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'Desaceleração não terá grande impacto no Brasil'

Para economista, efeito só será mais intenso se a China crescer abaixo do ritmo previsto, de 8% a 8,5% este ano

Foto do author Fernando Dantas
Por Fernando Dantas e RIO

A desaceleração chinesa não deve ter grande impacto no Brasil, desde que o seu ritmo seja o previsto pela maior parte do mercado - crescendo de 8% a 8,5% em 2012. Essa é a visão de Edward Amadeo, economista da Gávea Investimentos. Ele ressalva, porém, que num cenário mais improvável de freada mais intensa haveria efeito maior nas commodities e o Brasil sentiria o abalo.Com o sr. analisa a desaceleração na China?Essa expectativa já existe há algum tempo. O resultado do quarto trimestre (8,9%) está mais ou menos em linha com o esperado, e foi até um pouquinho mais forte do que antecipado. A reação da bolsa na China foi muito positiva.O que o sr. destacaria no resultado do quarto trimestre?O que chama a atenção é como o investimento caiu, especialmente nas moradias. Os preços das residências subiram muito nos últimos dois anos na China, e o governo está preocupado, lançando medidas regulatórias para conter os preços, como dificultar compra de casas que não serão usadas (como moradia). E, como efeito disso, os dados de vendas e - agora- de construção de casas estão desacelerando muito fortemente. Qual o impacto no Brasil da desaceleração chinesa?Os analistas de modo geral preveem crescimento chinês de 8% a 8,5% este ano, um pouco abaixo de 2011. Como se vê, não é nenhum drama. É até muito bom de modo geral. Os preços das commodities vão desacelerar, mas nada demais. O resto da Ásia, que depende da China, continuará a crescer. Assim, no Brasil, não haverá nenhum impacto relevante além do que já houve - especialmente porque uma desaceleração desse tipo já está de certa forma incorporada nos preços. Há algum risco de que possa ser pior que isso?Em qualquer lugar do mundo, sempre que há desaceleração, há dúvida sobre o ritmo. Como eles estão restringindo muito o investimento em casas e também o investimento em infraestrutura financiado pelas províncias - duas áreas em que acham que exageraram em 2009 e 2010 - há o risco de que, em vez de ir para 8,5%, a economia caia para 7%. Isso significaria ter um ou dois trimestres em 2012 com uma forte surpresa negativa. É um cenário plausível. O governo chinês não reagiria?Há quem tenha dúvidas também sobre a reação do governo chinês e do banco central chinês (Banco do Povo da China) à desaceleração. Muita gente se pergunta o quanto eles estarão dispostos a estimular a economia, já que, em função dos exageros de 2009 e 2010, surgiram muitos problemas de endividamento, de risco de inadimplência dos bancos, a partir de projetos de investimento das províncias com retorno de longo prazo e duvidoso. Foi uma situação parecida com a reação do Brasil pós-crise, mas de uma dimensão muito maior. Então há o risco de a economia desacelerar mais do que se pensa, e o risco de o governo chinês reagir muito menos do que em 2009 e 2010. Mas este cenário, com impacto maior sobre o preço de commodities e, portanto, sobre o Brasil, está um pouco fora do que hoje se espera. Porque, no fundo, não há razão para o governo não reagir caso a economia desacelere mais, já que eles têm os instrumentos para isso.

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