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Campeão em prejuízos por desastres naturais, RS sofre com secas e cheias

Estudos constataram que o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná são particularmente atraentes para grandes tempestades. “As mais severas e mais duradouras da América do Sul têm um endereço especial, ocorrem ali", diz o cientista Francisco Aquino, da UFRGS

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Atualização:
Seca histórica em 2004 quebrou a safra de soja no RS. Crédito: Neco Varella Foto: Estadão

O Estado que mais teve prejuízo no Brasil pelos desastres naturais no período de 1995 a 2014 foi o Rio Grande do Sul. Lá as perdas contabilizaram R$ 24,3 bilhões, a maior parte disso na agricultura - R$ 17,2 bilhões. Em uma análise somente deste setor da economia, o Rio Grande do Sul também liderou no levantamento nacional. Em todo o País, os prejuízos da agricultura foram de R$ 82,3 bilhões.

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Estudos em climatologia conduzidos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul constataram que o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná são particularmente atraentes para grandes tempestades. "As mais severas e mais duradouras da América do Sul têm um endereço especial, ocorrem ali", conta o pesquisador Francisco Aquino. Outras pesquisas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) também observaram que no Rio Grande do Sul é onde mais aumenta a quantidade de precipitações.

Mas não só. O Estado também tem sofrido com estiagens severíssimas, como a que ocorreu em 2004 e 2005. De acordo com Aquino, ali é onde mais cresce a variabilidade climática.

O agricultor Antônio Carlos Cassol, que tem uma fazenda em Giruá, na região das Missões (oeste do RS), sentiu no seu cultivo de soja e trigo a instabilidade do clima. Sua saga foi retratada no livro A Espiral da Morte - Como a Humanidade Alterou a Máquina do Clima, do jornalista Claudio Angelo, que aborda as mudanças climáticas a partir dos polos e mostra como o que ocorre nos extremos do planeta têm reflexos sobre todo o mundo. No caso da seca que quebrou a safra de soja no Rio Grande do Sul, há uma influência da redução do manto de gelo na Antártida.

Ao Estado, Cassol contou que em seus 52 anos de vida, nunca viu uma seca como aquela, apesar de já ter se acostumado a ver estiagens de quando em quando. Em 2012, lembra, foram 42 dois dias sem chuva no verão, justamente o período que deveria chover. "Mas nada como em 2004. E depois em 2005 de novo. Não deu tempo de se recuperar. Nestes dois anos as perdas foram próximas a 100%. Foi um período difícil onde nem previsão de chuvas existia", disse.

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Dez anos depois, foi a vez de penar com as fortes chuvas. "Nos anos de 2015 e 2016 as precipitações foram em volumes bem mais elevados, o que acarretou danos de erosão nas lavouras", afirmou.

Aquino e alunos têm tentando entender justamente o que está acontecendo por lá. "Como climatologista, eu diria para o agricultor: o clima mudou e tem de começar a lidar com isso. O que era o comportamento meteorológico tradicional, com as mudanças climáticas está se tornando mais intenso e está diminuindo a chance de ter chuva regular", explica.

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