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Gelo chique usa folha de ouro, tem marca em relevo e custa até R$ 3 por pedra; conheça

De carona na explosão da coquetelaria, duas fabricantes de gelo especial em São Paulo veem chance de ampliar seus negócios com base em ideias inusitadas

Por Lílian Cunha
Atualização:

ESPECIAL PARA O ESTADÃO – Nem parece que é só gelo. E, na realidade, não é. O bloco perfeitamente transparente, com o logo do bar em uma das faces, medindo exatamente 50 milímetros na base e 60 milímetros de altura, chama a atenção dos clientes que fotografam e postam a imagem em suas redes sociais. Mal sabem eles que aquela pedra enorme é um símbolo de um novo negócio: a produção e venda de gelo especial para coquetelaria.

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Duas empresas disputam esse mercado em São Paulo: a Companhia Paulistana de Gelo (CPG) e a Ice4Pros. Cada pedra pode chegar a custar R$ 3 – o mesmo preço de um saco de gelo comum, de 5 quilos, vendido em postos de gasolina.

O que o gelo tem de diferente? Além de formatos inusitados – como o bloco para fazer Negroni (drinque à base de gim e vermute), as esferas, os cubos perfeitos ou os em forma de diamante –, eles são perfeitamente transparentes. Não têm o aspecto branco de gelo feito no “freezer” de casa nem rachaduras. E demoram para derreter. Uma pedra dessas leva de três a quatro vezes mais tempo que o gelo comum para se desfazer na bebida. “É um gelo que não tem bolhas de ar dentro dele”, explica Rodrigo Pereira, um dos nomes à frente da CPG.

A água também é diferente. “Usamos um filtro de água que é 1,2 mil vezes mais potente do que um filtro de barro. Fica próxima à água usada em medicamentos. Isso tudo garante uma cristalização perfeita”, conta Rodrigo Campos, fundador da Ice4Pros.

Rodrigo Pereira, da CPG: efeito ultratransparente Foto: Werther Santana/Estadão

Diante de um gelo tão cristalino, a criatividade dos fabricantes voa: tem gelo com casquinha de laranja dentro, com folhas de ouro comestível, com taça da Copa do Mundo e enfeites de Natal. Há ainda um tipo que, se colocado sobre um guardanapo com a logomarca do bar, acaba ampliando a imagem e cria um efeito que os clientes adoram fotografar.

Por que a demanda cresce tanto?

E por que os bares e restaurantes pagam para colocar gelos especiais em seus coquetéis? A razão é simples: isso dá lucro. Em vez de encher um copo de bebida com gim, vodca ou uísque – boa parte do volume do drinque fica por conta do gelo, que é caro, mas bem mais barato que os destilados.

Usamos um filtro de água que é 1,2 mil vezes mais potente do que um filtro de barro. Fica próxima à água usada em medicamentos. Isso tudo garante uma cristalização perfeita”

Rodrigo Campos, fundador da Ice4Pros

“Além disso, os bares buscam oferecer novas experiências para seus clientes, para poder competir num mercado que está cada dia mais disputado”, explica Jaime Recena, diretor de relações governamentais da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).

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Recena diz que o gelo dá uma “roupagem” diferente para o coquetel. Assim que o drinque é servido, os clientes ficam surpresos com a apresentação e começam a tirar fotos. “E os bares querem isso: um cardápio que seja ‘instagramável’”, diz o diretor.

Marca na pedra

“Quem diria que um dia gelo viraria plataforma de marketing?”, diz Campos, da Ice4Pros. A empresa, fundada em 2017 depois de o empresário conhecer os gelos especiais numa viagem à Califórnia, tem fábrica própria no bairro da Barra Funda, em São Paulo, de onde saem 250 mil unidades por mês, em média.

Os clientes não são apenas os bares e restaurantes. Além de vender para pessoas físicas (entusiastas da coquetelaria, que participam até de um clube de assinatura de gelo), a Ice4Pros atende a eventos.

Rodrigo Pereira, da CPG: cubos em formatos diferentes, como os especiais para Negroni Foto: Werther Santana/Estadão

“A gente imprime a marca da empresa no gelo. Num evento, a pessoa fica segurando o drinque e conversando de 30 a 40 minutos. E a marca da empresa fica ali, na cara dela. É uma estratégia muito boa”, diz ele, que também faz essa personalização para casamentos.

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A CPG é mais focada no mercado de bares, restaurantes e hotéis. Mas nem por isso está crescendo menos. Antes da pandemia, a CPG, que foi fundada em 2018, tinha quatro máquinas de gelo. Elas têm motores que mantêm a água em movimento durante o congelamento, para que o líquido se solidifique de maneira mais cristalizada.

A empresa aumentou a capacidade de produção em 150% depois de paralisar tudo durante a quarentena. E se prepara para abrir filiais em outras cidades. “A ideia é ter a Companhia Carioca de Gelo, a mineira e assim por diante”, diz Pereira.

A estratégia de expansão geográfica tem sua explicação: como o produto derrete, mas é relativamente barato, distribuir o gelo por meio de veículos refrigerados tem um limite. Além de 150 quilômetros, o frete fica mais caro que o gelo e inviabiliza a operação. A CPG, que passou de 30 bares no seu primeiro ano para os atuais 200 clientes assíduos, vê chão para crescer mais. “São mais de 11 mil bares no Brasil”, diz Pereira.

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Foco nos coquetéis

A expansão da coquetelaria no Brasil é a raiz dessa nova indústria de gelos. “Há sete anos, os bares serviam só cachaça, cerveja e um vinhozinho, no máximo uma caipirinha”, diz Recena, da Abrasel.

Com um esforço de marketing de grandes empresas de bebidas, como a Diageo, fabricante do gim Tanqueray, esse campo foi se desenvolvendo e a mania dos drinques, criando raízes.

Negroni é exemplo de drinque que exige gelo especial Foto: Daniel Teixeira/Estadão

“Neste ano, por exemplo, em conjunto com a Diageo, vamos formar 500 bartenders”, diz Recena. A fabricante de bebidas também sai ganhando. Em seu relatório anual, publicou que as vendas de seus destilados no Brasil tiveram um crescimento de 32% de 2021 para 2022.

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