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Beyoncé em São Paulo? Megashows são recriados em detalhes por fãs de países ‘esquecidos’; veja

Fãs investem tempo e dinheiro para recriar shows que não passaram por seus países; ‘Estadão’ conversou com Sasha Zimmer, que recria turnê de Beyoncé em SP, e iOA, que refez apresentações ‘de baixo orçamento’ de Rosalía no Peru

Foto do author Dora Guerra
Por Dora Guerra

O retorno dos shows após a pandemia trouxe um “comeback” inevitável: as turnês megalomaníacas de artistas pop. Atos como a Renaissance World Tour, de Beyoncé, The Eras Tour, de Taylor Swift, se tornaram assunto global nos últimos meses, quebrando recordes de público e movimentando milhões de dólares com suas superproduções.

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Mas, mesmo que uma turnê seja chamada de “mundial”, quando feita por artistas do Norte global, ela nem sempre cumpre o papel de visitar países para além da Europa e da América do Nortes. Para suprir essa falta, fãs estão ficando cada vez mais criativos.

Se alguns locais ficarão sem o artista, não significa que ficarão sem o show. Com a ausência (ou a expectativa) de seus ídolos, algumas pessoas estão criando suas próprias versões das turnês – e se apresentando para centenas a milhares de fãs.

A drag queen Sasha Zimmer recria shows de Beyoncé para público de São Paulo Foto: Reprodução/AP/@sashazimmer/@vivivacqua

O trabalho não é simples: geralmente, não há filmagem completa profissional dos shows solo de turnês ainda em andamento. Usando vídeos virais e informações disponíveis online, como peças de um quebra-cabeça, performers estão remontando as apresentações, pesquisando figurino, setlist, cenário e coreografias. Com isso, recriam o show, com a maior precisão que conseguem ter dentro de seus orçamentos.

Não é um fenômeno novo, mas é um fenômeno intensificado. Os impersonators (imitadores) de artistas, que chegam a recriar cada detalhe de apresentações, existem há muito tempo e puderam se aperfeiçoar graças a portais como o YouTube. Porém, hoje, com o sucesso do TikTok e a saturação de vídeos na internet, a tendência ficou palpável: agora, as turnês podem ser (e são) recriadas praticamente em tempo real.

Enquanto há um show da artista lá, você vê uma versão dela aqui.

A ‘Rosalía’ peruana e a ‘Taylor Swift’ filipina

O primeiro caso mais popular dessa tendência foi o do YouTuber peruano Ioannis (iOA), que montou seu próprio show a partir da Motomami World Tour, turnê mundial da artista espanhola Rosalía. Com a ausência do Peru na lista de países visitados pela catalã, iOA lotou casas em 2022, refazendo o show para cerca de 7,5 mil peruanos.

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Em entrevista ao Estadão, o influenciador de 35 anos contou que é um grande fã de Rosalía e ficou inspirado após ver um show da artista em Nova York. “Fiquei 10 vezes mais apaixonado pela experiência e queria compartilhar com meus seguidores e meu país, criando a maior homenagem de todas”, relatou.

O criador de conteúdo levou esse tributo a sério: gastou mais de 100 mil dólares e 6 meses de trabalho para realizar The Miji Show, sua versão dos shows da catalã. “Juntamos todos os vídeos do YouTube e TikTok que encontramos para criar um vídeo que reunisse o show completo em todos os ângulos possíveis. Reunimos os melhores especialistas do Peru para replicar cada detalhe: capacetes leves, fantasias, adereços. Também fizemos um casting aberto para encontrar os melhores bailarinos”, relatou.

Para iOA, seu tributo termina com essa turnê, porque o propósito era de trazer a experiência que teve em Nova York para Lima. “Acho que se Rosalía tivesse se apresentado no Peru, eu não teria feito isso. A motivação por trás dessa aventura selvagem foi que os peruanos não puderam viver a experiência”, ressaltou. “Não me vejo recriando nenhum outro show.”

A produção rendeu um documentário no YouTube, intitulado Rosalía com baixo orçamento. Para iOA, sua realização precisou ser registrada devidamente: “O que foi feito será sempre lembrado como o primeiro show recriado por um criador de conteúdo independente no mundo”, disse.

