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Por que as empresas estão fazendo aquisições fora de suas áreas de atuação? Entenda

Companhias têm comprado outros negócios diferentes da área onde normalmente atuam, como a Braskem adquirir empresa de logística

Foto do author Altamiro Silva Junior
Por Altamiro Silva Junior (Broadcast)

Uma empresa comprando outra para ficar maior e ganhar mercado no mesmo setor é uma estratégia já bem comum no mercado de fusões e aquisições. O que vem ganhando espaço nos últimos tempos, no entanto, são negócios entre empresas que vão além de seus segmentos, como um grupo de consumo de luxo adquirindo uma empresa de biotecnologia, ou uma companhia de medicamentos comprando uma de softwares ou ainda uma empresa química adquirindo outra de energia renovável.

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Um estudo da consultoria Oliver Wyman, que mapeou 120 mil fusões e aquisições no mundo na última década, revela que entre 20% a 30% das transações já envolvem negócios entre setores. O estudo mostra que a fronteira clássica e tradicional entre as indústrias está desaparecendo, comenta o sócio da Oliver Wyman, Eduardo Tesche. Isso porque as empresas também estão bastante diversificadas. Uma empresa como o Mercado Livre, por exemplo, tem o comércio, a parte de transporte e logística, a parte financeira e fora toda a área de tecnologia.

As fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) - um mercado que movimentou US$ 3 trilhões no mundo no ano passado - ajudam a acelerar esse processo de juntar diferentes setores, o que ilustra o desaparecimento de demarcações tradicionais e a confluência de setores distintos, como juntar os imóveis, com transporte e serviços financeiros.

O maior motivo de uma companhia fazer um M&A ainda é ganhar escala, obter sinergias e tornar o grupo mais valioso. Por exemplo, uma empresa de cimentos comprando outra para ficar maior em seu segmento. Mas, com as operações entre setores ganhando força, outros motivos aparecem. O principal deles é uma empresa comprar outra para acelerar a digitalização.

Por isso, desde a pandemia, empresas de diferentes segmentos compraram outras de tecnologia, como as companhias de softwares. A transição energética é outro motivo importante. E várias indústrias, como as siderúrgicas e químicas, têm comprado empresas de geração de energia.

O estudo da Oliver Wyman aponta que quanto mais perto estiverem as necessidades dos clientes, maior as chances de as companhias fazerem alguma transação, mesmo que em setores bem diferentes. Ou seja, algo longe do motivo clássico para fazer uma fusão. E as áreas de Corporate Venture Capital (CVC), fundos criados por empresas para investirem em startups, estão ajudando a acelerar este processo.

Riscos emergente para os negócios incluem ESG;paraSidney Ito, sócio da KPMG, as transformações do mundo moderno demandam atualização constante das empresas. Foto: Pixabay

Foi por meio de seu CVC, chamado Oxygea, com US$ 150 milhões para investir, que a petroquímica Braskem decidiu apostar na LogShare, uma empresa que ajuda motoristas de caminhão a encontrar cargas de volta, evitando que o veículo trafegue vazio em alguma parte do caminho. Outro exemplo foi o investimento do fundo na Circular.co, startup que trabalha com plástico reciclado e ajuda a conectar interessados em negociar resina reciclada.

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“O CVC é uma boa forma de fazer negócios para explorar outras áreas e atender a necessidade do cliente”, comenta o sócio da Oliver Wyman. No Brasil, várias companhias criaram um CVC nos últimos tempos, como B3, Natura, Vivo, Embraer e Gerdau. A cooperativa de crédito Sicredi, por exemplo, criou um CVC e investiu no começo deste ano na startup Elysios, que tem um aplicativo que funciona como um caderno digital, que ajuda o produtor rural a registrar e organizar os dados de seu cultivo.

Com a alta de juros após a pandemia para conter a inflação na economia mundial, as fusões e aquisições deram uma esfriada importante no Brasil e no mundo, após um período de forte volume de negócios. Financiar essas operações ficou mais caro. “Está todo mundo mais receoso para fazer transações, sobretudo aquelas de caráter mais experimental e estratégico”, comenta Tesche. As transações de M&A caíram 4,1% no primeiro trimestre de 2024, isso após recuo de 9,3% no ano passado, segundo a consultoria Kroll.

Apesar da cautela, alguns negócios exploratórios continuam saindo, observa o sócio da Oliver Wyman, sobretudo em empresas com necessidades similares, embora em setores diferentes. A fabricante de chocolates Cacau Show comprou em fevereiro o Grupo Playcenter, para a construção de um parque temático. Outro exemplo é a Coca-Cola comprando a rede de cafés Costa, em uma transação de US$ 5 bilhões. Na semana passada, o BTG Pactual comprou um hotel de luxo em Portugal, em uma estratégia para avançar no setor imobiliário.

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