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Brasil mantém tarifa do trigo após medida argentina

Por ISABEL VERSIANI

O Brasil decidiu nesta terça-feira manter a tarifa de 10 por cento para compras de trigo fora do Mercosul, de acordo com decisão tomada por ministros integrantes da Câmara de Comércio Exterior (Camex). Segundo o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, a decisão foi tomada para uma melhor avaliação da medida da Argentina, principal fornecedora de trigo aos moinhos brasileiros, de reabrir as exportações desse cereal. O anúncio da reabertura dos registros de exportação de trigo da Argentina, fechados desde o final do ano passado, foi feito nesta terça-feira, horas antes da reunião da Camex. Os argentinos concederão licenças para vendas externas adicionais de 2 milhões de toneladas. "Há um fato novo, a Argentina hoje reabriu as exportações. Temos que analisar o volume, ver se isso efetivamente abastece ou não (o Brasil), porque a nota (da Argentina) que nós temos não é detalhada", afirmou Stephanes a jornalistas, após a reunião da Camex. A redução da tarifa, que se daria pela inclusão do trigo na lista de exceções do Mercosul, é uma reivindicação da indústria de trigo do Brasil, que afirma que, diante das restrições na Argentina, fica muito caro comprar o trigo nos países do hemisfério norte, pagando uma taxa adicional. Apesar de dizer que o governo poderá tomar uma decisão sobre a tarifa assim que avaliar o impacto da decisão argentina, o ministro da Agricultura não especificou se isso será discutido na próxima reunião da Camex. Não foi estabelecido um prazo para a avaliação da decisão argentina pelo governo brasileiro. Questionado se o volume de 2 milhões de toneladas será satisfatório, ele respondeu: "Em princípio, sim". O ministro disse ainda que a decisão argentina de reabrir os registros ocorreu após o ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, telefonar para o colega argentino. A notícia da reabertura dos registros reverteu a tendência do trigo nas bolsas de Chicago e Kansas City, que começaram em forte alta nesta terça com informações de que o Brasil poderia reduzir a tarifa para compras do cereal fora do Mercosul. O governo da Argentina havia limitado as exportações de trigo no ano passado como uma maneira de proteger os estoques internos do país, quarto maior exportador mundial de trigo e segundo maior fornecedor de milho. As fortes geadas em novembro levantaram preocupações de que a produção 2007/08 de trigo seria drasticamente reduzida, e os registros, reabertos por um curto período no final do ano passado, foram fechados novamente naquela oportunidade. Mas agora, com a colheita encerrada, a Secretaria de Agricultura da Argentina considerou que as lavouras não sofreram tantos danos pelas geadas como se acreditava, e que o país terá um saldo de 2 milhões de toneladas para exportar. "Essa reabertura e a metodologia dos registros de operações instala as condições para a comercialização internacional, que tem o Brasil como principal demandante", afirmou um comunicado da Secretaria de Agricultura nesta terça-feira. Houve também uma mudança no sistema de emissão dos registros, que agora serão limitados a 400 mil toneladas de trigo por mês pelos próximos cinco meses, sendo que exportadores ficarão limitados a um máximo diário de 12 mil toneladas, explicou a secretaria em comunicado. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima que as exportações de trigo da Argentina em 2007/08 poderiam chegar a 10 milhões de toneladas, pouco abaixo dos 10,5 milhões de toneladas exportadas em 2006/07. O órgão estima a colheita em 15 milhões de toneladas. Pouco mais de 7 milhões de toneladas do cereal tinha sido registrado para exportação no curto período em que as licenças foram emitidas antes das geadas, de acordo com o governo. O Brasil obteve registros para compras na Argentina de 3 milhões de toneladas em 2007/08, contra importação de 5,6 milhões na temporada anterior. O governo argentino ainda liberou registro de exportações de milho para embarques a partir de 15 de fevereiro. BRASIL A simples possibilidade de compras do Brasil fora do Mercosul elevou os futuros do trigo dos EUA no início dos negócios desta terça, uma vez que o Brasil poderia se tornar um comprador mais importante no mercado norte-americano. Entretanto, diante da reabertura dos registros na Argentina, ficam reduzidas, em tese, as possibilidades de o Brasil realizar grandes compras de trigo nos EUA. "A Argentina fecha, brinca com o Brasil, tradicional comprador de trigo... do jeito que está brincando, o governo brasileiro não tem outra opção", afirmou o presidente do Conselho Deliberativo da Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria do Trigo), Luiz Martins, por telefone, antes de decisão da Camex. "Acho que o governo argentino continua brincando com o governo brasileiro", acrescentou ele, referindo-se à decisão argentina de reabrir os registros pouco antes da reunião. Apesar da reabertura dos registros, ele disse que o Brasil deveria atender à reivindicação da indústria nacional de reduzir a tarifa, considerando que a medida argentina não será suficiente para atender à demanda brasileira. De acordo com Martins, não apenas o Brasil buscará comprar o volume de trigo (2 milhões de toneladas) liberado para exportação. Ou seja, outros países continuarão comprando o trigo argentino, reduzindo a oferta para os moinhos brasileiros. "Não virão todos os 2 milhões (ao Brasil). Isso tudo se dá em função da ameaça do governo brasileiro de colocar o trigo na lista de exceção (de produtos isentos de tarifas para importação fora do Mercosul)", observou Martins. (Com reportagem adicional de Helen Popper e Nicolás Misculin em Buenos Aires e Roberto Samora em São Paulo)

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