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Goiana se orgulha: ''A Fiat é nossa''

Nova fábrica da montadora italiana deve entrar em operação em março de 2014, com a previsão de gerar 4,5 mil empregos diretos na zona da mata pernambucana

GOIANA (PE)Localizada a 62 quilômetros do Recife, na zona da mata norte, Goiana, município com 75.644 habitantes, se regozija. "A Fiat é nossa", diz um adesivo confeccionado pela prefeitura, estampado em vários carros da cidade, onde o assunto do momento é um só: a montadora italiana que escolheu o município para instalar uma fábrica, com investimento de R$ 4 bilhões e geração prevista de 4,5 mil empregos diretos. É natural que a cidade, que comemorou a boa-nova - anunciada oficialmente na terça-feira, dia 9 - com festa na rua, esteja em efervescência. A previsão de início das operações é em março de 2014, com a produção de 200 mil a 250 mil veículos/ano. "Goiana vai sair do marasmo", comenta o aposentado Arlindo Pereira Lima, 69 anos, que todas as tardes joga dominó com um grupo de amigos na calçada da Rua das Quintas. "Goiana vai bombar", prevê Wilson Menezes, 67. "Vai faltar habitação, vai vir muita gente para cá, vai encarecer tudo". Reginaldo Monteiro, 56, comemora: "Vamos ter problema de quem tem desenvolvimento".A turma do dominó sabe do que está falando. O marasmo econômico a que se referem está expresso em números. Em 2008, o Produto Interno Bruto (PIB) do município (R$ 541,5 milhões) representava menos de 1% do PIB pernambucano (R$ 77 bilhões). Já o PIB per capita (R$ 7,3 mil) era metade do PIB per capita do Recife. Segundo o Ministério do Trabalho, no ano passado Goiana tinha 12.194 pessoas empregadas formalmente, com rendimento médio de R$ 1.057. A monocultura da cana-de-açúcar e as duas usinas de açúcar e álcool do município - Maravilha e Santa Teresa - são responsáveis por metade dos empregos. O restante está distribuído na área de serviços, administração pública e comércio. Mais de um terço desta população empregada é de analfabetos ou pessoas que não concluíram o ensino fundamental. Somente 10% têm nível superior.Diante deste quadro, a economista Tânia Bacelar, da Ceplan Consultoria, prevê muita dificuldade para o aproveitamento da mão de obra local no novo cenário econômico. "É coisa para a próxima geração", vaticina Tânia. "Tem de preparar os jovens."Ela observa que, embora as duas usinas do município sejam competitivas, o setor sucroalcooleiro está em decadência e, de uma maneira geral, o quadro da zona da mata é de gente sem qualificação. "O desafio é o de como conseguir que a população local se qualifique para entrar nessa outra atividade." Para Tânia Bacelar, o que ocorreu com a instalação da Fiat em Betim (MG) e da Ford em Camaçari (BA) deve se repetir em Goiana. "Naquelas cidades, no início, o grande contingente de mão de obra veio de fora; gradualmente é que foi se internalizando".A economista avalia que a vinda da Fiat vai consolidar a diversificação da economia da zona da mata norte, onde só recentemente começou a sair do papel a tentativa de instalação de um polo farmacoquímico iniciada ainda no governo anterior (Jarbas Vasconcelos, PMDB). No governo Eduardo Campos (PSB), reeleito, começou a construção de uma fábrica de hemoderivados da Hemobrás e de uma fábrica de medicamentos da Novartis. Recentemente, o grupo Brennand decidiu implantar uma fábrica de vidro no município, onde já existe uma fábrica de cimento da Votorantim. Crescimento. O prefeito Henrique Fenelon (PC do B) garante que vai evitar a ocupação desordenada da periferia da cidade por desempregados em busca de trabalho. Segundo o secretário municipal de Planejamento, André Ramos, esse crescimento desordenado foi registrado nos municípios metropolitanos de Cabo de Santo Agostinho e de Ipojuca, na área do complexo industrial e portuário de Suape. Em Goiana, o tranquiliza o fato de o município ser alvo do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, que pretende construir ali 3 mil habitações populares. A prefeitura trabalha com a perspectiva de ver a população crescer de 35% a 40% nos próximos oito anos. Conta com a própria Fiat e com os governos federal e estadual, para garantir, por meio de parcerias, melhores condições de segurança, saúde, educação e qualificação profissional. Abastecimento de água e saneamento não são problemas. "Em quatro anos, todo o município estará saneado", diz Ramos, ainda sem noção real do que acontecerá em Goiana."Ainda não dá para dimensionar de forma consistente", reconhece, ao lembrar que a Fiat traz, com ela, uma cadeia produtiva. "Só na planta da montadora estarão 20 empresas fornecedoras." Presidente da Associação dos Microempresários de Goiana, o comerciante Beltemires Castro já imagina a cidade com shopping center e comércio mais diversificado e sofisticado. "Hoje temos um público, amanhã será outro", diz, ao observar que quem quiser se beneficiar da onda de desenvolvimento terá de se antenar para os novos nichos de mercado. Dono de uma loja de calçados, ele tem em mente "dois outros planos de negócios" que mantém em segredo.Paraíba de olho. O governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), avalia que o seu Estado será beneficiado com a instalação do polo industrial da Fiat em Goiana, que fica a 51 quilômetros de João Pessoa. Sua expectativa é de que pelo menos 40% dos 4,5 mil empregos diretos sejam buscados na Paraíba. "O governo vai chamar para si a responsabilidade de formar mão de obra direcionada para essa atividade", promete.

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