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Vovôcore: Por que a geração Z está se vestindo como avós? Conheça tendência viral

Dentro e fora do TikTok, jovens de 20 e poucos anos apostam em colete de tricô e alfaiataria em busca de autenticidade; estilo é uma das principais tendências para 2024

Foto do author Bárbara Correa
Foto do author Julia Queiroz
Por Bárbara Correa (Estadão) e Julia Queiroz
Atualização:
Jovens no TikTok ensinam a se vestir no estilo "eclectic grandpa" ou "vovôcore". Foto: Reprodução/TikTok/@chelseaj0rdan/@thieffashion/@kelsey.sheaa

Uma boina, relógio de pulso, calça de alfaiataria, colete de tricô e mocassim nos pés. O traje parece atender ao estereótipo perfeito de uma pessoa mais velha, de outra geração, mas, na verdade, é o passo a passo de um “arrume-se comigo”, vídeo feito por jovens de 20 e poucos anos no TikTok com a legenda #vovocore, #grandmacore e #eclecticgrandpa.

O que antes era apenas “vintage” se transformou em uma estética viral entre jovens nas redes sociais no início deste ano: se vestir como um avô/avó. No fim do ano passado, o Pinterest publicou um relatório de tendências para 2024 e apontou o grandpacore e grandpa style (”estética de vovô” e “estilo vovô”) como uma das principais apostas para a moda.

A busca por estilos de roupa com o termo avô aumentou 65% na plataforma. No TikTok, a hashtag #grandmacore (”estética de avó”) já foi usada em mais de 18 mil vídeos. Mas o que explica esse interesse dos jovens de se vestirem como avós?

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Para Renata Chaves, consultora de moda e idealizadora do grupo no LinkedIn Moda e Business Fashion Group Brasil, a tendência é “um resgate emocional e estético de memórias e práticas quase esquecidas, especialmente após a pandemia”.

“Ela está em alta agora pois, em um mundo cada vez mais digital e impessoal, há um desejo crescente por algo que traga calor humano e história, como as peças tecidas pelas avós”, explica a especialista.

O que é?

Em linhas gerais, o vovôcore é a combinação de vestimentas antigas, com um toque “retrô”, e peças modernas, associadas ao streetwear (moda urbana).

Nathalia Pacheco, influenciadora e consultora de estilo, diz que independentemente de o nome ser masculino, a estética não tem gênero. “É uma mistura de alfaiataria em tons neutros, blazer oversized, colete de tricô e sapato mocassim com meia. O toque final está em contrastar esse universo tradicional com o moderno, misturando essas peças com outras como bonés e tênis esportivos”, ela comenta.

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Nathalia cita Harry Styles, Brooklyn Beckham, filho mais velho do casal Beckham, Hailey Bieber e Gigi Hadid como referências no estilo e diz que também gosta da nova moda. “Adoro peças mais largas, com ‘carinha de vó’, desde que misturadas com outras modernas, como, por exemplo, um suéter de tricô com saia de paetê. Também adoro garimpar em brechós, principalmente alfaiataria, que são peças de melhor qualidade e sobrevivem à ação do tempo”, comenta.

A influenciadora Bia Ávila, de 25 anos, é pós-graduada em Fashion Business (negócios da moda) e faz parte dessa geração que encontra peças autênticas e reconfortantes garimpando em brechós. Ela se inspira em Tyler, The Creator, rapper estadunidense, que usa a mesma estética não só na roupa como também em clipes e capas de álbuns.

“É um estilo divertido, casual e despojado. Uma mistura de tricô, com aquelas estampas bem de vovô, com losangos, cores fortes, uma pegada vintage, e, mesmo que a alfaiataria seja um clássico, ressignificamos e tornamos despojado”, explica.

Como surgiu?

A semelhança com o vintage não é à toa. A historiadora de moda e coordenadora do curso de Moda na FAAP, Maira Zimmerman, explica que as tendências são cíclicas. Para ela, esse “boom”, especialmente no TikTok, se deve ao fato de que, quando o assunto é estilo, a geração Z enxerga nas peças de roupa uma oportunidade de se “fantasiar” ou incorporar uma “skin” (expressão usada em videogames para se referir às características estéticas do personagem, como roupas, acessórios, etc).

“No TikTok, ser ‘aesthetic’ significa criar, por meio da imagem, um estilo inspirado no passado. Temos visto essa tendência, chamada de retromania, desde os anos 2000. Entre 2010 e 2015, a estética ‘brechó’ esteve muito presente na alta moda, com a Gucci, e, agora, foi para o mainstream (cultura popular)”, explica.

De fato, tudo se repete. Bia e Nathália citam o vovôcore como uma continuação do old money, estética minimalista que reascendeu o interesse por alfaiataria, e o quiet luxury (saiba mais sobre essas tendências aqui).

O cantor Tyler, The Creator Foto: Instagram/ @feliciathegoat

“Apesar das mudanças contínuas, a moda segue padrões cíclicos e constantemente busca inspiração em narrativas do passado. Atualmente, muitos jovens visam resgatar esse estilo elegante e atemporal, mas de uma maneira que ainda reflita sua identidade juvenil e não pareça ultrapassado”, reflete Nathalia.

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Resgate do passado para um futuro sustentável

Ainda que vovôcore pareça uma “atualização” do vintage, a tendência nas redes sociais evidencia a busca da geração Z não só por autenticidade, como também por formas de consumo sustentáveis.

“A estética está ligada ao movimento contra a fast-fashion, e incentiva o consumo consciente. Essa tendência de resgatar peças de décadas passadas é uma busca por autenticidade e diferenciação. Em um mundo onde tudo é facilmente replicável, ter algo único ou feito à mão se torna um verdadeiro tesouro. O antigo volta não só por nostalgia, mas também como uma forma de recontextualizar a moda”, conclui Renata Chaves.

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