No dia 14 de Dezembro, de madrugada, David Duarte morreu no Hospital, sem que qualquer intervenção cirúrgica tivesse sido feita. As equipas de neurocirurgia vascular e neurorradiologia deixaram de fazer plantões nos finais de semana, há mais de dois anos, em protesto contra o corte feito no valor das horas extra, provocado pelo duro programa de austeridade imposto pelo anterior governo e por Bruxelas.
O caso de David não foi o primeiro - foi o quinto, pelo menos -, mas a exposição mediática deu frutos: a partir desse mês, Janeiro, afinal, já vai ser possível ter equipes de plantão, de forma alternada, em quatro hospitais de Lisboa. Ainda ninguém sabe como e quanto esses profissionais, de repente disponíveis, vão receber pelos plantões. Ainda ninguém entendeu, também, como foi possível deixar morrer um paciente - não houve comunicação com outros hospitais, nenhum médico foi chamado - que se sabia precisar de intervenção imediata. O presidente da Sociedade Portuguesa de Neurocirurgia, Carlos Vara Luíz, defende que foram seguidas as normas internacionais. Aliás, disse mesmo que o jovem morreu "dentro das normas internacionais".
Os presidentes da administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, do Centro Hospitalar de Lisboa Central e do Centro Hospitalar Lisboa Norte se demitiram na sequência do caso, e defendem que os médicos não poderiam ter deixado o jovem morrer sem intervenções que tentassem salvar a sua vida.
Que a crise tinha afetado a saúde, a gente já sabia. Os médicos portugueses fizeram greve, se demitiram, deixaram de trabalhar. Agora, há pessoas morrendo. E eu me pergunto: onde vai parar o Serviço Nacional de Saúde? Emergência só pode acontecer de segunda a sexta?