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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

Como os meninos podem se tornar bons cuidadores? Renato Noguera explica

Filósofo e professor da UFRRJ lança livro sobre garoto que pede um bebê boneco de presente de aniversário

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Foto do author Paula Bonelli
Atualização:

Estudioso das relações humanas, o filósofo e professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Renato Noguera, acaba de lançar o livro “O aniversário do João”. Na história, o menino de sete anos pede de presente algo que geralmente as meninas desejam: um boneco bebê. João está interessado em brincar de cuidar. Com a aproximação do Dia das Crianças, a coluna conversou com o professor sobre como ampliar o repertório afetivo dos pequenos.

Renato Noguera  Foto: Marcelo Hallit

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Segundo Noguera, a ideia do livro surgiu a partir do Grupo de Pesquisas Afroperspectivas, Saberes e Infâncias (Afrosin), que ele coordena na UFRRJ: “A partir de pesquisas de campo e de uma boa revisão bibliográfica, obtivemos uma conclusão parcial de que entre as crianças, os meninos são menos expostos aos brinquedos afetivos como bonecas”. Com base em leituras filosóficas afroperspectivistas e psicanalíticas winnicottianas, Noguera começou a elaborar intervenções para convidar os enredos de masculinidade na infância a se vincularem mais ao cuidado.

Ao ser questionado sobre quais reflexões o mote do livro provoca, Noguera responde: “A resposta é conexão afetiva, ao destacar o desejo de um menino querendo ganhar um boneco de aniversário, o que ganha mais potência é o direito de meninos e homens a se organizarem como pessoas que cuidam, questionando o padrão hegemônico de masculinidade.”

O professor também menciona que, de acordo com alguns estudos, os meninos geralmente recebem mais bonecos de aventura, como soldados e guerreiros: “Esses meninos, diferentemente das meninas, recebem muito pouco os bonecos bebês ou de crianças para treinar e brincar de cuidar. Existe uma socialização organizada sobre marcadores de gênero.”

Noguera enfatiza ainda a importância de não tratar a diversidade como algo superficial ou apenas em datas comemorativas: “A diversidade só pode ser ensinada se ela não se tornar um capítulo de souvenir ou um passeio turístico em datas comemorativas. Não existe um só caminho.”

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Destaca ainda que brincadeiras que desenvolvem habilidades emocionais contribuem muito para os relacionamentos: “Porque quando uma pessoa brinca de cuidar, ela precisa brincar de aprender a lidar com uma gramática do choro infantil. Brincar de gostar, brincar de resolver problemas que envolvem sentimentos enriquece a imaginação.”

Capa do livro 'O Aniversário do João' Foto: Divulgação HarpersCollins Brasil

Para celebrar o Dia das Crianças, Noguera dá algumas dicas: “Convidar as crianças a participarem de jogos afetivos, a lerem ou contarem histórias para adultos”. Ele acrescenta que uma celebração que envolve crianças precisa implicar os adultos a reencontrarem suas infâncias e a capacidade de habitar um mundo brincante sem medo da sua humanidade.

* Este conteúdo foi feito em parceria com o Grupo de Pesquisas Afroperspectivas, Saberes e Infâncias (Afrosin)

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