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O blog do Caderno de Imóveis

Morar perto do trabalho é sonho paulistano

Ainda distante para grande parte dos interessados, mudança traz qualidade de vida

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Por Redação
Atualização:

Julia Rosin mudou de São Bernardo para o Centro de São Paulo para morar perto do trabalho. Foto: Ernesto Rodrigues/Estadão

 

Luiz Fernando Teixeira / Especial para o Estado

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O crescimento da população das cidades e o aumento do tempo de deslocamento diário de casa para o trabalho faz com que a vontade de diminuir essa distância seja uma constante entre os moradores de grandes centros urbanos. Júlia Rosin trabalha na Secretaria de Direitos Humanos de São Paulo e até o ano passado morava em São Bernardo do Campo, na região metropolitana da capital. "O tempo que levava para eu chegar ao Centro, às vezes, demorava duas horas, o que me deixava muito cansada e estressada", conta. Ela aproveitou uma promoção a chefe de divisão estratégica do órgão e decidiu viver em uma região que tornasse sua vida mais confortável.

"Hoje, eu demoro 15 minutos a pé da porta da minha casa até a secretaria", diz. A redução drástica do tempo de deslocamento faz com que Júlia agora possa dormir mais, ir e voltar para casa para almoçar e até mesmo fazer atividade física, rotina que não era possível antes.

Independência sem carro

Para a gerente de Locação da Lello Condomínios, Roseli Hernandez, o mercado percebeu que existe uma mobilização muito grande das pessoas de não aceitar mais passar tanto tempo no trânsito.

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"Hoje, principalmente os jovens, querem morar sozinhos e aproveitar a independência de morar perto do trabalho. Há alguns que nem tiram mais carteira de motorista, se deslocam de metrô, ônibus ou a pé", diz. Para a diretora de Condomínios da Lloyd Imobiliário, Ana Moscato, quem conseguem se mudar para atender essa demanda são pessoas que estão em uma fase mais voltada à carreira profissional.

"São pessoas que estão construindo um patrimônio. Elas ocupam um imóvel menor ou então dividem apartamento. Também há a questão da compensação financeira de não utilizar carros", afirma.

Bar, percurso e bebida

Para Thiago Galbeno esse ponto foi importante. Ele optou por trocar a Vila Mariana por Pinheiros, para morar perto do bar que montou com o pai. "Somos sócios da Perro Libre, que é uma cervejaria artesanal, e além de distribuir decidimos abrir o bar. Já temos um em Porto Alegre e sabemos que as vantagens de morar perto são impagáveis, principalmente pelo conforto que isso traz."

Ele argumenta que o fato de seu bar encerrar as atividades durante a madrugada também tem de ser levado em conta. "Trabalhamos com bebida alcoólica e consumimos também, então não dirigimos. Voltamos para casa de Uber ou táxi, então, agora, vamos economizar nesse sentido." Galbeno é paulista, mas morou na capital gaúcha por duas décadas, tendo voltado para São Paulo há dois anos. "Onde eu morava demorava quarenta minutos por percurso para chegar. Ganhamos na tranquilidade", diz.

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Quarenta minutos é justamente o tempo médio gasto pelo paulistano no deslocamento para o trabalho e, depois, mais 40 minutos na volta para casa. Ao menos para quem reside em áreas mais centrais. A conclusão consta de artigo publicado no Congresso de 2017 da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), pelos pesquisadores Pedro Guedes, Bernardo Loureiro e Romero Galvão Maia, do coletivo Medida SP, e teve como base informações do último censo. Em áreas um pouco mais afastadas, o tempo pode chegar a duas horas.

Raio de 5 quilômetros

Com base em estudos internos, a gerente de Inteligência de Mercado do Grupo ZAP Viva Real, Cristiane Crisci, diz que o tempo de deslocamento de casa para o trabalho é apontado como um dos fatores que mais é levado em consideração para quem está em busca de qualidade de vida. Entretanto, ainda é uma minoria que pode dispor desse "luxo". "Cerca de 30% das pessoas percorrem até 5 quilômetros para ir e voltar do trabalho. Então, a grande maioria depende de algum meio de transporte para chegar ao trabalho."

Fabio Arcanjo buscou local para morar em Santo Amaro para ficar perto da empresa onde trabalho. Foto: JF Diório / Estadão

Fábio Arcanjo trabalhou por nove meses na unidade da Dow Química instalada em Candeias, na Bahia, antes de ser transferido para a sede de São Paulo. Ele levou cerca de três semanas para decidir onde morar, no bairro de Santo Amaro, mas nunca teve dúvidas de que preferiria morar o mais próximo possível da empresa.

"Vendi meu carro e a prioridade era ficar perto. Levei em consideração o que eu sempre ouvia falar de São Paulo, e vejo hoje estando aqui, que é a questão dos engarrafamentos."

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Poucas opções. Na capital paulista há um ano, ele conta que uma das queixas que tem é que a região, próxima aos shoppings Morumbi e Market Place, fica um pouco isolada e tem poucas opções de lazer. "É uma escolha. Quando tenho de sair e ir para o Ibirapuera ou Paulista, especialmente aos domingos, é um pouco cansativo. Mas poderia ser cansativo de segunda a sexta", avalia.

Imóveis procurados

O presidente do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Flávio Amary, lembra que a cidade tem dificuldades com o transporte coletivo e que isso influencia quem decide morar mais perto do trabalho.

Ele cita as características das residências ocupadas pelo morador com esse perfil. "A maior parte é de imóveis de um dormitório, às vezes pequenos estúdios, mas que permite (pela localização) ao ocupante andar a pé para se deslocar. Não precisa de carro, de metrô, de nada, porque ele está muito próximo do local de trabalho."

O presidente do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis de São Paulo (Creci-SP), José Augusto Viana Neto, diz que o público que ocupa esses imóveis em bairros mistos (que tem características comerciais e residenciais), normalmente é de uma faixa econômica mediana e que dá preferência a residências individuais. "Eles estão mais perto de estações de ônibus, de metrôs, hospital, feira livre, hipermercado... Tudo isso tem uma certa valorização."

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