Participantes do mercado financeiro começaram a discutir a mudança do prazo de liquidação das ações na B3. A mudança é técnica, mas terá impacto direto na vida do investidor, do grande e do pequeno. Atualmente, o prazo para processar a trocar de uma ação por dinheiro demora dois dias, o chamado D+2. A meta é reduzir para um único dia, o D+1 - como já deve acontecer nos Estados Unidos a partir de 2024.
Para o investidor de um fundo de ações, por exemplo, ao invés de demorar dois dias para cair na conta na hora do saque, a espera será de apenas um dia. Entre outros benefícios, a mudança diminuirá o risco de volatilidade e de contraparte (de a outra parte não honrar a operação), segundo o chefe de Securities Services do Citi, Roberto Paolino. Só o banco americano tem a custódia de R$ 1,1 trilhão de ativos de estrangeiros no Brasil e está participando das discussões para a mudança do prazo aqui e lá fora.
A redução para D+1 não precisa de mudança regulatória, de acordo com o diretor de Operações da B3, Daniel Demattio. A B3, no papel de câmara de compensação dessas operações, tem normas e quaisquer mudanças precisam ser aprovadas por Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e Banco Central. Para se adaptarem, há ainda investimentos em automação e tecnologia que os participantes do mercado, como as corretoras, precisam fazer.
Mudança está mais avançada nos EUA
Em Wall Street, as conversas estão mais avançadas que no Brasil, com o objetivo de atingir a liquidação em um dia em um ano e meio. Na Índia, o mercado local já começou a testar a liquidação em um dia para ações menos líquidas, com a meta de levar para todo o mercado mais para frente.
Paolino, do Citi, afirma que a própria mudança nos EUA pode ajudar a acelerar as discussões para a transição aqui. Com prazos diferentes, pode haver descasamento de datas de liquidação para o investidor que faz arbitragem de ações do Brasil listadas em Nova York (os ADRs) ou de lá negociadas na B3 (os BDRs).
No passado, o prazo de liquidação no Brasil chegou a ser de 5 dias, caiu para 2 nos anos 90, período aliás em que nos EUA era de 3 dias e o Brasil acabou tendo de aumentar o prazo aqui sob pressão dos investidores americanos. Ele só foi reduzido novamente para dois dias em 2019, dois anos após os EUA também reduzirem seu prazo.