SALTO - Patos, marrecos, garças e mergulhões estão voltando a habitar o Rio Tietê em Salto, a 73 km de São Paulo. Ariranhas e tartarugas, em menor quantidade, também começam a aparecer. O mau cheiro do rio foi quase todo embora, o que tem aproximado mais os moradores das quedas d'água próximas da ponte estaiada - onde foi registrada a mortandade de 40 toneladas de peixe por poluição, três anos atrás. Mas a melhora do ano passado para cá é tímida, a espuma branca ainda cobre a superfície e a população não se arrisca a nadar.
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O Tietê na região entre Itu e Laranjal Paulista, passando por Salto, saiu da condição de rio morto, mas ainda está longe do ideal. Entre 94 trechos analisados em todo o Estado, nenhum ponto apresentou água considerada ótima e apenas seis (5,4%) têm água boa. Os melhores indicadores foram obtidos no trecho metropolitano de cabeceira e de mananciais. Apesar de uma redução de 8 quilômetros na mancha de poluição em relação ao ano passado, o trecho de 122 km mais contaminado representa 11% da extensão do rio. Na comparação com a menor marca histórica de 71 km - alcançada em 2014, durante a crise hídrica -, a poluição ainda está 51 km maior.
Os dados são do projeto Observando os Rios, da Fundação SOS Mata Atlântica, e são divulgados por ocasião do Dia do Rio Tietê, comemorado neste sábado, 22. O levantamento considera as análises feitas no último ano por 1.730 voluntários de 103 grupos de monitoramento.
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O estudo apontou a condição de rio morto - altamente poluído, com índice de qualidade de água péssima e ruim - em 31,3,% dos pontos de coleta monitorados mensalmente na bacia hidrográfica. Essa condição de água imprópria para uso se estende por 122 km, do município de Itaquaquecetuba até Cabreúva. Em Salto, o Rio Tietê saiu da condição de ruim para regular. “Nesse trecho acima da cachoeira voltou a ter explosão de vida. Dá para ver tartaruga, patinho mergulhando no rio...”, diz Malu Ribeiro, especialista em água da SOS Mata Atlântica.
Apesar da melhora, o rio não é aquele Tietê onde o aposentado Fernando Dario, de 80 anos, pulava, nadava, pescava e bebia água. “Eu pulava desta pedra”, mostra Dario, relembrando a juventude. Naquela época, ele mergulhava o chapéu na água e bebia. “Era gostosa, limpinha”, diz ele, que mora a 20 metros do rio. “Estava pior. A espuma era muito mais alta e o mau cheiro, terrível. Já demos um passo.”
Desta ponte, eu via os peixes lá do fundo. Hoje, olha a cor dessa água, olha as garrafas PET ali. É uma judiação.
Fernando Dario, aposentado
A aposentada Ivanete Oliveira, de 47 anos, também mora perto do rio e diz que tem visto mais patos, garças e ariranhas. Segundo ela, em alguns trechos mais afastados do centro há quem pesque. “Mas duvido que tenha coragem de comer.”
O marido dela, o borracheiro Marcelino Martins, de 47, lamenta não poder comer peixe do Tietê desde 1974. “Ainda está um pouco mais limpo. Temos esperança de que um dia a gente volte a nadar e pescar, mas acho que isso vai ficar para os netos”, diz Martins, apontando para Ana Julia, de 1 ano.
Futuro
O presidente do Grupo de Escoteiros Taperoá, Silvio Ferreira, responsável pela qualidade da água em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica, diz que a ideia é exatamente resgatar a médio prazo as possibilidades de pesca e nado do rio. “À tarde já temos uma revoada de cerca de 200 garças brancas no rio. Não está pior do que antes, mas sabemos que pode melhorar bastante.”
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Segundo Malu Ribeiro, a redução de 8 quilômetros de rio morto, que recuperou condições de qualidade da água, é reflexo das 8 toneladas de esgoto que diariamente deixaram de ser lançadas, sem tratamento, nos afluentes do Tietê. Isso se deu com a ampliação da Estação de Tratamento de Esgotos de Barueri, que passou a tratar 12 m³/s de esgotos, de 5,8 milhões de pessoas (o equivalente a duas Campinas). “Esperávamos que a água entre Salesópolis e Itaquaquecetuba estivesse com condição boa, até próximo do Parque Ecológico do Tietê. Mas talvez por questões climáticas, por ter chovido menos, há um volume menor de água, o que dificulta a diluição de poluentes.”
Em ato, ONG instala privada
A SOS Mata Atlântica instalou nesta quinta-feira, 20, nas imediações do Rio Tietê na altura da Casa Verde, uma privada inflável. O movimento chama a atenção para a ausência de instrumentos de gestão da água, sobretudo a falta de saneamento.
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Água: Sabesp e Guarulhos chegam a acordo
A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) informou nesta quinta-feira, 20, em comunicado de fato relevante, que chegou a um acordo com a prefeitura de Guarulhos, na Grande São Paulo, e o Estado para assumir a prestação dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário, exceto o que está abarcado por uma parceria anteriormente firmada pelo município. O convênio ainda depende da aprovação de uma lei pela Câmara Municipal.