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‘Incertezas fiscais devem manter a inflação acima da meta’, diz Caio Megale, da XP

Para economista, se forem criadas condições favoráveis para o crescimento econômico, com aprovação de reformas, impacto no PIB deve vir mais a partir de 2025

Foto do author Francisco Carlos de Assis
Por Francisco Carlos de Assis (Broadcast)

São Paulo - O economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale, prefere manter uma postura de cautela em relação à economia brasileira. Mesmo com a percepção de evolução na gestão da economia, o chefe do Departamento Econômico da XP prevê desafios que resultarão em poucas mudanças no Produto Interno Bruto de 2024.

“Não vemos mudanças muito significativas no PIB do ano que vem”, diz Megale. “Teremos poucas notícias muito relevantes no cenário econômico daqui para o final do ano.” Para ele, o PIB do ano que vem será ainda muito influenciado pela economia global deste ano. A avaliação dele é de que, se a equipe econômica continuar focada em criar boas condições para a economia, os impactos serão vistos apenas nos PIBs de 2025 e 2026.

Para Caio Megale, tendência do Senado é aumentar as exceções na reforma tributária Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Megale vê desafios para as implementações da reforma tributária, do arcabouço fiscal e dificuldades para a zeragem do déficit primário. “E essas incertezas vão manter a inflação acima da meta. Por isso eu acho que o que vai influenciar as expectativas inflacionárias é a implementação do fiscal”, diz. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

O Brasil parece ter sido tomado por um entusiasmo econômico recentemente. O sr. compartilha desta euforia?

Preferimos uma postura de um pouco de cautela. Teremos poucas notícias muito relevantes no cenário econômico daqui para o final do ano. Inflação e câmbio não devem apresentar grandes surpresas.

Mas têm aparecido boas noticias, como o PIB do 1º trimestre acima do esperado, redução da inflação, queda da Selic e elevação do rating do Brasil.

Há uma combinação de dois fatores por trás destes ratings: evolução da gestão econômica no Brasil, aprovação da reforma tributária da Câmara e ajuste dos marcos nos últimos anos com a pandemia. Há uma percepção de evolução da economia brasileira, mas temos de lembrar que a baixa dos ratings se deu num ambiente pandêmico. Agora que a pandemia e a inflação estão ficando para trás no mundo, é razoável que os ratings voltem ao nível pré-pandemia.

O Copom reduziu a Selic em 0,50 ponto porcentual no seu primeiro corte depois de um ano e surpreendeu a muitos. Qual o efeito disso sobre o PIB em 2024?

Não vemos mudança muito significativa do PIB no ano que vem. Vai ser um PIB muito influenciado pela economia global deste ano.

Quanto a XP Investimentos está esperando de crescimento para o PIB do ano que vem?

Projetamos crescimento de 1%. Se a equipe econômica continuar focada em gerar boas condições para a economia brasileira, a influência será sobre o PIB de 2025 e 2026.

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Voltando à política monetária, o sr. acha que há alguma possibilidade de o BC elevar a magnitude dos cortes de juros nas próximas reuniões do Copom?

Achamos pouco provável a possibilidade de se aumentar o nível dos cortes. Como já disse, achamos que teremos poucas mudanças relevantes na economia. Nossa avaliação de como o cenário vai evoluir está muito parecida com o que o BC provavelmente está esperando hoje, um cenário que endossa o plano de voo de 0,50 ponto (de corte na Selic).

Há algo que poderia mudar esse horizonte com o qual o sr. trabalha?

O que poderia mudar esse horizonte seriam dados muito melhores de inflação no curto prazo, com os núcleos despencando, ou no câmbio, com um dólar indo abaixo de R$ 4,50, próximo de R$ 4,30 e R$ 4,20. Mas trabalhamos com uma previsão de dólar a R$ 5,00, próximo do nível atual.

Em sua avaliação, o que deve contribuir mais para ancorar as expectativas de inflação: o ritmo de cortes da Selic daqui para a frente ou a aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária?

Acho que o que influenciará as expectativas de inflação é a implementação do fiscal. Há incertezas em relação à implementação do marco fiscal e à zeragem do déficit primário. Há duas formas de se reduzir déficits: cortar gastos ou buscar receitas, o que é mais difícil porque a economia, dentro da lei, sempre procura driblar pagamento de impostos. E essas incertezas vão manter a inflação acima da meta.

Como o sr. viu a aprovação da reforma tributária na Câmara?

A reforma tributária mira o que precisa ser mirado. A simplificação e uma melhor alocação de recursos pela economia e com tributação mais homogênea. Mas, como o marco fiscal, também tem muitos desafios de implementação.

E no Senado, quais os desafios que o sr. vê para a provação da reforma tributária?

No Senado acho que o difícil será reduzir as exceções. Acho mais provável é que sejam aumentadas as exceções. No melhor cenário vai ficar como está.

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