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‘Meu instituto não é um negócio, é uma missão’, diz fundador do Olga Kos

Engenheiro fala de sua tarefa de acolher e preparar pessoas com necessidades especiais para vida

Por Sonia Racy
Atualização:
Foto: Divulgação / Instituto Olga Kos
Entrevista comWalter KosFundador da Virgo e do Instituto Olga Kos

Ajudar crianças, jovens e adultos com necessidades especiais tem sido, nos últimos 15 anos, o objetivo central na vida do carioca Wolf Kos, que pouco tem a ver com sua profissão. Ele é engenheiro civil – com vitoriosa carreira em áreas como perícia ambiental e impermeabilização em barragens – e depois na direção de sua própria empresa, a Imóvel. Kos ainda fundou a Isec, transformada na empresa de seguros Virgo.

Foi em 2007 que o seu olhar atento para a cultura, saúde e inclusão social resultou na criação do Instituto Olga Kos de Inclusão Cultural (Olga é sua mulher e dirige o IOK) – base para projetos artísticos e esportivos via leis de incentivo fiscal. Suas pesquisas mostraram que “a grande dificuldade de pessoas com deficiência é a comunicação”. E que essas pessoas precisam de três coisas para inclusão na sociedade: “A família, a sua vontade e a comunidade”. E saiu criando projetos – em artes marciais, caratê, teatro, música, dança, capoeira, futsal e basquete –, que atende 4,5 mil pessoas. Nesta entrevista ao Estadão, ele vai ao cerne da questão: “Meu instituto não é um negócio, é uma missão”.

Como tem sido o trabalho do Instituto Olga Kos?

O IOK nasceu em 2007 com o objetivo de fazer inclusão de pessoas com deficiência <CF742>(PCD)</CF>. Descobrimos que a maior dificuldade dessas pessoas é a comunicação. Vendo a arte como uma forma de comunicação, começamos com oficinas de artes plásticas. Em 2009, fizemos um concurso público com o Creci-SP para pessoas com deficiência intelectual. Aprendemos que essas pessoas precisam de três coisas para serem inclusivas: a família, a sua vontade e sua comunidade. A família é importante porque une, esconde ou superprotege. E a comunidade tem de entender que o tempo dela é um e o deles é outro.

Onde são ministradas essas oficinas? Há uma sede?

Como a locomoção é cara e difícil, decidimos ir até onde estão essas pessoas. Atualmente, estamos em 180 lugares em São Paulo – como Nova Cachoeirinha, Morumbi, Guarulhos, Jundiaí, Campo Limpo... Atendemos 4,5 mil pessoas, em oficinas e aulas de artes, fotografia, artes marciais, música e modalidades esportivas.

Walter e Olga Kos; casal trabalha junto no instituto Foto: Iara Morselli / Estadão

Como estão as doações no Brasil pós-pandemia?

Atualmente, é possível manter uma ONG via leis de incentivo. Na pandemia, as doações diminuíram um pouco, mas já estamos retomando os níveis de antes da covid.

E as doações feitas por pessoas físicas?

Começou um movimento muito grande, no Brasil, em que as pessoas físicas começaram a se dar conta de que podem doar via Imposto de Renda. Não temos ainda uma cultura 100% de doação, mas isso vem crescendo. Há 16 anos eu achava que, por ter relacionamento com grandes empresas, seria fácil captar. Não foi assim. Mesmo em empresas com lucro real, muitas vezes o seu segundo escalão ainda não tem essa cultura.

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Isso faz diferença?

Sim, porque uma grande empresa pode colocar no seu relatório social as ações internas ou comunitárias, mas das doações via IR não falam. Algumas só agora têm participado dos nossos eventos. E, por incrível que pareça, isso gerou doação espontânea dos funcionários.

Vocês constataram, em pesquisas, que o ambiente de trabalho é fundamental para criar uma atitude mais solidária. Como foi isso?

Passamos dois terços de nossas vidas no ambiente de trabalho. Daí, perguntamos como é acolher nesse espaço uma pessoa preta, ou idosa, com deficiência intelectual, ou cega, surda, ou minoria de qualquer tipo, religiosa ou racial. Fizemos essa pergunta aos especialistas – e a resposta é simples. Você tem cinco variáveis. A primeira é a questão arquitetônica, que é o espaço adequado para um cadeirante, para um cego, um surdo. Como um surdo participa de uma reunião online? Depois vem o acolhimento, é uma questão atitudinal. Esse <MC0>PCD tem de se sentir em casa. A terceira é a comunicação, a quarta, metodológica. Que método eu adoto? Como criar um modo de tornar isso natural? E a quinta é programa. Como pego uma pessoa dessas e transformo em membro do meu board?

As empresas estão atentas a todos esses detalhes no processo de inclusão?

Hoje é uma tendência, uma grande pauta mundial, o “S” do ESG, que é a questão social. Mas nós criamos, com o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), métricas para certificar que uma empresa atende a esses requisitos. Essas métricas também foram endossadas pela Federação Nacional de Acreditação e estão sendo objeto de projeto de lei (2.945/2023) do deputado Antônio Brito.

O que vê daqui para frente, nesse seu compromisso?

Além dessa iniciativa, quero lembrar que fui convidado pelo presidente da República para levar ao Comitê de Diversidade essa métrica e mostrar que as desigualdades do País têm de ser tratadas de formas igualitárias. Para se fazer inclusão no País, temos de ter adoção, temos de ter lei, ter comunicação. É outro objetivo maior do instituto: fazer as empresas entenderem que toda vez que adotam a diversidade elas se colocam mundialmente como líderes de setor.

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