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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

‘Para fazer personagens populares não cabe usar muito botox’, diz Regina Casé

Na pele de Dona Lurdes no cinema, a atriz fala que suas viagens pelo Brasil lhe proporcionaram experiência para interpretar papéis cativantes e que sente o etarismo e outros preconceitos muito antes de completar 70 anos

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Foto do author Paula Bonelli
Por Paula Bonelli

Conhecida por sua habilidade para fazer personagens populares, Regina Casé, aos 70 anos, conquistou um feito raro. A Globo transformou a nordestina dona Lurdes dos Santos, de “Amor de Mãe”, que Regina interpreta em protagonista de um filme, contando como a mãe solo, batalhadora, que criou cinco filhos se redescobre enquanto mulher quando eles saem de casa. A atriz destaca a mudança de tom do humor da novela para o filme: “Os atores que entraram só no filme, como a Arlete Salles e o Evandro Mesquita, e também os que já estavam na novela como Juliano Cazarré, Nanda Costa, Jéssica Ellen e Thiago Martins, tinham muita vontade de fazer um filme para dar risada. Na novela havia mais dramalhão, e agora a gente abriu a porteira do humor”. Dona Lurdes – O Filme foi lançado no último dia 28 nos cinemas.

Regina Casé Foto: João Pedro Januário

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Regina afirma que suas viagens pelo sertão, comunidades carentes e as florestas do País lhe proporcionaram experiência para interpretar papéis diversos, tanto na comédia quanto no drama, como a premiada Val do filme Que horas ela Volta. Além disso, ela destaca que seu visual condiz com papéis populares: “Não sou muito plastificada, porque senão você fica com cara de madame. Não estou condenando, mas para fazer personagens populares não cabe usar muito botox”. Confira a entrevista concedida à repórter Paula Bonelli por videoconferência em que ela fala também sobre o que não é mais aceitável no humor e como lida com várias formas de preconceito, o que inclui o combate ao racismo e a defesa dos direitos das pessoas com deficiência.

Como Dona Lurdes virou filme?

Foi uma personagem que ultrapassou a novela. Ela era tão humana que houve um grau de empatia grande. Dona Lurdes surgiu em um momento de necessidade, encarou toda a pandemia junto com o Brasil. Ela tem duas qualidades que impactaram as pessoas: muita emoção – todo mundo chorou muito com a Dona Lurdes. Não só no sentido catártico de que estava todo mundo sofrendo e aproveitou para chorar, mas de ficar emocionado mesmo com a luta dessas mulheres mãe solo que criam cinco filhos, trabalham do amanhecer até o anoitecer. Essa é a realidade da maioria das mulheres no Brasil. Além disso, dona Lurdes é muito engraçada.

Fazer o filme foi semelhante a interpretá-la na novela da Globo?

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O lado do humor dela, que ficou contido na novela, foi mais explorado no filme. O longa ficou muito engraçado com situações que você nunca imaginou a Dona Lurdes. Os atores que entraram só no filme como a Arlete Salles e o Evandro Mesquita, que estão maravilhosos, mas também os que já estavam na novela como o Juliano Cazarré, a Nanda Costa, Jéssica Ellen e o Thiago Martins, tinham muita vontade de fazer um filme para dar risada. Na novela havia mais dramalhão, e agora a gente abriu a porteira do humor.

Por que representa papéis populares com frequência?

Não sou muito plastificada, porque senão você fica com cara de madame. Não estou condenando, mas para fazer personagens muito populares não tem cabe usar muito botox. Acho que também pelo meu tipo físico. Eu ouvi uma frase da Anna Muylaert e que, para mim, foi melhor do que todos os prêmios que o filme Que Horas Ela volta trouxe para mim. Quando me escolheu para fazer a Val, ela disse que queria alguém que não fosse preta, nem branca e também não queria uma indígena. Procurava uma pessoa que fosse igualmente indígena, branca e preta. Acho que tenho esse equilíbrio. Há 50 anos viajo muito pelo Brasil, pelo sertão, pelas favelas, pelas florestas. Então eu fui colecionando isso tudo, que acaba escoando em personagens populares.

O que mudou no humor desde que começou?

Recentemente, houve uma preocupação crescente em não ofender e agredir porque o humor servia como aval para muita violência. As pessoas não aceitam mais serem agredidas sob o pretexto de ser apenas uma piada. E o que permanece inalterado, e que adoro – a chave do humor – é a rapidez de raciocínio. Para ser engraçado, é necessário ter noção de ritmo, como em uma música, ser habilidoso, oportunista, saber improvisar no tempo certo.

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Já se sentiu afetada pelo etarismo?

Sim, muito antes de fazer 70 anos, por exemplo, com esses haters na internet comentando meus programas no Esquenta. Tenho uma filha que é PcD (pessoa com deficiência), então, enfrento questões não só do etarismo, mas também do racismo por causa do meu filho Roque. Trabalho bastante o antirracismo nas escolas e a inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho.

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