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O outro lado da notícia

Opinião|Racha em relação a atos do dia 4 revela obstáculos para união da direita em 2026

Sem o apoio de Bolsonaro e de seus aliados às manifestações, centro-direita volta às ruas, para tentar viabilizar candidatura competitiva no próximo pleito

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Foto do author José Fucs
Atualização:

O racha da direita e da centro-direita em relação às manifestações programadas para o dia 4 de junho, em protesto contra o intervencionismo do Judiciário na vida política do País, as ameaças à liberdade de expressão e a perda do mandato do deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR), determinada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), vai muito além das divergências sobre a realização dos atos.

Apesar de as eleições de 2026 ainda estarem muito longe e de o governo Lula ter apenas começado, ainda que pareça para muita gente que ele já está há anos no poder, a divisão em relação às manifestações do dia 4 revela as dificuldades existentes no horizonte para que haja a união das forças de direita e de centro-direita com vistas à próxima disputa presidencial.

Manifestações pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e contra a corrupção uniram grupos de direita e centro-direita na Avenida Paulista, em São Paulo, em 2015 e 2016 Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

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Ao não aderir aos atos do dia 4, o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados parecem acreditar que poderão enfrentar a esquerda em 2026 sem o suporte dos grupos de centro-direita envolvidos nos protestos, como MBL (Movimento Brasil Livre), Vem Pra Rua e Partido Novo, além de lavajatistas e liberais desgarrados, que atuam à margem dos grandes partidos políticos do País.

Para não dar cobertura a um ato que tem como um dos organizadores o MBL, que se colocou frontalmente contra o governo Bolsonaro, inclusive com críticas ásperas – e muitas vezes oportunistas – ao ex-ministro da Economia Paulo Guedes, o ex-presidente e sua turma preferiram demarcar seu território e ficar à margem das manifestações.

Segundo relatos de quem acompanha o MBL de perto, o grupo teria até flertado recentemente com Ciro Gomes, ex-candidato do PDT à Presidência, colocando em xeque sua alegada inclinação liberal. Apesar de o MBL ser considerado “de direita” pela esquerda, em razão do papel relevante que desempenhou nas manifestações pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2015 e 2016, muitos bolsonaristas têm outra percepção e fazem o possível para deixar isso claro nas redes sociais e fora delas, com apupos de todos os tipos ao movimento.

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Além disso, parece que Bolsonaro e sua tropa de choque também se mostraram incomodados com o protagonismo conferido pelos organizadores dos atos a Dallagnol e ao senador e ex-juiz Sérgio Moro (União Brasil-PR), que se tornou um dos principais desafetos do ex-presidente desde que deixou o governo em 2020, apesar de ter aderido à sua candidatura à reeleição no segundo turno, no ano passado. Com várias ações pendentes na Justiça, Bolsonaro parece não ter qualquer interesse no momento de estar ao lado de Dallagnol e Moro, que viraram alvos frequentes de críticas de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

Diante deste quadro, tudo indica que a direita e a centro-direita, quer ela inclua ou não o MBL, deverão marchar separadas em 2026. Ao contrário do que aconteceu nas manifestações pelo impeachment de Dilma, que pavimentaram o caminho para a eleição de Bolsonaro em 2018, no auge da operação Lava Jato, a tendência é de que, em 2026, repita-se o racha que acabou levando à vitória de Lula em 2022, com o apoio de parte das forças de centro-direita e do centro, que “fizeram o L” no segundo turno “pela democracia”.

Ainda há, é certo, a possibilidade de surgir até lá uma candidatura competitiva que consiga unir a direita, a centro-direita e até uma parcela do centro, para enfrentar o PT e a esquerda no próximo pleito. Alguns analistas acreditam que o governador de Minas, Romeu Zema, do Novo, que conquistou a reeleição no segundo maior colégio eleitoral do País em primeiro turno e apoiou Bolsonaro no segundo, pode ser uma solução. Outros dizem que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ex-ministro de Bolsonaro, seria a melhor opção, embora o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, secretário de Governo paulista, tenha dito que ele deve evitar a disputa pela Presidência e buscar a reeleição ao Palácio dos Bandeirantes.

A sinalização dada pelo racha em relação aos atos do dia 4, porém, não traz bons presságios nessa direção. Pelo andar da carruagem, a perspectiva é de que o bolsonarismo tenha o seu próprio candidato, com a força eleitoral de que o ex-presidente ainda dispõe, apesar de tudo que pesa contra ele, e que a centro-direita busque seu próprio espaço, entre o bolsonarismo e o lulismo. Mas, para se tornar uma alternativa viável na eleição, a centro-direita terá pela frente o desafio de estruturar um discurso original e popular para a sua causa, com apelo para o cidadão comum. Caso contrário, dificilmente conseguirá romper a polarização que ainda persiste no País.

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Opinião por José Fucs

É repórter especial do Estadão. Jornalista desde 1983, foi repórter especial e editor de Economia da revista Época, editor-chefe da revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, editor-executivo da Exame e repórter do Estadão, da Gazeta Mercantil e da Folha. Leia publicações anteriores a 18/4/23 em www.estadao.com.br/politica/blog-do-fucs/

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