PUBLICIDADE

Publicidade

Embraer e Boeing criam empresa de US$ 4,8 bi

Acordo foi anunciado nesta quinta-feira, 05, depois de nove meses de negociações, que culminaram com a venda de 80% da área de aviação comercial da Embraer para a companhia americana; empresa perdeu R$ 3 bilhões na Bolsa de Valores após o anúncio

Foto do author Luciana Dyniewicz
Foto do author Fernando Scheller

Depois de nove meses de negociações, vencendo um vaivém de interesses que envolveu duas multinacionais e vários órgãos do governo brasileiro, a Embraer fechou nesta quinta-feira, 05, a venda de 80% de sua divisão de aviação comercial para a americana Boeing. O negócio cria uma nova companhia, avaliada em US$ 4,8 bilhões (R$ 19 bilhões), na qual a brasileira terá apenas 20% de participação. Com a venda, a Embraer receberá US$ 3,8 bilhões (cerca de R$ 15 bilhões) e lhe restará apenas suas áreas de defesa e jatos executivos – que historicamente têm menor participação nos resultados da companhia.

PUBLICIDADE

+ Empresas correm para apresentar proposta ao governo até o fim do ano

O mercado financeiro reagiu mal ao acordo, antecipado pela colunista Sonia Racy no Broadcast, e divulgado pela manhã. As ações da Embraer tiveram queda de 14,29%, fechando a R$ 23,10, com perda de quase R$ 3 bilhões em valor de mercado. A retração, porém, veio após um período de forte alta. Embora as negociações tenham começado em outubro de 2017, as conversas foram reveladas em dezembro. Desde então, a companhia tinha registrado valorização de 64% na Bolsa.

+ ENTREVISTA 'Chegamos a um formato que atende a todos os interesses', diz presidente da Embraer

Uma das razões para a tensão dos investidores, segundo analistas, é o risco político da transação – isso porque há pouca clareza sobre o resultado da próxima eleição. O presidente da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva, disse nesta quinta, 05, que as companhias querem entregar os documentos finais sobre a transação para a avaliação final do governo entre o fim de outubro e o começo de novembro. A ideia é garantir que o negócio seja sacramentado ainda na gestão de Michel Temer. Dado o tamanho do negócio, porém, fontes do setor corporativo consideram o cronograma apertado. 

Segundo a fabricante de aviões, as entregas devem ocorrer entre março e novembro de 2019 Foto: Sergio Castro|Estadão

A joint venture anunciada ontem embute um prêmio sobre o preço dos papéis da Embraer, segundo fonte próxima à negociação. A avaliação apenas da área de jatos comerciais, em US$ 4,8 bilhões, é semelhante ao valor total da companhia, que inclui ainda as áreas de defesa e jatos executivos, na última quarta-feira, de US$ 5,1 bilhões.

+ Governo condicionou aval à parceria entre Boeing e Embraer à preservação de empregos

Publicidade

Inicialmente, a Boeing queria ficar com 100% da Embraer. Essa hipótese foi descartada pelo governo, que queria preservar a soberania da área de defesa. No entanto, como o segmento de aviões militares e de jatos executivos têm desempenho inferior ao da aviação comercial, parte das discussões entre as empresas e a força-tarefa que o Planalto montou para deliberar sobre o negócio se concentrou na busca de alternativas de receita para a parte da Embraer que não será vendida.

Sobrevivência. Para garantir acontinuidade da Embraer, o governo exigiu uma participação mínima dela de 20% na joint venture. A expectativa é que o aumento de rentabilidade da nova empresa de aviação comercial gere dividendos para compensar as deficiências das outras duas áreas. 

De acordo com o especialista em setor aéreo André Castellini, sócio da consultoria Bain & Company, as áreas militar e executiva da Embraer têm bons produtos, mas ambas enfrentarão problemas no lado da demanda. No segmento executivo, o empecilho são as margens apertadas. Na defesa, a questão é a dependência de clientes de governo – em especial o brasileiro, que atualmente enfrenta dificuldades para investir.

Na transação, a Embraer foi assessorada pelo Citibank e pelo escritório de advocacia Barbosa, Müssnich, Aragão, além do americano Skappen Arps. A Boeing por JP Morgan, Pinheiro Neto e Simpson Thacher.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.