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Líder de mercado na Oliver Wyman, Ana Carla Abrão trabalhou no setor financeiro a maior parte de sua vida, focada em temas relacionados a controle de riscos, crédito, spread bancário, compliance e varejo, tributação e questões tributárias.

Não será com a ajuda do crédito que a economia brasileira irá surpreender o mundo

Em 2022, o crédito deve crescer 7,3%, frente aos 12,7% esperados para 2021 e aos 15,7% de 2020

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Por Ana Carla Abrão

Crédito e atividade costumam andar juntos. A não ser por conta de intervenções pontuais (algumas desastrosas, outras bem-vindas), observa-se que o crescimento da economia e o dos volumes de crédito tendem a apresentar trajetórias muito parecidas. Em 2020 não foi assim, o que se explica pelos necessários estímulos ao crédito que, com o auxílio emergencial, atenuaram os efeitos da pandemia. Em 2021 o crescimento perdeu força, em particular no crédito para pessoas jurídicas, cuja base de comparação veio alta como consequência das ações e garantias do governo no ano anterior. Mas o crédito a pessoas físicas continuou assegurando um crescimento do crédito total em dois dígitos em 2021.

Em 2022, o crédito livre à pessoa física será o único que poderá apresentar algum crescimento real. Foto: Marcos Santos/USP Imagens

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Para o próximo ano, a nota de crédito divulgada pelo Banco Central referente a outubro consolida o fechamento do ano e sinaliza o que deverá ser o próximo. Com 1,5% de crescimento nos saldos de outubro em relação a setembro de 2021, observa-se 16% de aumento na comparação anual. São R$ 4,5 trilhões, dos quais R$ 1,2 trilhão se destina a empresas em operações de descontos de faturas de cartão de crédito, capital de giro, financiamento às exportações. Na pessoa física, o crédito continua crescendo acima dos 20%, concentrado nas operações com cartão de crédito e no crédito pessoal. Há um outro tanto de crédito que, ainda hoje, se baseia em direcionamentos obrigatórios de crédito a taxas reguladas. Aqui o crédito rural se destacou.

Mas é nas novas concessões e no custo de crédito que se percebe um comportamento que antecipa o que deveremos observar em 2022. Os números dessazonalizados apontam para um crescimento tímido no mês de outubro e a um custo maior. As concessões para pessoas físicas andaram de lado, com retração nas concessões de crédito livre se comparadas com as do mês anterior, e o custo médio do crédito subiu. O Indicador de Custo de Crédito (ICC) consolida sua tendência de alta, natural e esperada em tempos de alta da Selic, e interrompe a sequência de meses de estabilidade que se seguiram às quedas observadas em 2020.

Antecipa-se, assim, o que os participantes do mercado já vislumbram conforme estimativas divulgadas pela Pesquisa Febraban de Economia Bancária e Expectativas. O crédito total em 2022 deverá crescer 7,3% em termos nominais, frente aos esperados 12,7% de 2021 e aos 15,7% de 2020, puxado principalmente pelo crédito livre à pessoa física, único que poderá apresentar algum crescimento real. Ou seja, não será com a ajuda do crédito que o Brasil irá surpreender o mundo. 

*ECONOMISTA E SÓCIA DA CONSULTORIA OLIVER WYMAN. O ARTIGO REFLETE EXCLUSIVAMENTE A OPINIÃO DA COLUNISTA

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