BRASÍLIA - O Banco Central (BC) informou nesta sexta-feira, 29, que Nilton David, chefe de operações da tesouraria do Bradesco, foi indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a diretoria de Política Monetária do BC. Ele substituirá Gabriel Galípolo, que deixará essa diretoria para presidir a autarquia a partir de 2025. A mensagem será encaminhada ao Senado na próxima semana, segundo nota da autoridade monetária.
Também foram escolhidos Gilneu Vivan (hoje chefe do departamento de regulação do sistema financeiro do BC), para a diretoria de Regulação, em substituição a Otávio Damaso, e Izabela Correa (hoje secretária na Controladoria-Geral da União), para a diretoria de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta, hoje ocupada por Carolina Barros.
Economistas do mercado financeiro ouvidos pelo Estadão/Broadcast elogiaram a escolha dos nomes e destacaram que as indicações valorizaram a capacidade técnica e a autonomia do Banco Central e também contemplaram a representatividade feminina (leia mais abaixo as repercussões).
O Estadão/Broadcast apurou que Nilton David liderou mudanças importantes na tesouraria do Bradesco, entre elas a reestruturação das mesas de negociação, separando de forma mais clara as operações feitas com recursos próprios das realizadas com recursos dos clientes. Além disso, reorganizou a mesa de negociação de títulos do Tesouro, o que levou o Bradesco à liderança de mercado.
Como líder da tesouraria, David chefia mais de 20 “traders”, distribuídos entre São Paulo, Estados Unidos e Europa. Ficam sob sua responsabilidade atividades como negociações de juros, títulos do Tesouro, câmbio e ações, entre outros.
David tem ampla experiência de mercado. Antes do Bradesco, passou por instituições como Morgan Stanley, Citi, Barclays e Goldman Sachs. Na maior parte delas ocupou cargos de chefia nas operações de mercado, com foco em câmbio e nos mercados locais.
O currículo dos três indicados
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O Branco Central divulgou nesta sexta-feira, 29, os seguintes currículos dos três indicados pelo presidente Lula à diretoria da instituição:
Nilton José Schneider David — Política Monetária
Atualmente é chefe de Operações Tesouraria do Banco Bradesco. Tem grande experiência no mercado financeiro, tendo trabalhado em diversas instituições no Brasil e no exterior. É graduado em Engenharia de Produção pela Escola de Engenharia Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).
Gilneu Francisco Astolfi Vivan — Regulação
É servidor do Banco Central do Brasil desde 1994, atualmente é chefe do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro (Denor). Mestre e bacharel em Economia pela Universidade de Brasília (UnB) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Até o início de 2024, atuou como chefe do Departamento de Monitoramento do Sistema Financeiro Nacional. Também representou o Brasil em diversos grupos internacionais, tais como Analytical Group on Vulnerabilities, do Financial Stability Board, responsável por avaliar as ameaças ao sistema financeiro mundial.
Izabela Moreira Correa — Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta
É servidora do Banco Central do Brasil desde 2006 e a atual secretária de Integridade Pública da Controladoria-Geral da União. Foi pesquisadora de pós-doutorado na Escola de Governo da Universidade de Oxford e possui doutorado em Governo pela London School of Economics and Political Science (2017). É mestre em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e graduada em administração pública pela Escola de Governo da Fundação João Pinheiro.
Como foi a repercussão às indicações
Economista da consultoria A.C. Pastore & Associados e ex-diretor do Banco Central, Alexandre Schwartsman avalia que a indicação de um nome do mercado para a diretoria de Política Monetária da autarquia é positiva.
Os nomes de Izabela Correa e Gilneu Vivan — indicados, respectivamente, para as diretorias de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta e Regulação — parecem ter perfil técnico similar aos que estão saindo, diz Schwartsman.
O diretor da consultoria Eurasia Group, Silvio Cascione, afirma que os nomes indicados “estão dentro do perfil esperado, buscando reforçar que o BC vai continuar com autonomia”.
Cascione afirmou ao Estadão/Broadcast que o BC, assim, seguirá mesclando perfil de carreira e oriundos do setor privado, “sem vinculação política”.
