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Os próximos passos da AREZZO

Alexandre Birman assume a presidência da empresa fundada por seu pai com o desafio de gerir um negócio acostumado ao sucesso

Após quase quarenta anos à frente da empresa que criou, Anderson Birman, fundador da Arezzo, é direto ao descrever como foi seu último dia como presidente. "Levei minhas coisinhas, não tenho mais nada lá. Liberei a sala e o poder", diz. No início do mês, aos 59 anos, ele passou o cargo para o filho Alexandre, de 36 anos, e começou a se concentrar apenas na presidência do conselho da companhia.A data marca o início de um novo ciclo em uma empresa habituada a mudanças. Nos anos 90, a Arezzo fez sua primeira virada, ao deixar de ser uma indústria de sapatos para se transformar na maior rede varejista de calçados femininos da América Latina. Em 2007, vendeu 25% do seu capital a um fundo de investimentos e, quatro anos depois, estreou na bolsa de valores. Agora, com a troca de comando, a empresa prepara-se para ganhar mais agilidade, diz Anderson. "Hoje a velocidade é o principal atributo num ambiente competitivo. E o Alexandre tem condições de responder muito mais rapidamente ao mercado."Prova disso, diz o executivo, foi a criação da nova 'arquitetura' das lojas da Arezzo. Ele havia tentado por cinco anos concluir esse projeto, mas saiu da presidência sem conseguir entregá-lo. Alexandre, por sua vez, fez o trabalho em meses e inaugurou a primeira nova loja na semana passada, no shopping Iguatemi. "A experiência nos leva a ter mais conceitos sobre as coisas e você acaba retardando a decisão. A geração mais nova arrisca mais e, em geral, acerta mais", continua o empresário.Mas nem tudo agrada Anderson na nova geração. Ao ver o filho entretido com o BlackBerry, interrompeu a conversa: "Desliga esse celular aí, senão vou ficar bravo com você! Aqui estou usando o chapéu de pai, viu?", esclarece o empresário, na primeira entrevista após a passagem de bastão. Alexandre responde com uma risada e diz que está aí uma das diferenças entre eles.Apesar de não concordarem em tudo, a sucessão era mais do que esperada no mercado e Alexandre sempre foi o nome óbvio. Aos 13 anos, ele desenhou seu primeiro sapato. Aos 19, após uma temporada de estudos nos Estados Unidos e na Itália, abriu seu próprio negócio: a Schutz, que começou como uma marca de sapatos para trilhas. "A sugestão foi de um consultor de empresas familiares. Ele achava que não haveria espaço na Arezzo para mim, já que meu pai ainda era muito jovem", explica Alexandre. "E acho que ele estava certo. Em 2007, quando juntamos as operações, eu trouxe R$ 120 milhões de receita para a Arezzo. Dificilmente conseguiria fazer isso lá dentro." Hoje, além de Arezzo e Schutz, o grupo Arezzo engloba as grifes AnaCapri e Alexandre Birman.Conselheiro independente da empresa, Guilherme Affonso Ferreira diz que é difícil ver uma sucessão tão adequada. "Acho que o fato de o Alexandre ter todos os requisitos até precipitou o processo", afirma. No entanto, segundo ele, isso não deixa a missão do filho mais simples. "O mercado está atribuindo à Arezzo múltiplos muito altos, o que corresponde a uma grande expectativa de crescimento. E quem estiver no comando vai ter de cumprir o que o mercado espera que aconteça", explica.Segundo dados da Bloomberg, com base na média das expectativas para 2013 dos analistas consultados, a Arezzo possui um dos mais altos índices P/L (preço por lucro) entre as varejistas. Quanto mais alto o índice, maior a expectativa embutida de crescimento dos lucros futuros. No levantamento, a Arezzo exibe um P/L de 26,5, contra 20,2 da Renner ou 16,9 da Hering.O sucesso da companhia até agora é, portanto, o maior desafio que Alexandre terá de enfrentar. Nos últimos anos, a empresa exibiu um crescimento anual da receita de pelo menos 20%. Negociados na BM&FBovespa desde fevereiro de 2011, os papéis da Arezzo subiram 118,5% - contra uma queda de quase 20% do Ibovespa até agora. Hoje, a empresa tem um valor de mercado de R$ 3,6 bilhões.Resposta. Para continuar crescendo nesse ritmo, Alexandre aposta em certas linhas de ação. Primeiro, continuar a expansão da marca Schutz, que hoje representa 33% da receita do grupo, atrás da Arezzo, com 62%. Segundo, aumentar o tamanho das lojas da Arezzo e fortalecer a presença da marca nas lojas multimarcas. O e-commerce também é uma estratégia para o crescimento. "As vendas online da Schutz triplicam ano a ano e já representam o dobro do faturamento da maior loja física. A ideia é expandir o modelo para o restante das marcas", explica Alexandre. Por fim, o novo presidente pretende trabalhar a marca AnaCapri, de sapatos flat (sem salto), ainda em estágio experimental. "Essa marca tem potencial para atender uma parcela maior da população, de diferentes faixas etárias e classes sociais, já que são produtos de preço mais acessível", diz, em relatório, a equipe de análise da corretora Planner.Marcus Rizzo, especialista em estruturação de franquias e que prestou consultoria para o grupo diversas vezes, acredita que está na internacionalização o próximo ponto de inflexão da Arezzo. "Não falo de exportação de sapatos, mas da internacionalização do conceito de loja criado por eles", afirma Rizzo. Em 2008, a marca Arezzo realizou uma tentativa fracassada de expansão na China, com um parceiro local que chegou a abrir 12 lojas, todas fechadas no ano seguinte. O grupo tem ainda sete lojas franqueadas espalhadas por Bolívia, Venezuela e Portugal. "Não foi um plano de internacionalização estruturado pela empresa, foram tentativas levadas por terceiros", diz Alexandre, que tem um histórico no mercado internacional com a Schutz - a empresa chegou a ter 40% da receita provenientes de exportações.No ano passado, com o intuito de esboçar uma expansão internacional coordenada, o grupo decidiu abrir uma loja Schutz na Madison Avenue, em Nova York. A unidade funciona como um laboratório para a empresa, que tem ainda a grife de luxo Alexandre Birman, presente em mais de 150 lojas no exterior.Conselho. "Neste ano vamos conseguir avançar nos estudos para a internacionalização", garante Anderson. É em questões estratégicas como essa, que o fundador da Arezzo, como presidente do Conselho, pretende agora se concentrar. "Antes eu passava o dia inteiro pensando no cotidiano, se o sapato estava bonito ou se as lojas estavam vendendo bem. Agora tenho o privilégio de poder olhar para frente", diz o empresário, que passou a trabalhar a partir das 14h. As manhãs, ele reservou para fazer exercícios físicos e estudar - de inglês a assuntos como governança corporativa e empresas familiares. Todas as segundas, tem agendada uma reunião de alinhamento com Alexandre, que, por sua vez, intensificou o encontro com franqueados, estabeleceu um programa de excelência de qualidade dos produtos e passou a visitar fábricas parceiras. "Das 12 horas que trabalho por dia, em menos de três fico sentado na minha cadeira. Virei um CEO pé na estrada", resume Alexandre. Antes que as pessoas estranhem a mudança, o pai já avisa: "O povo reclamava que trabalhava muito comigo, mas parece que vai trabalhar muito mais com ele." E a cobrança vai vir do mercado.

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