Estudioso das relações humanas, o filósofo e professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Renato Noguera, acaba de lançar o livro “O aniversário do João”. Na história, o menino de sete anos pede de presente algo que geralmente as meninas desejam: um boneco bebê. João está interessado em brincar de cuidar. Com a aproximação do Dia das Crianças, a coluna conversou com o professor sobre como ampliar o repertório afetivo dos pequenos.
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Segundo Noguera, a ideia do livro surgiu a partir do Grupo de Pesquisas Afroperspectivas, Saberes e Infâncias (Afrosin), que ele coordena na UFRRJ: “A partir de pesquisas de campo e de uma boa revisão bibliográfica, obtivemos uma conclusão parcial de que entre as crianças, os meninos são menos expostos aos brinquedos afetivos como bonecas”. Com base em leituras filosóficas afroperspectivistas e psicanalíticas winnicottianas, Noguera começou a elaborar intervenções para convidar os enredos de masculinidade na infância a se vincularem mais ao cuidado.
Ao ser questionado sobre quais reflexões o mote do livro provoca, Noguera responde: “A resposta é conexão afetiva, ao destacar o desejo de um menino querendo ganhar um boneco de aniversário, o que ganha mais potência é o direito de meninos e homens a se organizarem como pessoas que cuidam, questionando o padrão hegemônico de masculinidade.”
O professor também menciona que, de acordo com alguns estudos, os meninos geralmente recebem mais bonecos de aventura, como soldados e guerreiros: “Esses meninos, diferentemente das meninas, recebem muito pouco os bonecos bebês ou de crianças para treinar e brincar de cuidar. Existe uma socialização organizada sobre marcadores de gênero.”
Noguera enfatiza ainda a importância de não tratar a diversidade como algo superficial ou apenas em datas comemorativas: “A diversidade só pode ser ensinada se ela não se tornar um capítulo de souvenir ou um passeio turístico em datas comemorativas. Não existe um só caminho.”
Destaca ainda que brincadeiras que desenvolvem habilidades emocionais contribuem muito para os relacionamentos: “Porque quando uma pessoa brinca de cuidar, ela precisa brincar de aprender a lidar com uma gramática do choro infantil. Brincar de gostar, brincar de resolver problemas que envolvem sentimentos enriquece a imaginação.”
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Para celebrar o Dia das Crianças, Noguera dá algumas dicas: “Convidar as crianças a participarem de jogos afetivos, a lerem ou contarem histórias para adultos”. Ele acrescenta que uma celebração que envolve crianças precisa implicar os adultos a reencontrarem suas infâncias e a capacidade de habitar um mundo brincante sem medo da sua humanidade.
* Este conteúdo foi feito em parceria com o Grupo de Pesquisas Afroperspectivas, Saberes e Infâncias (Afrosin)