Tem um momento muito delicado, ali entre o fim da infância e o começo da adolescência, que pode definir quem seremos e como vamos encarar a vida. Entramos nesse túnel como crianças felizes, na maioria das vezes, e então é aquele turbilhão. Difícil para todo mundo e cheio de crises, dúvidas e inseguranças, esse momento é ainda mais desafiador para Nanda, a narradora e protagonista de Controle, o primeiro romance de Natalia Borges Polesso, vencedora do Jabuti por Amora (Não Editora), com contos sobre relações homoafetivas entre mulheres.
Na última vez que a encontramos feliz, ela tem 13 ou 14 anos e está orgulhosa, inaugurando uma pista de bicicross que fez com o amigo. Ao tentar repetir a volta perfeita dele, levou um tombo feio, que entortou a bicicleta, destruiu seu walkman e deixou marcas para sempre.
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Foi depois disso que começaram as convulsões e, com o diagnóstico de epilepsia, Nanda colocou o fone no ouvido e se fechou, em si e no quarto. Enquanto lidava com as crises, os remédios, os medos e a culpa, ela vivia os dramas de qualquer pessoa da sua idade. A dificuldade de comunicação. A descoberta do amor - ou a constatação de que sempre esteve ali - e da sexualidade. Tudo entremeado pela música do New Order, uma banda que, em suas palavras, conseguiu se desenterrar do peso de uma morte (de Ian Curtis, que também tinha epilepsia), e cujos versos, que se encaixam em vários momentos de sua vida, ela incluiu em sua história. Uma história cheia de referências aos anos 1980 e 1990, um tempo em que o Mertiolate ardia e que o walkman vinha do Paraguai.
Apesar de tudo, Nanda nunca quis morrer, não queria a solidão, e eis que duas décadas depois, num rompante, decide tomar as rédeas da vida. E a vida pulsa. Há desejo, coragem. Outra queda. O relógio mostrando a frase: Nunca é tarde demais. Será?
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CONTROLE Autora: Natalia Borges Polesso Editora: Companhia das Letras (176 págs.; R$ 44,90; R$ 29,90 o e-book)
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