A escolha de Nilton David para o lugar de Gabriel Galípolo na diretoria de Política Monetária é bastante acertada, na avaliação do gestor e sócio-fundador da Legacy Capital, Felipe Guerra. “Finalmente uma surpresa positiva”, disse Guerra.
“Nilton David é sem dúvida nenhuma a melhor indicação deste governo Lula. É muito gabaritado para o cargo”, afirmou o gestor ao Estadão/Broadcast. “É muito experiente no mercado de câmbio. Entende profundamente de derivativos.”
A indicação do chefe de Operações de Tesouraria do Bradesco, Nilton David, para a Diretoria de Política Monetária do BC recebeu elogios também de Fernando Honorato Barbosa, o economista-chefe do banco, que, inclusive, para muitos no mercado era tido como um dos cotados para ocupar a cadeira de Gabriel Galípolo a partir de 1º de janeiro.
“Não haveria nome melhor para estar nessa cadeira. Entende tudo de mercado, é ponderado e espírito republicano. Foi uma excelente escolha, pode me cobrar”, disse Honorato ao Estadão/Broadcast.
Honorato diz não ter dúvidas de que o nome de Nilton David será imediatamente bem aceito pelo mercado.
“Nilton David é um operador experiente de mercado, tendo passado por várias instituições globais e locais. Tem vasta experiência nos mercados de juros, câmbio e de capitais. Além da sua formação técnica, Nilton David sempre se engajou e provocou debates sobre formas de aperfeiçoar as instituições brasileiras e o mercado de capitais, com vistas a favorecer uma expansão mais sólida e sustentável da economia do País”, disse.
Ainda, segundo Honorato, o indicado para a vaga de Gabriel Galípolo fez mudanças positivas para organizar melhor o fluxo do negócio de tesouraria do Bradesco.
‘Nomes técnicos e experientes’
O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, elogiou os indicados a três diretorias do Banco Central. Ele afirmou que os três nomes são técnicos e devem contribuir para os papéis de autoridade monetária e de regulador do BC
“Os três indicados para ocupar a nova diretoria do Banco Central, a partir de janeiro de 2025, são nomes técnicos e experientes em suas áreas de atuação, com grande potencial para contribuir com o inafastável papel do BC na condução da política monetária e de promoção da regulação prudencial e da estabilidade financeira”, afirmou ele em nota.
Representatividade feminina e apoio à autonomia’
A Associação Nacional dos Analistas do Banco Central (ANBCB) afirmou, por meio de nota, que a indicação de três novos diretores para a autoridade monetária é importante por dois aspectos: apoio à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 65, de autonomia financeira e orçamentária para o BC, e representatividade feminina.
“A diretoria atual já defendeu publicamente a PEC 65 como necessária para dotar o BC da autonomia plena, garantindo as condições estruturais para assegurar que a instituição seja capaz de empreender iniciativas que entreguem seu pleno potencial à sociedade. Há uma expectativa de que os novos diretores também se engajem para viabilizar a medida”, disse em nota a vice-presidente da ANBCB, Fabiana Carvalho.
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Também em nota, a presidente da associação, Natacha Gadelha, disse que foi importante a indicação de uma mulher para a diretoria. “Apesar de no quadro de pessoal do BC sermos 23%, as mulheres são maioria no País (51,5%), não manter pelo menos uma mulher na diretoria seria um retrocesso”, afirmou.
“A ANBCB reforça o apoio aos esforços da diretoria colegiada para a garantia de diversidade no quadro do BC e para a aprovação da PEC 65 com o texto que assegure a autonomia plena da instituição em suas três dimensões. Além disso, deseja um bom mandato aos três indicados uma vez aprovados para os respectivos cargos”, disse a associação.
A Zetta, entidade que representa fintechs como o Nubank, parabenizou os três indicados para a diretoria do Banco Central. Por meio de nota, a entidade reforçou o seu “apoio à autoridade monetária, bem como o compromisso da entidade em seguir trabalhando junto ao regulador por um setor financeiro mais inovador, inclusivo e competitivo”. /Com Caroline Aragaki, Célia Froufe, Francisco Carlos de Assis, Karla Spotorno e Matheus Piovesana
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