ajudar, mas essas estratégias ainda não são cientificamente validadas.

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O mais importante é que cada paciente seja avaliada individualmente por um médico especializado para que possa ser traçado o melhor plano terapêutico para cada caso, levando em consideração as suas peculiaridades.

Licença menstrual

Um projeto de lei complementar aprovado na Câmara Legislativa do Distrito Federal propõe até três dias por mês de afastamento do trabalho para mulheres que comprovarem o agravamento dos sintomas ligados à menstruação.

“Existem também projetos tramitando para favorecer pacientes com endometriose, à luz do que aconteceu na Espanha, o primeiro país ocidental a oferecer licença médica para as funcionárias que sofrem com cólicas menstruais muito fortes, e as que sofrem com tensão pré-menstrual forte podem pegar carona nisso e se beneficiarem”, diz Abrão.

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