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Estrangeiros estão mais otimistas com Índia e México do que com Brasil, diz economista

William Jackson, economista-chefe de Mercados Emergentes da Capital Economics, afirma considerar que os próximos passos do Fed, o banco central americano, são mais importantes para o retorno do capital externo na B3 do que fatores locais

Foto: Divulgação/Capital Economics
Entrevista comWilliam Jackson Economista-chefe de Mercados Emergentes da Capital Economics

A leve entrada de capital externo na B3 no mês de maio até a última quarta-feira, 22, se deu na esteira de um cenário externo mais positivo, visto que o doméstico se complicou em termos de política fiscal e por ruídos políticos envolvendo empresas, como no caso Petrobras, avalia William Jackson, economista-chefe de Mercados Emergentes da Capital Economics.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, ele afirma que os próximos passos do Federal Reserve (Fed, banco central americano) continuam sendo mais importantes para o retorno do capital externo na B3 do que fatores locais.

A estimativa da Capital Economics é a de que o Fed comece a cortar juros em setembro e isso faça com que a Bolsa brasileira recupere parte do fluxo perdido. Contudo, o Brasil perdeu a atratividade ante pares emergentes, com a Índia e o México se destacando como referência em termos de cadeia logística.

Confira os principais trechos da entrevista:

Maio é o primeiro mês do ano que, por ora, acumula uma entrada de capital externo na B3, de R$ 1,7 bilhão. A que se deve esse retorno do investimento estrangeiro neste mês?

No começo do ano tivemos algumas preocupações em relação à inflação e à taxa de juros americana, o que foi negativo para a entrada de capital externo para o Brasil. Mas atualmente o cenário internacional tem sido mais positivo. Tenho a expectativa de que a Fed anuncie dois cortes de 25 pontos-base (0,25 ponto porcentual) em 2024, com o primeiro corte em setembro, levando a taxa para o intervalo de 4,75%-5%.

Para Jackson, B3 poderá ter recuperação em investimentos estrangeiros assim que Fed começar a cortar juros Foto: Werther Santana/Estadão

O primeiro fator para a entrada de aportes externos na B3 continua sendo a taxa de juros dos EUA?

Sim, acho que o principal fator para os investidores estrangeiros é o cenário internacional, com os Treasuries (títulos do Tesouro americano) como o principal direcionador para determinar onde alocar. Mas a política fiscal do Brasil também atrapalha, assim como os ruídos políticos.

E como você vê a situação fiscal no Brasil? O estrangeiro tem olhado isso ou é mais o local?

A confiança do investidor estrangeiro na política fiscal do Brasil diminuiu muito. No ano passado, se sentiram tranquilos com o novo arcabouço fiscal. Se o governo cumprisse as metas, ajudaria a estabilizar a dívida pública. A decisão do governo de relaxar a meta preocupou investidores porque mostra um menor comprometimento com a disciplina fiscal — e que o novo arcabouço fiscal não atua como uma restrição rígida nos gastos do governo.

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Em termos de ruídos políticos, o receio de ingerência política após a troca de CEO na Petrobras também atrapalha a entrada de aportes externos na B3?

Sim. Não olhamos a empresa no detalhe. Acho que até tem chance de a reação negativa do mercado financeiro em relação à mudança de CEO na Petrobras ter sido muito forte, e que as ações possam vir a se recuperar. Mas acredito que os investidores estão muito preocupados com a distribuição de dividendos, e irão monitorar o que o novo comando da estatal fará a respeito disso.

O Brasil continua atrativo na comparação com outros países emergentes? Assim que o Fed cortar juros, vai ser o primeiro emergente a receber fluxo novamente?

Acho que, na verdade, vai ser difícil para o Brasil acompanhar outros emergentes. Os investidores agora estão otimistas com Índia e México, pois são países que têm sido referência nas cadeias de abastecimento fora da China, mas o Brasil infelizmente não está se beneficiando disso.

Você tem uma estimativa para o preço-alvo do Ibovespa no fim de 2024? E para a Selic?

Trabalhamos com o Ibovespa fechando o ano em cerca de 120 mil pontos. Já a Selic deve encerrar 2024 a 9,75%, porque os fatores externos parecem ter ficado mais favoráveis. Digo que uma Selic a 9% seria um corte muito expressivo e traria o risco de os problemas voltarem, mas acho que decisões do Banco Central vão depender de fatores externos e também da inflação brasileira.

Aqui no Brasil outra novidade foram as enchentes que assolam o Sul do País. Isso preocupa em termos fiscais?

Acho que vai ter certo impacto fiscal, mas não acho que os investidores estrangeiros estejam muito focados nisso agora, porque ainda é difícil estimar qual vai ser o impacto macroeconômico, na inflação. Não acho que isso vá afetar as decisões do Banco Central exatamente, e infelizmente esses cenários de alagamentos, enchentes, tendem a ser cada vez mais comuns com as mudanças climáticas.

O senhor considera possível o Brasil terminar 2024 com uma entrada externa positiva na Bolsa? Ou o valor negativo de R$ 32 bilhões é tão intenso que parece impossível reverter essa tendência?

É muito difícil de dizer, depende de muitos fatores. Acho que podemos ver o ano ainda negativo em termos de investimentos estrangeiros na B3, mas provavelmente vamos ter uma recuperação adiante assim que o Fed começar a cortar os juros.

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