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Um evento similar está acontecendo na Ásia. Nas Filipinas, o jovem Mac Coronel está realizando sua versão da mega popular The Eras Tour, de Taylor Swift. Sob a alcunha de Taylor Sheesh, a versão drag de Mac, o filipino lotou um shopping em Manila, trazendo uma hora e meia do show que seus conterrâneos não têm previsão de ver em sua versão original. Desde então, a drag segue se apresentando por seu território nacional, com figurinos e coreografia semelhantes aos de Swift.

Curiosamente, Taylor Sheesh começou a suprir não só a ausência da ídola, como chegou a atrair audiência internacional: “Venha para o Brasil, Taylor Sheesh”, comentou um internauta. A drag queen também já conta com fã clube próprio.

Sasha Zimmer: a drag queen que trouxe o show de Beyoncé a São Paulo

A drag queen Sasha Zimmer, que está em atividade desde 2007 e venceu a segunda temporada de Academia das Drags, está fazendo o mesmo com Beyoncé no Brasil.

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Segundo o anúncio da estadunidense na última quarta-feira, 23, a turnê oficial pode acabar em setembro sem ter vindo ao País. Mas no que depende de Sasha, os shows da Renaissance World Tour já estão acontecendo (e fazendo sucesso) em festas de São Paulo.

A drag, que se diz impersonator de Beyoncé, trabalha com o repertório da cantora desde que começou a se apresentar. A cada lançamento novo da diva pop, a drag para, pesquisa e incorpora a nova obra ao seu repertório. “É necessário assistir repetidamente aos clipes e shows”, contou Sasha ao Estadão.

Sasha Zimmer se apresenta como drag queen em São Paulo recriando a atual turnê da Beyonce com baixo orçamento. Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Por isso, trazer a nova turnê da estadunidense ao seu próprio portfólio era só questão de tempo.

Mas como recriar um espetáculo de proporções gigantescas e custo milionário? Sasha reforça que faz uma interpretação pessoal dos shows de Beyoncé – após a pesquisa, ela adapta a performance para o seu estilo e realidade. “Eu costumo dizer que a forma como eu faço Beyoncé é única porque é a forma como eu a vejo. Não é apenas ir lá e fazer semelhante”, ressalta.

“Eu assisto a muitos vídeos da turnê. Defino o que pode ser mais fácil, prático e adaptável aos palcos dos clubes. Para o Renaissance, como ela tem trocado de looks em todos os shows, estou mantendo meus pés no chão e temos quatro blocos de shows ensaiados”, relatou. “Tenho a ajuda de um coreógrafo e um time de bailarinos que me apoiam e estudam junto comigo. Os figurinos ficam por conta do estilista Marcelo Mantovani (Lilika Sweet)”.

Sasha Zimmer reforça que faz uma interpretação pessoal dos shows de Beyoncé – após a pesquisa, ela adapta a performance para o seu estilo e realidade.  Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Beyoncé já usou mais de 100 roupas diferentes ao longo desta turnê, além de variar alguns elementos dos blocos. Por isso, o estudo de Sasha segue atualizado. “A pesquisa é praticamente diária, porque a mulher não pára”, brincou. “Tentamos deixar o mais próximo do que ela tem feito. Usamos elementos como o colchão, looks idênticos e coreografias mais próximas do original”.

Como cover de Beyoncé, Sasha não deixaria de reproduzir o show mesmo com a vinda da artista. Mas ela entende que, já que a cantora não anunciou planos de visitar o país, isso gera mais demanda para seu trabalho.

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“Acredito que o show gera uma expectativa nas pessoas, ainda mais por não terem vivenciado isso”, diz. “Assim que iniciou a turnê [de Beyoncé], trabalhamos seguidamente. Setembro, mês do aniversário dela, a agenda está cheia”.

Para a drag, esse investimento em trazer o show não é só um tributo à sua ídola, como um feito pessoal importante. “O palco sempre será o meu alimento, então poder reproduzir, mesmo que com baixo orçamento e muita desvalorização, pra mim é fortificante”, conta. “Sei que eu estou escrevendo a minha história da forma mais bonita possível”.

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