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Economista

Opinião|Por que não esperamos que homens cuidem, de fato, de seus filhos?

Hoje, licença-paternidade garantida por lei é de apenas cinco dias; homens precisam se apoderar do papel de cuidadores

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“É esperado que mulheres tirem licença-maternidade, mas não é esperado que homens tirem uma licença equivalente”, disse Claudia Goldin, professora de economia especialista em gênero, Nobel em 2023, em uma entrevista.

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Hoje, temos 63% dos países do mundo com alguma regulamentação sobre licença-paternidade, segundo o World Policy Analysis Center. Desses, a maioria ainda diferencia licença-maternidade e paternidade, institucionalizando que o papel da mãe cuidadora é diferente do atribuído ao pai cuidador. No Brasil, a licença-paternidade é de 5 dias – 20 dias para empresas cidadãs. Recentemente, o Supremo decidiu que há omissão legislativa sobre a regulamentação da licença-paternidade. A sociedade civil, como a Coalizão Licença-Paternidade, que tem o lema “5 dias é pouco”, cobra mudanças do Legislativo.

Por que não esperamos que homens cuidem, de fato, de seus filhos? As respostas dos economistas da área são muitas: uma visão tradicional de divisão de trabalho por gênero, normas culturais, custos para os empregadores, prioridades políticas.

Homens formam o “establishment” político e econômico. São eles os tomadores de decisão. Logo, a razão fundamental para não termos licença-paternidade igualitária é porque os homens, em média, não querem cuidar de seus filhos. Essa escolha social revela a preferência coletiva de quem detém o poder de decisão na formação de políticas públicas.

Atualmente, os cinco dias de licença são concedidos apenas ao pai dos recém-nascidos Foto: Miguel Ugalde/Free Images

Em uma conversa com a psicanalista Vera Iaconelli sobre seu livro O manifesto Anti-maternalista, ouvi dela que muitas mães manifestam uma vontade de serem “pais”, e não “mães”. A ideia se baseia na percepção de que a paternidade é leve, prazerosa, mais livre. A maternidade, erroneamente colocada como algo natural à mulher por vocação, vem com um peso característico a ela própria. Em seu livro, Vera traz trabalho histórico interessante sobre como a visão de que é natural para a mulher cuidar de suas crias é algo relativamente moderno na história da humanidade.

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Economistas reforçam os benefícios sociais e econômicos da licença-paternidade. Um benefício importante é permitir que mulheres desenvolvam papéis sociais além da maternidade sem abdicar da possibilidade de serem mães. Uma visão mais igualitária de paternidade faria com que mulheres fossem, portanto, mais livres.

Para isso, homens terão de se apoderar do seu papel de cuidadores. Homens precisariam ser mais do que apenas “pais”. “As mulheres não se afastam do trabalho porque têm maridos ricos”, disse Claudia Goldin. “Elas têm maridos ricos porque se afastam do trabalho.”

Opinião por Laura Karpuska

Professora do Insper, Ph.D. em Economia pela Universidade de Nova York em Stony Brook

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