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Anúncio de fechamento de fábricas da Ford pega sindicatos de surpresa

Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté (SP) convocou manifestação para esta terça-feira, 12; na manhã do mesmo dia, trabalhadores de Camaçari (BA) vão fazer uma assembleia; unidade de Horizonte (CE) continua a funcionar até o fim do ano

Por Marina Aragão, Érika Motoda e Maiara Santiago
Atualização:

O anúncio do fechamento das fábricas da Ford em Taubaté (SP), Camaçari (BA) e Horizonte (CE) pegou de surpresa os sindicatos de trabalhadores. Em assembleia extraordinária realizada nesta segunda-feira, 11, os 800 trabalhadores da unidade de Taubaté decidiram que vão fazer uma mobilização em frente à fábrica a partir das 8h da terça, alegando que a montadora americana tem um compromisso social "por ter recebido incentivos fiscais". Além disso, eles afirmam que têm direito à estabilidade até o fim de 2021 por causa do programa que permitiu as reduções de salário e jornada em função da pandemia do coronavírus

Trabalhadores da fábrica da Ford em Taubaté participam de assembleia extraordinária após montadora encerrar os fins das atividades Foto: Guto Rezende/ Sindmetau

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Já o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Maracanaú, José Milton Pereira, que responde pelos trabalhadores de Horizonte, disse que, em um primeiro momento, tentou tranquilizar os cerca de 550 funcionários da Troller. "Eles começaram a me ligar desesperados, todos nós fomos pegos de surpresa. Mas ao contrário das outras fábricas, nós vamos até 2021", disse. "Ainda temos muito encomendas para atender e, por conta disso, tenho esperança de que conseguiremos estender o funcionamento até 2022." 

Além disso, Pereira aponta que a atual estrutura da Troller a torna muito vendável e que a ideia é usar esse tempo de funcionamento extra que a fábrica de Horizonte terá, para começar um diálogo com o governo do Ceará e tentar encontrar possíveis compradores para o espaço. "A Troller tem um processo de produção muito único, é muito vendável, acho que logo teremos um interessado. E no processo de venda, quero trabalhar para manter os funcionários empregados."

Linha de montagem da fábrica da Ford em Camaçari, na Bahia Foto: Paulo Whitaker/Reuters

E o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, Júlio Bonfim, se pronunciou em vídeo no Facebook na tarde desta segunda-feira, 11. “É muito difícil. Foi algo que bateu agora nas nossas costas de forma muito forte, estamos tentando ainda absorver essa porrada, algo que a gente nunca imaginaria que aconteceria no Brasil”, disse. Segundo Bonfim, 12 mil empregos, diretos e relacionados ao setor de autopeças, serão afetados pelo fechamento na Região Metropolitana de Salvador. 

A mensagem foi gravada por ele após uma reunião com a presidência da Ford na América do Sul, a chefia de Recursos Humanos e representantes e dirigentes sindicais da fábrica. Bonfim não deu detalhes sobre a conversa, mas anunciou uma assembleia para as 5h30 desta terça-feira, 12, na porta da Ford em Camaçari, para dar direcionamentos, tirar dúvidas e repassar informações da reunião para os trabalhadores. "É pedir a Deus que a gente consiga construir soluções, por mais que a empresa bata aqui na mesa e diga que é um encerramento sem nenhum tipo de intervenção.”

Miguel Torres, presidente da Força Sindical, considerou absurda a decisão da Ford de fechar suas operações no Brasil e cobrou ação dos governos. A entidade, a companhia agiu sem dialogar com os sindicatos e demonstrou "total falta de sensibilidade social". Para ele, os governos federal e estaduais devem cobrar compromisso da montadora com o País.

"É um absurdo a Ford encerrar sua produção no Brasil, fechando mais de 7 mil postos de trabalho, diretos e indiretos, e aumentando ainda mais a tragédia social no País causada pelas persistentes crise econômica e pandemia do coronavírus", afirmou. "Esperamos que o governo federal e os governos estaduais de São Paulo, da Bahia e do Ceará intervenham para cobrar da Ford o compromisso produtivo com o País e um recuo diante de um anúncio tão grave como este."

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Repercussão negativa

O prefeito de Camaçari, Elinaldo Araújo (DEM), disse que será uma grande perda para Camaçari e para a Bahia. "Com muita tristeza, recebemos esta notícia da Ford. Infelizmente, a crise provocada pela pandemia da covid-19 trouxe consequências ruins para a área da saúde e, também, para a economia, fazendo com que pequenos e grandes negócios se tornem inviáveis. Lamento o fechamento da fábrica e me solidarizo com os trabalhadores", disse. Ele afirmou ainda que acompanha a situação de perto e dará apoio aos funcionários da fábrica. "Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para reduzir o impacto para os trabalhadores, pais e mães de família que vão perder o seu sustento", escreveu, ressaltando que a prefeitura vai "intensificar diálogos" com outras empresas em busca de novos investimentos.

O governo do Estado da Bahia também divulgou nota lamentando o encerramento da produção e diz que já busca alternativas para minimizar o impacto. “Assim que foi informado, o governador Rui Costa entrou em contato com a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) para discutir a formação de grupo de trabalho para avaliar possibilidades alternativas ao fechamento", diz o comunicado. O texto afirma que a Embaixada Chinesa foi procurada para sondar possíveis investidores interessados em assumir o negócio na Bahia.

A Prefeitura de Taubaté publicou uma nota oficial dizendo que entende que a crise econômica mundial tem reflexos na cidade, mas que não pode arcar com "tal monta de prejuízo". A cidade paulista afirmou que os 830 funcionários demitidos receberão o "apoio necessário" da administração municipal e que a gestão vai buscar alternativas, inclusive marcando uma reunião com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB)

Doria, por sua vez, disse que a medida foi decisão global da Ford Motors. "No Estado de SP, serão mantidos 700 trabalhadores em atividades no município de Tatuí e na Capital", escreveu.

Presidente nacional do DEM e ex-prefeito da capital baiana, ACM Neto também amargou a decisão da Ford. Ele lembrou da “luta política do avô, Antonio Carlos Magalhães, para que a fábrica se instalasse na Bahia, em 2001. "É com pesar que recebemos hoje essa notícia e me solidarizo principalmente com a população de Camaçari e da Região Metropolitana de Salvador, já que essa decisão, que partiu do comando mundial da montadora, terá impacto na vida de milhares pessoas", disse. 

"ACM era presidente do Senado quando, em 1999, usou do seu poder e influência para defender, mais uma vez, a Bahia. Enfrentou diversos interesses e trabalhou muito para derrotar as pretensões do Rio Grande do Sul, que também almejava ter a fábrica naquele estado. É uma notícia triste para a Bahia essa de hoje", escreveu no Twitter.

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