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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Sinais de recuo da inflação

Apesar da área fiscal estar comprometida com os movimentos recentes do governo Bolsonaro, as previsões para julho sinalizam recuo na inflação

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Foto do author Celso Ming

A evolução do custo de vida no Brasil continua subindo, mas a tendência é de baixa, como se vê com o que já acontece com os preços do petróleo e das matérias-primas

A inflação de junho medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) veio alguma coisa acima do esperado. Ficou em 0,67%, a mais alta para o mês desde 2018. Em 12 meses, continua nos dois dígitos pelo décimo mês consecutivo, em 11,89%.

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O brasileiro parece conformado com esses números elevados. Mas a corrosão do poder aquisitivo é inegável e se reflete na baixa evolução do consumo, porque o orçamento já não dá conta das despesas domésticas.

Desta vez, este não é um fenômeno apenas da economia brasileira. No mundo inteiro a inflação vai-se descolando, o que semeia estresse nos mercados. Nos Estados Unidos, em maio, atingiu 8,6% em 12 meses; no Reino Unido, 9,1% - a maior em 40 anos. E na zona do euro, inflação anual voltou a atingir a máxima histórica em junho (8,6%) ao superar o recorde anterior de 8,1% registrado em maio. 

As causas são conhecidas. Primeiramente, foi a desorganização dos fluxos de produção e distribuição pela covid-19 que puxou pelos preços ao longo de 2020 e 2021. Depois, veio a recuperação, em descompasso com a oferta de bens e serviços. E, finalmente, veio a guerra na Ucrânia que provocou o choque nos preços do petróleo e das matérias-primas e nova desorganização dos fluxos a partir de fevereiro deste ano.

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O grupo Alimentação e Bebidas subiu 0,8% no mês. Segundo o IBGE, o resultado foi influenciado pela alta dos alimentos para consumo fora do domicílio, que subiram 1,26%. Foto: Daniel Teixeira/Estadão Foto:

Em parte, a inflação mundial é consequência da leniência dos grandes bancos centrais, que despejaram dinheiro demais na economia global, destinado ao combate da estagnação que veio com a pandemia. Depois que os preços dispararam, os dirigentes dos bancos centrais demoraram para reagir, sob o argumento de que a alta não é consequência da política monetária, ou seja, de dinheiro demais na economia, mas da escassez momentânea produzida pela guerra. As coisas, diziam eles, voltariam aos eixos mais ou menos naturalmente. Quando começaram a acionar os juros nos Estados Unidos, veio a reação contrária: veio o medo de brutal recessão. E é, no momento, o fator principal que está revertendo a alta do petróleo e das matérias-primas.

Não dá ainda para saber até quando contar com esse alívio, porque a guerra ainda não tem desfecho à vista.

Aqui no Brasil, a expectativa é de tombo na inflação. O Boletim Focus, do Banco Central, que afere as projeções do mercado, aponta para julho uma inflação de apenas 0,06%. Já há notório recuo dos preços dos combustíveis e de importantes alimentos, o que dá sustentação para essa expectativa. 

O elo mais fraco, onde a corda ainda poderá rebentar, está na área fiscal. Além de uma profusão de gastos que ninguém sabe a quanto andarão, porque estão no assim chamado “orçamento secreto”, o governo Bolsonaro providencia novos despejos de recursos na economia com o objetivo de comprar o voto do eleitor. Isso terá, sim, seu preço em inflação. 

*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA

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Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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