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Opinião|Empresas usam testes e inteligência artificial para comprovar inglês antes de contratar

Com exigência quase unânime no currículo, corporações buscam ferramentas para driblar nível de proficiência ‘falso’; só 5,1% dos brasileiros com mais de 16 anos têm algum grau de conhecimento da língua

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Por Bianca Zanatta
Atualização:

Especial para o Estado 

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Apenas 5,1% da população brasileira com mais de 16 anos dizem ter algum grau de conhecimento da língua inglesa e, entre eles, são poucos os que afirmam ter nível intermediário (32%) ou avançado (16%), segundo o último estudo Demandas de Aprendizado de Inglês no Brasil, realizado em 2013 do British Council, organização internacional do Reino Unido para relações culturais e oportunidades educacionais.

O estudo não contemplou as classes econômicas mais baixas, mas concluiu que "a falta de um ensino básico de qualidade somada ao baixo acesso a cursos privados de inglês faz com que o mercado de trabalho tenha dificuldade em encontrar profissionais com proficiência na língua".

Para conseguir uma vaga no mercado, os candidatos sentem esse déficit na pele. "Hoje, 99% das vagas pedem algum nível de inglês como qualificação, considerando profissionais que têm acima de 25 anos e ensino superior", observa Mariana Horno, gerente sênior de recrutamento da Robert Half. Quanto mais alto o cargo, maior a exigência de fluência. "Cargos de liderança muitas vezes têm interface internacional."

A necessidade do idioma se reflete inclusive nos salários. Segundo a 59º Pesquisa Salarial da Catho, a variação no salário de um diretor, supervisor ou coordenador pode ser de até 86% entre os que têm nível básico de inglês e os que são fluentes. "Ainda que seja possível 'se virar' bem sem o idioma, por vezes será necessário ler textos, traduzir informações e escrever e-mails em inglês", explica Fernando Gaiofatto, gerente da Catho Educação. "Diante dessas necessidades, assim como a fluência do inglês é percebida, a falta dela também é."

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Mardem Reifison, analista de SEO, aprendeu inglês por meio de podcasts, filmes e quadrinhos. Para ele, o idioma é fundamental para executar as funções da profissão. Foto: Nilton Fukuda/Estadão

O primeiro passo das empresas para ultrapassar essa barreira é avaliar o nível real de proficiência. Uma pesquisa da Robert Half de 2017 mostrou que 39% dos profissionais mentem ou exageram sobre conhecimento de idiomas no currículo. Para fazer uma triagem mais eficaz e evitar situações constrangedoras, como uma entrevista presencial, os recrutadores contam com sistemas de avaliação que vão de ferramentas digitais a testes de escolas especializadas.

Contratada pela Uber para criar o primeiro programa de estágio da empresa, a plataforma 99jobs utilizou inteligência artificial para realizar a etapa inicial do processo seletivo, que incluía testes de inglês, lógica e normas culturais. "O processo é feito via chatbot, o que dá ao usuário a sensação de que ele está conversando com alguém e diminui a fadiga de um teste padrão, extenso e impessoal", diz Du Migliano, cofundador da plataforma. A ferramenta avalia principalmente compreensão oral e vocabulário.

"Não dá mais para fazer contratações bilíngues sem a realização de um teste de proficiência mais detalhado", diz Fernanda Tietjen, diretora executiva da Fluenglish, plataforma digital que avalia e certifica o nível de inglês. A solução é procurada tanto por empresas como por profissionais que já queiram dar a largada com fluência comprovada, encurtando os processos.

Totalmente online, a certificação é realizada por professores nativos. "Também aplicamos testes de proficiência com os colaboradores de empresas para verificar se possuem o nível adequado para participar de workshops, treinamentos e reuniões de porte internacional", completa Fernanda.

Vídeo-conferências com a Austrália

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O analista de SEO Mardem Reifison, de 36 anos, entrou na Catho há quatro meses e a fluência em inglês, que ele quase sempre estudou por conta própria, foi determinante para a contratação. "Comecei a me interessar pelo idioma quando entrei para o mercado de SEO porque quase não havia conteúdos da área em português", relembra.

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Mardem criou o hábito diário de ouvir podcasts em inglês de SEO, marketing e temas de interesse pessoal, como fotografia e games. Leitura de quadrinhos e filmes com legendas em inglês ajudaram a assimilar a escrita. Para competir às melhores vagas do mercado, o analista investiu ainda em um intercâmbio de seis meses no Canadá.

"Para o cargo que eu ocupo hoje na Catho, o inglês precisa ser funcional, pois definimos estratégias e todo o andamento do trabalho nessa língua", afirma o analista, que participa de vídeo-conferências semanais com o time da Austrália.

Alcançar a tal fluência é um dos principais obstáculos que muitos brasileiros encontram na maratona profissional. Tanto que 27% dos desempregados que estão em busca de colocação adotam o estudo do inglês como forma de melhorar a qualificação, ainda segundo dados da Robert Half.

Escolas voltadas ao universo do trabalho, aulas particulares e diferentes tipos de imersão no idioma são caminhos inevitáveis para o aperfeiçoamento. "Geralmente, alunos adultos carregam crenças, traumas e preconceitos", explica Bruno Padrão, diretor operacional da All Net, rede de cursos profissionalizantes. "É muito frequente ouvir frases como 'eu sou péssimo em inglês' ou 'nunca vou aprender'."

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Com um filtro afetivo que busca construir um ambiente de segurança, a metodologia das aulas envolve os alunos na teatralização de um projeto, com atividades e tarefas que simulam o contexto profissional. "Após dois meses de aula, alguns alunos se sentem confortáveis para gravar vídeos em Inglês e liderar projetos."

Opinião por Bianca Zanatta
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