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Bastidores do mundo dos negócios

Dois meses após fusão, Arezzo e Soma perdem R$ 2,5 bi em valor de mercado

Há duvidas sobre a integração das empresas, saúde da Hering e endividamento

Foto do author Talita Nascimento
Foto do author Cristiane Barbieri
Por Talita Nascimento e Cristiane Barbieri (Broadcast)
O novo grupo defende nos bastidores ter boa geração e gestão de caixa Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 14/12/2016

Após a euforia inicial da fusão entre Arezzo&Co e Grupo Soma, as empresas de moda têm tido mais dificuldades de convencer investidores dos ganhos do negócio do que em cravar a tendência da próxima estação. À época do anúncio, em fevereiro, a Arezzo valia R$ 6,97 bilhões e o Soma, R$ 6,05 bilhões. Hoje, a Arezzo vale R$ 5,7 bilhões, mesmo tendo se tornado uma empresa bem maior. O Soma, incorporado, perdeu quase 20% de seu valor de mercado e vale R$ 4,85 bilhões. Entre os motivos, estão dúvidas quanto à capacidade de integração das companhias, questionamentos sobre a saúde da operação da Hering (comprada pelo Soma em 2021) e o endividamento da nova empresa.

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Às vésperas de completar três anos da aquisição da Hering, o grupo Soma também vale menos hoje do que ofereceu pela empresa de origem catarinense, em 2021. Em abril daquele ano, o Soma pagou R$ 5,1 bilhões pela concorrente, com o objetivo de formar o que é chamado de “house of brands” e se tornar uma grande gestora de marcas desejadas pelos consumidores. De lá para cá, o valor de mercado do Soma despencou quase 60%.

Considerada cara, a aquisição havia sido tentada 11 dias antes pela Arezzo, que oferecera R$ 3,2 bilhões pela Hering. Foi surpreendida pela oferta maior do Soma mas, numa reviravolta típica do mundo da moda, em fevereiro deste ano acabou incorporando o Soma, e as dúvidas que recaiam sobre a concorrente acabaram afetando-a de certa forma.

Razões para desconfiança

Thiago Macruz, responsável pelo time de análise de varejo do Itaú BBA, escreve, em relatório, que há três fatores principais para a desconfiança dos investidores: preocupações sobre a complexidade da integração, com base em fusões e aquisições anteriores no varejo; ceticismo quanto ao potencial de venda cruzada entre marcas, principalmente devido à potencial canibalização; e, mais recentemente, o impulso negativo dos resultados do quarto trimestre de 2023.

Para ele, porém, é pouco provável que a companhia resultante enfrente um processo de integração complexo, dado o modelo de negócio descentralizado. Mesmo com a união, os gestores de cada marca foram mantidos em suas posições. A mudança mais significativa foi o fato de Alexandre Birman, CEO da Arezzo&Co, ter passado a cuidar pessoalmente da Hering, por conta da fabricante de calçados ter uma estrutura similar à da malharia, com fabricação e franquias. A ideia seria que os problemas operacionais identificados na Hering e melhorados, mas não completamente solucionados pelo Soma, teriam mais chance de ser resolvidos.

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Das compras indigestas de varejistas, que motivam o receio dos investidores, o caso “Soma e Hering” é um dos mais emblemáticos. Para além de questões operacionais, a Hering tinha uma alavanca importante em sua lucratividade ligada a subvenções fiscais. Com o fim desse benefício, a companhia sofreu um “impairment” (ajuste contábil) de R$ 1,9 bilhão em seu valor intangível, ou seja, naquilo que não é patrimônio da empresa.

“Não há efeito no caixa da companhia, mas no resultado. Assim, todo ano, quando se projeta o futuro, a empresa vale menos”, afirma Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) . Segundo ele, muitas empresas adquiridas em momento de euforia e que tiveram boa parte de seu valor fundamentado em conceitos intangíveis devem passar por esse tipo de ajuste.

União segue promissora

Para Terra, porém, independentemente do valor de mercado das companhias, a fusão das duas é promissora. “A tese foi muito bem apresentada, especialmente no que diz respeito a sinergias e ganhos internacionais”, diz. “Sou muito mais otimista do que pessimista.” As gestões, tanto de Soma quanto de Arezzo, amadureceram com experiências de compras no passado e chegam bem posicionados para unir as companhias, ele afirma.

No que diz respeito à dívida da nova companhia, de cerca de 0,7 vez a geração de caixa medida pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) dos negócios somados, apesar de não ser alta, pode gerar algum desconforto. Isso porque outras tentativas de juntar marcas de luxo no passado terminaram com empresas que passaram ou passam por renegociações complexas de dívidas, como é o caso da Veste (antiga Restoque, dona da Le Lis Blanc, John John e Bo.bô) e da Inbrands.

Em relação a esse ponto, o novo grupo defende nos bastidores ter boa geração e gestão de caixa. Além disso, diferentemente de outros casos, as marcas estão em bom momento, sem precisar de grandes investimentos e reposicionamento. Assim, haveria muito mais ganhos de sinergias do que necessidade de aportes para que a teoria de “house of brands” se concretize.

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Potencial de crescimento

Macruz, do BBA, vê ainda potencial de crescimento da venda de calçados e bolsas das marcas Soma. Para ele, as comparações para os resultados de 2024 serão mais fáceis, levando em consideração os números de 2023.

Procuradas, a Arezzo&Co e o Soma afirmaram que “seguem dedicadas no processo de estruturação e fechamento do acordo”.


Este texto foi publicado no Broadcast no dia 16/04/24, às 16h30

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