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Bastidores do mundo dos negócios

Reservas Votorantim busca parcerias no exterior para dobrar 'ativos da natureza'

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Atualização:
Legado das Águas, maior reserva privada de Mata Atlântica    Foto: Luciano Candisani/Divulgação

A Reservas Votorantim, gestora de ativos ambientais da família Ermírio de Moraes, está em busca de parcerias internacionais. O objetivo é potencializar os recursos naturais que têm em mãos para fazer mais e, de quebra, turbinar as receitas também. Como pano de fundo, uma expectativa maior: dobrar de tamanho nos próximos anos, com soluções baseadas na natureza (NBS, na sigla em inglês), para as quais o Brasil tem capacidades ainda não exploradas.

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O momento é oportuno para garimpar negócios com o retorno dos eventos presenciais em meio à melhora da situação da covid-19 pelo mundo. O diretor da Reservas Votorantim, David Canassa, esteve na última semana em Nova York, aproveitando a tradicional agenda climática da Big Apple, que contou até com espaço exclusivo para debater o Brasil como uma 'potência verde'.

Antes da pandemia, a empresa já tinha feito iniciativas, por exemplo, com universidades, levando estudantes do exterior para uma espécie de intercâmbio nas áreas da Reservas Votorantim. Agora, está aberta para diferentes formatos de parcerias. "Nós vamos crescer. Nos próximos anos, temos capacidade de dobrar a área que a gente administra", afirma Canassa, em entrevista ao Broadcast, durante passagem por Nova York.

Empresa administra quase 80 mil hectares de florestas

Nascida de uma análise de sustentabilidade do Grupo Votorantim, que tem negócios múltiplos que vão do setor financeiro ao de mineração, há 12 anos, a Reservas administra hoje uma área de quase 80 mil hectares de florestas. Desses, 17 mil hectares equivalem a ativos de terceiros - e esse é justamente um dos motores para a empresa dobrar sua área de gestão nos próximos anos.

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Os impulsionadores para a criação da Reservas, há cinco anos, foram, porém, justamente os enormes terrenos detidos pela companhia. Apesar de estarem na lista de ativos do grupo, sob a ótica de balanço, só "davam despesas". Sem uma "bala de prata" nas mãos para fazer os territórios se pagarem por si só, a decisão foi traçar um múltiplo uso para as florestas. Ou seja, o mesmo hectare teria de gerar vários "dinheiros diferentes", nas palavras de Canassa.

Depois de um trabalho de estudo dos territórios, a Reservas Votorantim selecionou dois ativos principais. Um deles é o Legado das Águas, maior reserva privada de Mata Atlântica do Brasil, com 31 mil hectares, o que equivale à cidade de Belo Horizonte. O segundo ativo é o Legado Verdes do Cerrado, uma reserva privada de desenvolvimento sustentável, com 32 mil hectares, localizada em Niquelândia, Goiás.

A partir deles, a empresa passou a desenvolver vários negócios como a geração de créditos de carbono, reflorestamento, turismo, pesquisa. "O Legado das Águas é o grande desafio", afirma o diretor de Reservas Votorantim, relembrando as várias demandas no local sob o aspecto de vegetação, comunidade local, dentre outras.

Foco é fazer negócio com a floresta em pé

Nele, um dos focos, conforme o executivo, é fazer o negócio com a floresta em pé e ser remunerado por serviços ambientais (da sigla, PSA), cuja regulação no Brasil é recente. Tal prática não vem de hoje e começou há algumas décadas, sendo um dos exemplos mais clássicos um projeto de abastecimento de água da cidade de Nova York.

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Relatório da consultoria McKinsey indica que 15% das soluções baseadas na natureza que o mundo precisa para a descarbonização, processo de redução de emissões de carbono na atmosfera, vão sair do Brasil. Por sua vez, o Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) estima que a geração de negócios com base na natureza no País podem alcançar US$ 17 bilhões até 2030. "Esse é o mercado em que nós estamos", afirma Canassa.

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Nesse sentido, depois de desenvolver uma metodologia específica de crédito de carbono para a Mata Atlântica, a Reservas Votorantim abre amanhã (27) uma consulta pública para colher sugestões para o trabalho. Canassa aproveitou a passagem pela semana do clima, em Nova York, para divulgar a ação, que ficará aberta até a COP27, que acontece em novembro, no Egito, e é o principal palco global do debates sustentável.

"Se der certo, estamos criando a chance de a Mata Atlântica conseguir recursos para a sua manutenção no País de uma maneira significativa porque hoje quem mantém a Mata Atlântica não tem benefício algum", afirma Canassa.

Legado Verdes do Cerrado deu origem à primeira emissão de créditos de carbono

Já o Legado Verdes do Cerrado é propriedade da CBA (Companhia Brasileira de Alumínio), que pertence ao Grupo Votorantim, mas é gerido pela Reservas Votorantim. O projeto deu origem à primeira emissão de 318 mil créditos de carbono do Cerrado, atualmente em leilão. Conhecidos como REDD+, são créditos de desmatamento evitado e que até então eram uma exclusividade da Amazônia. As propostas serão aceitas até outubro e o vencedor conhecido em novembro.

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Sem abrir nomes, Canassa afirma que há interesse tanto local quanto internacional. A Reservas Votorantim prefere investidores que vão aposentar os crédito de carbono no lugar de usá-los como moeda verde, vendendo-os no futuro, a preços maiores. "A ideia é vender para quem prioritariamente vai aposentar os créditos, ou seja, precisam deles para compensar o impacto de suas emissões (de gases de efeito estufa e principais responsáveis pelas mudanças climáticas)", afirma.

Segundo ele, há várias oportunidades para a empresa dobrar o tamanho de ativos nos próximos anos. "Além de ser uma gestora de ativos ambientais, nos posicionamos como uma companhia de soluções baseadas na natureza. Tudo isso que a gente está aprendendo não fica só conosco, estamos levando para fora".

Na área de reflorestamento, por exemplo, a empresa já fez 200 hectares fora do grupo Votorantim. Há ainda uma segunda geração de negócios para ser explorada nos próximos cinco anos, diz Canassa. Uma delas é a chamada bioprospecção, que visa a geração de produtos a partir da Mata Atlântica como, por exemplo, perfumes, algo que é mais desenvolvido na Amazônia. A Reservas já fez o mapeamento genético de 63 plantas. "Na Mata Atlântica, quase nada foi explorado", afirma o executivo, sinalizando o potencial do novo mercado.

Este texto foi publicado no Broadcast+ no dia 23/09/2022, às 15h27

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