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Energia eólica: ArcelorMittal e Casa dos Ventos anunciam investimento de R$ 4 bi na Bahia

Entrada em operação da usina de 553,5 MW está previsto para 2025, e será possível instalação de mais 100 MW de energia solar

Atualização:

A siderúrgica ArcelorMittal Brasil, uma das dez maiores consumidoras de energia do País, e a desenvolvedora de projetos Casa dos Ventos anunciaram nesta terça-feira, 18, a criação de uma joint venture para construção e operação de um complexo eólico na Bahia.

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As empresas afirmam ser o maior contrato corporativo de fornecimento de energia renovável do País. Além do tamanho, o acordo se diferencia entre os contratos usuais de autoprodução pela participação mais ativa da siderúrgica prevista na governança, algo que as empresas classificaram como inédito.

O acordo prevê o desenvolvimento conjunto do Complexo Eólico Babilônia Centro, com 553,5 megawatts (MW) de capacidade instalada, o que deve consumir R$ 4,2 bilhões em investimentos. A previsão é que a mobilização para as obras seja iniciada no fim de 2023 e as primeiras turbinas entrem em operação em 2025.

O início do suprimento para a siderúrgica ocorrerá em 2026, estendendo-se por 20 anos, prorrogáveis por mais 15 anos. Está prevista ainda a opção de as empresas desenvolverem, no futuro, um projeto solar de 100 MW na mesma área do complexo eólico, o que tornaria a usina híbrida (com duas fontes).

O anúncio ocorre em meio a um cenário de preços desafiador para esse tipo de acordo. A hidrologia levou os valores do megawatt-hora a patamares muito baixos no mercado de curto prazo, o que vem influenciando os preços da energia nos contratos de mais longo prazo. Os preços futuros também são pressionados por uma perspectiva de sobreoferta de energia nos próximos anos no País. Diante disso, muitos consumidores têm adiado decisões envolvendo suprimento de longo prazo.

Mas a decisão da ArcelorMittal tem como pano de fundo a necessidade de garantir energia futura para atendimento de um crescimento expressivo de capacidade ao longo dos próximos anos, dando previsibilidade de custo e fornecimento, associado a uma estratégia global da empresa de descarbonização, com metas de redução de emissões de CO₂ em 25% até 2030 e de alcançar a neutralidade até 2050. Adicionalmente, comentou o presidente da ArcelorMittal Brasil, Jefferson de Paula, o projeto da usina possui uma taxa de retorno “interessante, até maior que a de projetos que tivemos dentro do aço”.

Segundo o executivo, o grupo já se comprometeu com investimentos de mais de R$ 7 bilhões na expansão de seu parque produtivo no País, tanto em aços planos, como em longos. Com isso, o consumo de energia elétrica da empresa deve aumentar em cerca de 50%, passando dos atuais 500 MW médios para 750 MW médios.

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A ArcelorMittal Brasil terá 55% de participação na joint venture e a Casa dos Ventos, do setor de energias renováveis, os 45% restantes Foto: Pascal Rossignol/Reuters

Atualmente, a siderúrgica já possui ativos de geração que atendem a 50% de suas necessidades atuais de energia, entre uma hidrelétrica em Minas Gerais e uma termelétrica a gás no Espírito Santo. Com o projeto eólico Babilônia, a ArcelorMittal vai garantir o atendimento de aproximadamente 40% das necessidades de energia da empresa em 2030.

Jefferson de Paula disse que, no momento, a companhia não analisa outras oportunidades para ampliar a geração própria, mas indicou que a meta da companhia é chegar a 2030 com 100% do consumo de energia em fonte renovável. Ele não descartou novos investimentos, embora tenha sinalizado a intenção de desenvolver também a frente de créditos de energia renovável.

Participação ativa

A ArcelorMittal terá 55% da joint venture e participação ativa durante todo o processo de construção e operação da usina, em um modelo diferente do que vem sendo adotado nos contratos mais recentes de autoprodução, em que a construção e operação ficam a cargo do gerador, enquanto o consumidor se mantém como sócio apenas para garantir isenção de determinadas tarifas e encargos setoriais, garantindo melhor condições de custo da energia.

A siderúrgica ficará com aproximadamente 90% da garantia física da usina, o correspondente a 267 MW médios, montante maior que o consumo de alguns estados brasileiros, configurando-se no maior contrato corporativo já assinado no País. Os cerca de 10% restantes serão vendidos no mercado livre, em uma estratégia que será definida em parceria entre as empresas.

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De Paula salientou que a intenção da companhia, ao ter um papel de maior protagonismo na gestão do complexo, é aprender. “A ArcelorMittal é empresa de aço, mas somos um dos dez maiores consumidores de energia no País; energia elétrica é importante nos nossos custos e resolvemos estrategicamente não só comprar, mas participar da construção porque é um negócio importante”, disse.

Ele lembrou que a companhia também tem operações na mineração no Brasil, para garantir suprimento de minério, e comentou que a empresa também já entrou em projetos de energia na Argentina e na Índia.

De Paula não descartou a possibilidade de criação de uma unidade de negócios em energia, mas salientou que no momento não tem nenhuma decisão tomada nesse sentido. “Energia é vital, se algum dia acharmos oportunidade, podemos ir em frente”, disse.

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Projeto competitivo

O diretor-executivo da Casa dos Ventos, Lucas Araripe, destacou que, mesmo diante do cenário atual para os preços da energia, com valores historicamente baixos, o Complexo Babilônia Centro terá valor de MWh competitivo. Ele não revelou números, mas indicou que o preço com o qual as empresas estão trabalhando está abaixo dos patamares históricos com os quais o mercado vinha trabalhando, da ordem de R$ 250 a R$ 260 por MWh.

Entre as razões para isso estaria o fato de que o parque eólico tem grande escala e será localizado em uma região, no município de Várzea Nova (BA), onde a qualidade de ventos é diferenciada e há proximidade de conexão com o Sistema Interligado Nacional (SIN) e potencial de otimização das operações.

A empresa já adquiriu os 123 aerogeradores que serão instalados, como parte de um grande contrato entre a empresa e a fabricante Vestas, o que garantiu condições mais competitivas.

Conta ainda positivamente a perspectiva de um financiamento a custos mais baixos que a média de mercado, tendo em vista a estrutura da própria joint venture, que permite garantias da ArcelorMittal e da Casa dos Ventos, que conta a francesa TotalEnergies como acionista.

Segundo Araripe, o modelo de financiamento a ser adotado ainda não está fechado, mas a intenção é buscar os recursos entre o fim deste ano e o início do próximo ano. A expectativa é obter financiamento para 70% do investimento previstos, junto a bancos de fomento como Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ou Banco do Nordeste, com a possibilidade de acessar linhas subsidiadas da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Uma emissão no mercado de capitais não está descartada, mas Araripe ressaltou que o mercado está mais fechado agora.

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