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Disputa entre grandes da zona do euro deixa vaga aberta no BCE

Por MARC JONES

Uma disputa de poder entre Alemanha, França e Espanha deverá deixar um lugar vago no conselho do Banco Central Europeu (BCE), em meio a uma crise potencialmente devastadora para a moeda comum, que o banco foi criado para supervisionar. O espanhol José Manuel Gonzalez-Paramo deve sair do conselho do BCE -que, com seis membros, administra o banco no dia-a-dia e define a agenda para as reuniões de política monetária-, quando seu mandato de oito anos terminar no próximo dia 31. A expectativa é de que ele seja substituído pelo presidente do banco central de Luxemburgo, Yves Mersch, que agora lidera claramente a disputa com o advogado do BCE, o espanhol Antonio Sainz de Vicuña, e com Mitja Gaspari, da Eslovênia. A transição de membros do BCE normalmente é feita sem grandes problemas. No entanto, o processo estagnou, já que Alemanha, França e Espanha brigam sobre quem administrará o fundo de resgate Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (ESM, na sigla em inglês) e o Eurogrupo, que reúne os ministros das Finanças dos países que compõem a zona do euro. Esses são dois cargos importantes entre quatro disponíveis. Com a disputa política ainda em pleno vapor e os cargos provavelmente devendo ficar sem definição nas próximas semanas, três fontes do BCE afirmam que a instituição já admitiu que terá que ficar com um membro a menos por pelo menos um mês. O problema ocorre no momento em que a zona do euro faz planos de emergência caso a Grécia se torne o primeiro país a abandonar a moeda única. Para o BCE, uma saída de Atenas deixaria a autoridade monetária, e os políticos da região, lutando para manter o bloco vivo. "Eu não consigo ver (um novo membro do conselho já no cargo) antes de 1o de julho", disse uma fonte. DISPUTA DE PODER Apesar da crise, Gonzalez-Paramo teve suas responsabilidades fortemente reduzidas ao longo dos últimos dois meses, com fontes do BCE dizendo que o conselho pode facilmente operar com cinco membros. No entanto, a demora em completar o conselho do BCE não poderia ter vindo em momento mais crítico. A eleição presidencial da França foi a causa original da demora no preenchimento da cadeira vaga: Paris não estava disposta a tomar uma decisão sobre os cargos até que o seu novo líder fosse escolhido. A França também tinha a esperança de conseguir preencher uma das outras vagas importantes em jogo: o trabalho de presidente do Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento (EBRD, em inglês), que foi para o britânico Suma Chakrabarti na semana passada, ou o comando do ESM, que tem na espanhola Belen Romana Garcia o atual favoritismo para ocupar o cargo. Com o alemão Wolfgang Schaeuble também querendo chefiar as reuniões do influente Eurogrupo, que toma boa parte das decisões mais abrangentes do bloco, a França pode ficar de mãos vazias. Embora Paris ainda tenha um membro no conselho do BCE, o papel da França no cenário internacional tem diminuído desde a saída de Jean-Claude Trichet do cargo de presidente da instituição monetária, e depois da renúncia de Dominique Strass-Kahn do Fundo Monetário Internacional (FMI). A substituição de Gonzalez-Paramo tem um significado adicional, porque outra vaga no conselho do BCE não vai ficar disponível até 31 de maio de 2018. Até agora, Alemanha, França, Itália e Espanha -as quatro maiores economias da zona do euro- sempre ocuparam um assento no conselho do BCE. Se Mersch, um dos políticos mais experientes e focados em inflação do BCE, ganhar a disputa atual como o esperado, será a primeira vez que essa tradição foi quebrada.

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