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A primeira fase de ‘Renascer’ caiu no gosto do público. O que esperar da segunda?

Remake de novela criada por Benedito Ruy Barbosa repete o sucesso da exibição original, mas terá adaptações para se conectar com a atualidade

Foto do author Danilo Casaletti
Por Danilo Casaletti
Atualização:

José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, ex-superintendente de produção da TV Globo, escreveu no Livro do Boni, sua autobiografia, que a primeira fase de Renascer, novela de Benedito Ruy Barbosa exibida originalmente em 1993, foi tão boa que a emissora corria o risco de sofrer com rejeição do público à segunda parte da novela.

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A primeira parte do remake de Renascer, que se encerra nesta segunda-feira, 5, quando ocorrerá a transição ao longo do capítulo, foi igualmente exitosa. Provavelmente não haja o risco da rejeição temida por Boni – ao contrário de 30 anos atrás, o público sabe que a continuação da trama, agora a cargo de Bruno Luperi, neto de Barbosa, também é atraente.

O tema principal será a conflituosa relação entre José Inocêncio, que será assumido pelo ator Marcos Palmeira, e seus quatro filhos. A mais espinhosa é com João Pedro, o filho que ele rejeitou – e que, ao mesmo tempo, é o mais fiel a ele – por ter ‘tirado’ a vida de seu grande amor, Maria Santa.

José Inocêncio (Marcos Palmeira) e João Pedro (Juan Paiva) na segunda fase de 'Renascer' Foto: Fabio Rocha/TVGlobo

A exemplo do que ocorreu na primeira versão, tudo foi plantado, em um roteiro muito bem amarrado, na fase inicial. O remake caiu no gosto do público. No capítulo da morte do coronel Belarmino, magistralmente interpretado pelo ator Antonio Calloni, no dia 29 de janeiro, Renascer ultrapassou os 30 pontos no Rio de Janeiro e chegou perto disso em São Paulo. Na Bahia, a novela também foi bem aceita.

A morte de Belarmino foi apenas uma das sequências de destaque dessa primeira fase. O casamento de Maria Santa e Zé Inocêncio, com a câmera passeando entre os convidados, foi outro momento de grande beleza. Um encanto de fotografia, com cenas bem planejadas e dirigidas pela equipe comandada por Gustavo Fernández.

O primeiro capítulo, que contou com a incrível fábula de José Inocêncio ser esfolado vivo e depois costurado, garantiu ação e suspense.

Aliás, são nesses dois pilares que a novela se escora. Na segunda fase, a disputa de terra será com Egídio (ex-Teodoro), o fazendeiro que será a nova pedra na bota de José Inocêncio. A relação entre Tião Galinha e o Cramulhão, agora chamado de Diabinho, mais as aparições de Maria Santa, dão o toque de realismo fantástico, uma das características das criações de Barbosa.

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Muitos atores – e nem todos eram conhecidos pelo grande público – se destacaram nessa primeira jornada: a inocente e corajosa Maria Santa, interpretada por Duda Santos, por exemplo. Ou o casal Venâncio e Quitéria, pais de Maria Santa, nas mãos dos atores Fábio Lago e Belize Pombal. Adanilo e Evaldo Macarrão também brilharam como Diocleciano e Jupará. Juliana Paes defendeu Jacutinga com dignidade.

Humberto Carrão construiu um Zé Inocêncio mais sério e mais complexo do que o feito por Leonardo Vieira na versão original. Enquanto o de Vieira era risonho, quase infantil, o de Carrão era mais sisudo e maduro. Consequência de pequenas adaptações que Luperi teve que fazer nesse remake.

Uma delas foi a inclusão do coronel Pica Pau, o primeiro inimigo de Zé Inocêncio. A outra foi o fato da primeira fase se passar nos anos 1990, quando a praga da vassoura-de-bruxa já havia afetado as plantações de cacau no sul da Bahia, algo que não tinha ocorrido nos anos 1960, quando se passou a primeira fase da versão original.

Cena em que Maria Santa (Duda Santos) é largada em frente à casa de Jacutinga Foto: Leo Rosário/TV Glo

Dessa forma, Zé Inocêncio contou menos com a sorte e travou grandes batalhas logo de cara: se livrar de Pica Pau e manejar o solo de forma inteligente para salvar a plantação da fazenda que comprou. Carrão e a direção, então, reservaram o sorriso aberto do personagem para as cenas em que ele estava com sua Santinha.

Desafios da segunda fase de Renascer

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A segunda fase de Renascer terá alguns desafios pela frente. O maior deles será em relação à personagem Mariana. Na versão original, interpretada por Adriana Esteves, ela sofreu alto índice de rejeição por parte do público.

Neta de Belarmino, ela chega para se vingar de Zé Inocêncio. Flerta e se apaixona por João Pedro, mas se casa mesmo é com o pai dele. No passado, os telespectadores não gostaram. A crítica fez ressalvas à interpretação de Adriana Esteves. Isso, claro, exigiu providências de Barbosa à época.

Talvez livre desse problema, como Luperi conduzirá a trama de Mariana, com a atriz Theresa Fonseca como titular da personagem? A conferir.

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A Renascer de 2024 estará antenada com os temas e debates da atualidade, como o próprio Luperi admitiu em entrevista ao Estadão.

O relacionamento entre Buba, uma mulher trans, e José Venâncio, um dos filhos de Zé Inocêncio, trará o debate da transfobia. Em 1993, Barbosa causou espanto ao colocar uma pessoa hermafrodita em horário nobre. Despertou espanto e curiosidade.

Nos dias de hoje, uma mulher trans não causa o mesmo assombro. O viés será, inevitavelmente, a naturalização da relação entre ela e um homem, com, obviamente, o combate ao preconceito.

Outra questão no roteiro: no passado, o personagem Zé Venâncio, interpretado por Taumaturgo Ferreira, saiu antes do previsto da novela. O ator teve divergências com Barbosa e Venâncio foi tirado da novela após um acidente fatal de carro. O destino será o mesmo?

Grande mudança também será em relação ao religioso que sucederá o piedoso Padre Santo – assim como Dias Gomes, Barbosa não poupa críticas à Igreja. Em vez de padre Lívio, ele será o pastor Lívio. Luperi disse ao Estadão que, com isso, irá se conectar com os novos cristãos. E, mais do que isso, trará a mensagem de que as diferentes religiões podem e devem conviver em harmonia.

A relação entre Egídio e Iolanda, a Dona Patroa – parecida com a de Tenório e Maria Bruaca em Pantanal -, deverá tender para a esposa, a exemplo do que ocorreu com Bruaca, que deu a volta por cima e se livrou de uma relação abusiva.

Há ainda a expectativa de Marcos Palmeira como Zé Inocêncio. Talento incontestável à parte, resta saber se ele conseguirá diferenciar dois coronéis – ele foi Zé Leôncio em Pantanal – em tão pouco tempo e com arcos dramáticos que se assemelham em alguns pontos.

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O grande trunfo de Renascer é ser uma grande história, com um texto primoroso, assim como Pantanal. O remake mostrou que a saga de José Inocêncio se sustenta tal qual um bom livro. A qualquer momento é possível abrir ou dar play em um capítulo.

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