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Cinco exemplos de como o El Niño tem sido arrasador na América do Sul

O padrão climático perturbador, que ocorre durante muitos meses a cada poucos anos, envolve um aquecimento incomum da água no Oceano Pacífico

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Por Redação
Atualização:

O fenômeno climático El Niño, previsto para estar entre os mais fortes da história recente, tem contribuído para uma série de desastres, de incêndios a enchentes, em todo o mundo.

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Esse padrão envolve um aquecimento incomum das águas no Oceano Pacífico e, muitas vezes, traz uma onda de umidade para áreas normalmente secas e estiagem para regiões úmidas. A mudança climática exacerbou esses extremos, dizem os especialistas.

“Nós pioramos a situação” com as mudanças climáticas, disse Mark Cane, professor de ciências ambientais e da terra na Universidade de Columbia.

A América do Sul foi atingida de forma especialmente dura pelo que Crane chama de “golpe duplo do El Niño mais o aquecimento global”.

Aqui estão cinco maneiras pelas quais o El Niño vem afetando especialmente o continente - incluindo o Brasil.

Botos da Amazônia morrem em massa

Os corpos de mais de 150 botos-cor-de-rosa foram encontrados em águas excepcionalmente quentes no Lago Tefé, na Amazônia brasileira, em setembro quando surgiram alguns dos efeitos mais pronunciados do El Niño.

Os cientistas disseram que a causa não foi imediatamente esclarecida, mas que o calor extremo e a seca provocados pelo El Niño e pelas mudanças climáticas provavelmente foram os culpados. Os níveis de água caíram significativamente e a temperatura subiu.

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Amazonas viu seca recorde em outubro do ano passado Foto: ANTONIO LIMA/SECOM AM

A água quente desorienta os golfinhos, segundo as autoridades federais, e a perda de oxigênio sufoca os animais.

Um estudo da iniciativa World Weather Attribution avaliou que a mudança climática foi a principal responsável pela “seca excepcional” na Bacia do Rio Amazonas. O estudo, divulgado mês passado, constatou que o El Niño e as mudanças climáticas foram igualmente responsáveis pela perda de precipitação, mas que uma “forte tendência de secagem se deveu quase que inteiramente ao aumento das temperaturas globais”.

No fim de 2023, os amazonenses sofreram com a maior seca em 121 anos, o transporte fluvial interrompido, falta de alimentos e remédios, e frequentes nuvens de fumaça em Manaus, causadas pelo recorde de queimadas registrado no Estado. O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) admitiu que não tinha estrutura suficiente para frear o avanço do fogo no bioma.

Incêndios na Colômbia ameaçam planta única

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No alto das montanhas dos Andes colombianos há uma planta chamada frailejón. Crescendo até a altura de um humano adulto, ela é conhecida por sua coroa de folhas felpudas que absorvem a umidade da neblina. A planta transforma a neblina em água que reabastece as bacias hidrográficas.

No entanto, os frailejónes estão em perigo devido a uma temporada de incêndios sem precedentes em partes dos Andes colombianos que normalmente são temperadas, frias e úmidas. As plantas crescem apenas em certas altitudes e levam décadas para amadurecer, o que gera temores de que os incêndios florestais possam dizimar suas várias espécies, que resistiram a anos de outras turbulências no país.

Dengue se alastra no Peru e no Brasil

O Brasil já registrou 653 mil casos de dengue, numa escalada incomum da doença para esta época do ano, que pode indicar uma antecipação do pico das infecções. Até agora, foram confirmadas 113 mortes pela doença e outros 438 estão em investigação.

Desde o fim do ano passado, o Ministério da Saúde brasileiro já avisava que o cenário de 2024 seria preocupante. A estimativa menos otimista da pasta projeta 4,2 milhões de infectados, algo nunca antes visto no País.

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Brasil tem mais de 600 mil casos de dengue e 113 mortes Foto: Wilton Junior/Estadão

O Distrito Federal registra o maior coeficiente de incidência (2.406 casos por 100 mil habitantes), seguido por Minas Gerais (936), Acre (622), Paraná (513) e Goiás (488).

Em número absoluto de casos, Minas aparece no topo, com 192.258 registros, seguido de São Paulo (90.408) e Distrito Federal (67.768).

O El Niño recebeu seu nome no Peru, onde, segundo a história, os pescadores notaram o padrão climático na época do Natal. Eles batizaram o fenômeno de “el niño de la navidad”.

Esse último El Niño foi responsabilizado por alimentar um aumento maciço de casos de dengue entre os peruanos.

As fortes chuvas ligadas ao padrão climático deram uma força extra para a população de mosquitos do país no ano passado, produzindo o maior surto de dengue já registrado no Peru. Mais de 270 mil casos foram registrados, sobrecarregando hospitais. Houve ao menos 381 mortes ligadas à dengue.

Agora as temperaturas mais altas do que o normal criam novamente “ambientes favoráveis para a transmissão da dengue”, disse o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários na sexta-feira. O aumento, segundo a organização, “coincide com as prolongadas ondas de calor induzidas pelo El Niño”.

Incêndios no Chile devastam comunidades

Uma onda de incêndios florestais matou ao menos 131 pessoas este mês, segundo as autoridades chilenas. O presidente Gabriel Boric declarou estado de emergência e o país entrou em período de luto.

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As autoridades investigam as suspeitas de que pelo menos alguns dos incêndios foram provocados intencionalmente. Os especialistas, porém, dizem que as condições quentes e secas provocadas pelo El Niño e pelas mudanças climáticas criaram condições propícias para que os incêndios se espalhassem com tanta facilidade.

Incêndios destruíram vilas em Viña del Mar, no Chile, no início de fevereiro Foto: AP Photo/Esteban Felix - 3/2/2024

Acredita-se que esse tenha sido “o incêndio florestal mais mortal já registrado no Chile”, disse o Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres, “com expectativas de que o número de mortos aumente”. Centenas de pessoas ainda estão desaparecidas.

Seca e enchentes atingem a Bolívia

A Bolívia está “enfrentando uma grave crise devido à combinação de calor intenso no inverno, alimentado pela crise climática e pelo El Niño”, disse o OCHA em memorando em outubro. A seca e o calor excessivo forçaram as autoridades a emitir avisos de calor e alertas para que se tenha consciência do uso da água.

Depois, veio a estação chuvosa. Mas a bem-vinda umidade do mês passado atingiu a terra ressecada, que é menos equipada para absorver a chuva, causando inundações.

O Programa Mundial de Alimentos observou que certos grupos demográficos na Bolívia, como os povos indígenas e as mulheres nas áreas rurais, eram particularmente suscetíveis aos choques causados pela crise climática.

Amir Jina, professor assistente da Universidade de Chicago 9EUA), que pesquisa os impactos socioeconômicos das mudanças no meio ambiente, disse que a mudança climática empurra os limites do El Niño para além dos patamares em que áreas como a agricultura e a segurança alimentar sofrem impactos negativos. /COM THE WASHINGTON POST E AGÊNCIA BRASIL

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