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Pré-sal faz 15 anos em meio à busca da Petrobras por novas reservas; veja o que está na mira

Área que se estende de Santa Catarina ao Espírito Santo representa atualmente 78% da produção da estatal; produção deverá começar a declinar a partir de 2030

Por Denise Luna (Broadcast) e Gabriel Vasconcelos (Broadcast)

RIO – No ano em que a produção no pré-sal completa 15 anos, a Petrobras enfrenta um novo desafio para renovar suas reservas e manter o Brasil entre os maiores produtores mundiais de petróleo, posição que somente o avanço sobre a Margem Equatorial teria condições de preservar.

A margem, que vai do litoral do Rio Grande do Norte ao do Amapá, é encarada pela indústria como a última grande fronteira brasileira de exploração de óleo e gás. E, assim como a bacia de Santos substituiu a bacia de Campos depois do pré-sal, especialistas apontam que somente a ida para o litoral Norte do País pode garantir que o Brasil continue forte entre os grandes países produtores do mundo nas próximas décadas. O País responde hoje por 3% da produção global.

O primeiro óleo do pré-sal, uma região que se estende de Santa Catarina ao Espírito Santo sob uma espessa camada de sal, foi extraído em 2 de setembro de 2008, dois anos após a descoberta do primeiro campo da província pela Petrobras, em 2006. Hoje, o pré-sal já representa 78% da produção da estatal.

Em seis anos, a produção do pré-sal atingiu 500 mil barris de óleo equivalente por dia (boe/d), dobrando a produção da Petrobras, e hoje ultrapassa os 2 milhões de boe/d Foto: Fabio Motta/Estadão

Das 57 plataformas da Petrobras, 31 estão instaladas em campos do chamado “Polígono do pré-sal”, e mais 11 serão instaladas para produzir até 2027. Além do grande volume extraído nesses campos, a qualidade do óleo é mais leve do que o Brasil explorava até a descoberta, e as emissões de gases de efeito estufa (GEE) dos principais campos — Tupi, Búzios e Mero — ficam abaixo da média mundial, o que torna o óleo mais atrativo em tempos de transição energética.

“O pré-sal mudou a cara da Petrobras e do País. O Brasil passou a ser o 10º produtor de petróleo do mundo e hoje é o maior exportador da América Latina. Mas, a partir de 2030, 2031, essa produção começa a cair, e não há mais campos grandes para leiloar no pré-sal. Por isso a preocupação de explorar a Margem Equatorial”, diz Adriano Pires, ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e hoje sócio do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

Ponto de virada

Testemunha da história, Pires participou do primeiro leilão do pré-sal, do campo de Tupi, quando ainda estava na ANP, na época das licitações sob o regime de concessão.

“A gente não tinha ideia de quão bom era, realmente surpreendeu”, diz Pires, que participou do leilão de Tupi, leiloado ainda sob o regime de concessão. Depois, o campo foi rebatizado de Lula, voltando a se chamar Tupi no governo Temer. Segundo o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, o campo poderá voltar a receber o nome do presidente em comemoração aos 70 anos da empresa.

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A ex-diretora-geral da ANP, Magda Chambriard, afirma que a ficha sobre a potência do pré-sal caiu aos poucos. Ela era superintendente de exploração da agência quando, pouco mais de um ano depois da descoberta, o geólogo Mario Carminatti chegou ao seu gabinete para submeter um plano de avaliação para Tupi.

“Ele (Carminatti) mostrou que ali havia algo diferente do que estávamos acostumados. Então, queria uma área de avaliação bem maior, próxima a 1,2 mil quilômetros quadrados, quando o normal era um terço disso”, afirma.

Segundo Chambriard, a ANP já vinha estudando as potencialidades da descoberta e havia expectativas de oportunidades grandes. Mas o primeiro poço não foi espetacular, tinha algo como 64 metros de espessura de hidrocarbonetos. Só depois, quando Tupi começou a ser desenvolvido é que vieram “aqueles poços maravilhosos”, como se refere, com mais de 200 metros de espessura de hidrocarbonetos. Processo parecido se deu em outros blocos da região, levando à euforia que ganhou o setor naqueles anos.

A partir de então o Brasil ganhou definitivamente as atenções da indústria mundial. O pré-sal elevou o patamar de produção e exportação do Brasil em pouco tempo. Em seis anos, a produção da nova fronteira petrolífera atingiu 500 mil barris de óleo equivalente por dia (boe/d), dobrando a produção da Petrobras, e hoje ultrapassa os 2 milhões de boe/d. Para se ter uma ideia, a estatal levou 26 anos para atingir a produção de 5,5 bilhões de barris de petróleo, marca acumulada em 15 anos do pré-sal, segundo dados da Petrobras.

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Essa produção ultrapassa o volume produzido por países com tradição no setor de óleo e gás, como México, Nigéria e Noruega. Se fosse um país, o pré-sal ocuparia sozinho o 11º lugar no ranking mundial dos produtores de petróleo.

“É uma jornada de sucesso sem precedentes no setor, com impacto positivo não só para a Petrobras, mas para a indústria global e a sociedade nas mais diversas frentes, com um legado valioso de conhecimento científico, tecnológico e intelectual”, define o atual presidente da Petrobras, Jean Paul Prates.

Apesar das reclamações de agentes privados e especialistas sobre as vantagens da Petrobras no desenvolvimento do pré-sal, como a regra de preferência para participar de operações no polígono, Chambriard destaca sua centralidade na história do desenvolvimento da província.

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“Quem botou dinheiro no pré-sal foi a Petrobras. A perfuração dos dois primeiros poços demorou mais de 400 dias. Que outra empresa teria insistido tanto”, diz Magda. “Empresas privadas migram de mercado quando encontram dificuldades, o que é normal. Só uma estatal é capaz de tomar determinados riscos e insistir no País de origem, como está acontecendo no caso da margem”, continua. Ela lembra que essa perfuração já foi tentada e abandonada pela francesa TotalEnergies no passado.

Nova geografia

Adriano Pires destaca que o início da exploração da Margem Equatorial vai levar para o Norte e Nordeste uma produção que antes era focada no Sudeste, ajudando a desenvolver as regiões mais pobres do País. Esse deslocamento, na avaliação de Chambriard, já era uma ambição da ANP no início da década passada, quando surgiram os primeiros entraves de licenciamento ambiental com o Ibama, que já recusou licenciamento para a Petrobras, Total e BP. Na época do pré-sal, a autorização para a exploração foi decidia em uma mesa de negociações e não enfrentou tanta resistência.

Hoje, tanto Ibama como Ministério do Meio Ambiente estão contra a exploração em bacias da margem. Para a ex-diretora da ANP, a fim de manter o nível atual de produção e sua autossuficiência, o Brasil precisa avançar sobre a área e, especialmente, a bacia Foz do Amazonas, fronteiriça à grandes descobertas em países vizinhos.

Já Pires argumenta que o pré-sal comprovou a excelência da Petrobras para explorar petróleo no mar, assim como a de outras empresas que hoje atuam na região consorciada ou não à estatal.

“A barreira tecnológica da Petrobras já foi testada no pré-sal. Existe um certo radicalismo ambiental lá, mas não é incompatível a preservação do meio ambiente com a exploração do petróleo, você vai melhorar a vida das pessoas no arco norte, a região mais pobre do País, e pode usar esse dinheiro para uma política ambiental mais robusta”, diz Pires.

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