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Produção industrial tem queda de 0,5% em abril em relação a março, aponta IBGE

Setor deve registrar períodos de oscilação e fechar o ano com leve alta, segundo especialistas; contribuição da indústria deve ser pequena para o crescimento do PIB em 2024

RIO E SÃO PAULO - A indústria brasileira começou o segundo trimestre em queda, influenciada, principalmente, pelo mau desempenho da extração de minério de ferro e petróleo. A produção industrial registrou uma retração de 0,5% em abril ante março, devolvendo metade do ganho acumulado nos dois meses anteriores de avanços, segundo os dados da Pesquisa Industrial Mensal, divulgados nesta quarta-feira, 5, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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“Apesar desse resultado negativo no mês, a gente tem predominância de taxas de crescimento quando a gente observa as atividades e categorias econômicas”, ponderou André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE.

Quanto às categorias econômicas, houve retração na fabricação de bens intermediários (-1,2%), mas expansão nos bens de consumo semiduráveis e não duráveis (0,1%), bens de consumo duráveis (5,6%) e bens de capital (3,5%, que sinalizam investimentos).

“Esses movimentos podem estar relacionados aos cortes na taxa básica de juros iniciados no ano passado”, justificou a economista Claudia Moreno, do C6 Bank, em comentário.

Fabricação de veículos automotores registrou expansão de 13,2% Foto: Werther Santana/Estadão

Na passagem de março para abril, 18 das 25 atividades industriais pesquisadas registraram expansão na produção, com destaque para a elevação de 13,2% na fabricação de veículos automotores. Considerando os dados da pesquisa e demais indicadores econômicos antecedentes já divulgados, a gestora de recursos XP Investimentos calcula que o Produto Interno Bruto (PIB) tenha um crescimento de 0,3% no segundo trimestre deste ano, após a alta de 0,8% verificada no primeiro trimestre. A estimativa já incorpora os esperados efeitos negativos sobre a economia decorrentes das enchentes no Rio Grande do Sul.

“Daqui para frente, acreditamos que o setor (industrial) registrará períodos de oscilação, fechando o ano com leve alta. Na nossa visão, a indústria deve contribuir pouco com o crescimento de 2,2% que projetamos para o PIB em 2024″, projetou Claudia Moreno.

Em abril ante março, apenas sete atividades industriais mostraram recuos na produção, mas três desses segmentos possuem peso significativo na estrutura industrial brasileira: extrativas, produtos alimentícios e derivados do petróleo. Juntos, os três respondem por quase 45% de toda a produção industrial nacional. As indústrias extrativas têm uma fatia de cerca de 15% da Pesquisa Industrial Mensal, enquanto os alimentícios respondem por outros 15%. O segmento de derivados do petróleo e biocombustíveis detém um peso entre 13% e 14% da pesquisa.

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Além da predominância de atividades em campo positivo, o IBGE ressalta que a indústria manteve tendência de crescimento em todas as demais comparações temporais.

“A gente consegue enxergar nesse resultado negativo elementos positivos. Tem a indústria de transformação se mantendo no campo positivo pelo quinto mês consecutivo”, acrescentou Macedo.

A produção da indústria de transformação cresceu 0,3% em abril ante março. Já as indústrias extrativas recuaram 3,4% no período.

Nos últimos cinco meses de crescimentos consecutivos, a indústria de transformação teve um ganho acumulado de 2,3%. No mesmo período, a indústria geral teve um crescimento acumulado de 0,6%, ou seja, as perdas nas indústrias extrativas reduziram a média global.

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Macedo lembra que as extrativas vinham de uma expansão bem acentuada em 2023, iniciando 2024 num ritmo menor, em função da base de comparação elevada e de um ambiente em que o “preço no mercado internacional está mostrando menor intensidade”. No mês de abril, houve redução na produção tanto do petróleo quanto do minério de ferro.

“Muitas decisões estratégicas de maior ou menor produção estão associadas à questão de preços”, confirmou Macedo.

No entanto, o pesquisador pondera que elementos macroeconômicos ainda contribuem para um “entendimento de um comportamento ligeiramente positivo para o setor industrial” como um todo, entre eles a melhora do mercado de trabalho, com aumento na ocupação e na massa de rendimento, e a redução dos juros, com reflexos sobre o nível de endividamento.

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Para o economista Matheus Pizzani, da corretora de investimentos CM Capital, a conjuntura internacional adversa puxou para baixo o desempenho da produção industrial brasileira no mês de abril: a menor demanda internacional por produtos da extrativa acabou pesando mais do que a recuperação de outros segmentos industriais pelo lado da oferta.

A projeção da CM Capital, por ora, é de novo recuo na produção industrial de maio, -0,1%, mas o número pode ser ainda mais negativo, devido aos efeitos das enchentes no Rio Grande do Sul.

“É um Estado que representa 6% de toda nossa indústria e tem um parque industrial muito diversificado”, observou Pizzani.

Os efeitos do desastre que se abateu sobre o Rio Grande do Sul aparecerão nos dados da produção de maio, mas não afetaram a coleta de informações para a Pesquisa Industrial Mensal: Produção Física de abril, nem para a média nacional nem para o resultado local, afirmou André Macedo, do IBGE. As informações da produção industrial brasileira referentes a abril foram levantadas ao longo do mês de maio, já em meio às enchentes.

“Não teve nenhum tipo de problema com as informações relativas ao mês de abril”, assegurou Macedo. “O Rio Grande do Sul vai ter seu dado divulgado na Pesquisa Industrial Regional também com percentual (de coleta) próximo ou parecido com o que a gente normalmente divulga os dados. Para essa divulgação do mês de abril a gente não teve nenhum tipo de problema para publicar as informações.”

O pesquisador afirmou que os porcentuais de coleta e de imputação para os resultados do Brasil e do Rio Grande do Sul se mantiveram dentro do padrão histórico. Para a Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física referente a abril, entre 93% e 94% da coleta foi realizada, sendo que os demais 6% foram trabalhados via imputação, mesma fatia de meses anteriores. Para a Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física Regional, Macedo conta que a coleta gira em torno de 90% a 93%, sendo os demais dados imputados.

“A princípio não tivemos nenhum problema adicional que justificasse ação. As faltas que tivemos para esse mês estão dentro do contexto histórico da pesquisa, e as imputações foram feitas da forma que são realizadas. A despeito de toda a gravidade da situação que o Rio Grande do Sul passou e está passando, a coleta ocorreu dentro do seu padrão histórico, não afeta divulgação dos resultados do Brasil e local”, disse ele.

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A coleta da PIM-PF é feita por questionário eletrônico, preenchido e enviado online pelos informantes.

“Isso poderia estar sendo inviabilizado, mas não foi nem o caso”, ressaltou.

O IBGE deu início no último dia 3 à coleta referente ao mês de maio, que se estenderá por todo o mês de junho.

“O primeiro sintoma que pudesse sugerir uma imputação maior do que essa média histórica seria retificações muito acentuadas, mas não imagino que isso vá acontecer. O mês de abril está reprisando seu padrão histórico”, concluiu.

Os dados da Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física Regional referentes a abril serão divulgados pelo IBGE no próximo dia 14. As informações da produção industrial de maio, com assimilação dos prejuízos provocados pelas chuvas à indústria gaúcha, serão divulgadas em 3 de julho.

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