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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

‘Racismo precisa, principalmente, ser resolvido por brancos’, diz Belize Pombal, de ‘Justiça 2′

A atriz, que é considerada uma revelação pela interpretação na série, começou na carreira artística aos 11 anos de idade

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Foto do author Marcela Paes
Atualização:

Considerada uma revelação por sua atuação em Justiça 2 – série do Globoplay que é a mais vista do streaming da Globo – Belize Pombal, 38, já tem uma carreira longa, iniciada por ela aos 11 anos no teatro e canto coral.

A atriz Belize Pombal. Credito: Catarina Ribeiro Foto: CATARINA

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A atriz se formou pela Escola de Arte Dramática da USP, fez diversos trabalhos no cinema e teatro, inclusive criando a ideia original e as composições musicais do projeto teatral infantojuvenil Os Coloridos. Sucesso de público e crítica pelo papel da sofrida Geíza, Belize acha que a televisão pode e deve trazer temas sérios como o racismo, mas também deve mostrar a “alegria, saúde e beleza dos negros”, diz à repórter Marcela Paes. Leia abaixo a entrevista:

Como está sendo ter o reconhecimento do público e da crítica com Justiça 2?

É gratificante receber esse retorno tão positivo. Já existia uma expectativa que Justiça 2 fosse bem feita e potente. Quando isso se concretiza com uma recepção tão calorosa e tão amorosa, é motivo de muita alegria mesmo.

A cultura foi uma das áreas consideradas deixadas em segundo plano na gestão anterior do governo federal. Acha que a situação melhorou agora?

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Isso está para além de partido, tem uma relação com aspectos concretos. Foi possível ver na gestão anterior o perrengue em relação à cultura. A diferença para agora é perceptível sim. Eu não falo nesse lugar de exaltação ‘oh meu Deus, o novo presidente ou qualquer outro é um deus porque proporciona isso’. Mas acho que é importante reconhecer, até para que a gente consiga diferenciar com maior consciência essas dinâmicas e fazer escolhas mais sensatas.

Justiça 2 traz o tema do sistema judiciário e mostra uma diferença no tratamento dado para ricos e para pobres. Como você enxerga a questão?

A questão de classe afeta a nossa vida como um todo, inclusive em relação à justiça. Há muitos casos de pessoas ricas que cometeram crimes e nem sequer foram presas. Com pessoas negras ou periféricas, o tratamento é diferente. Isso acontece na justiça, mas também acontece quando a gente se afasta de uma pessoa na rua porque ela é negra, achando que ela vai nos roubar. Isso acontece quando nós, pessoas negras, entramos numa loja e somos perseguidos como se fôssemos levar alguma coisa sem pagar.

Racismo foi algo que você enfrentou com frequência?

Sim, certamente. Uma pessoa negra, sobretudo uma pessoa negra retinta no Brasil, vivencia o peso do racismo desde o começo da vida até o seu último dia. O racismo é bárbaro, é cruel e tira vidas.

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Acha importante que a TV traga esses temas mais sérios?

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Acho importante que a gente proponha diálogo e reflexão em relação ao ser humano. Estamos distantes de um estado de humanidade em plenitude, então é sim fundamental discutir esses aspectos, mas também é importante nutrir o imaginário do público com perspectivas que exaltem a nossa alegria, a nossa saúde, a nossa beleza. Se a gente olha pra história da humanidade, percebemos que muitas pessoas negras trouxeram contribuições fundamentais. Não é inventar a roda, é só trazer os fatos.

Essa preocupação permeia seu trabalho?

Sim, porque isso me afeta diretamente, realmente mexe bastante comigo. Mas acho importante considerarmos que pessoas negras, antes de serem negras, são pessoas, e artistas negros, antes de serem negros, são artistas. Não dá para colocar um sobrepeso fazendo com que as pessoas negras necessariamente tenham que falar só sobre isso ou resolver essa questão. O racismo afeta pessoas negras diretamente, mas ele precisa, principalmente, ser resolvido por pessoas brancas.

A sua personagem em Justiça, tem cenas fortes. Na primeira fase de Renascer você interpretou a Quitéria, uma personagem com uma carga emocional grande. É fácil para você não levar essa carga para casa, quando a atuação termina?

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Ter a dimensão do que é trabalho me ajuda a separar as coisas. É como alguém que vai trabalhar no escritório, faz seu trabalho da melhor forma possível, volta pra casa e lida com as demandas do dia. Exige sim uma entrega muito grande e essa atmosfera acaba permeando o meu dia a dia, mas não fico deprimida, por exemplo.

Você começou cedo no meio artístico. Houve incentivo da sua família?

Tive uma tia que trabalhou com dança por muitos anos, mas não houve muito incentivo nesse sentido. Assim como em várias outras famílias, os parentes ficam desesperados achando que você vai morrer de fome se for artista. Não à toa, porque a gente tem um cenário realmente delicado. Além disso, ainda tinha a questão racial. Havia um medo muito grande do que eu iria enfrentar sendo uma menina negra num espaço em que, na época, a representatividade era reduzidíssima

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