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Juros vão cair menos, com pressão maior da inflação, preveem economistas; veja como deve ficar

Selic de 9% ao fim deste ano e 8,5% em 2025 não deverá ser suficientes para fazer com que o IPCA convirja para o centro da meta, de 3%, segundo analistas

Foto do author Thaís Barcellos
Foto do author Cicero Cotrim
Por Thaís Barcellos (Broadcast) e Cicero Cotrim (Broadcast)

BRASÍLIA e SÃO PAULO - A trajetória da inflação prevista pelo Banco Central deve provocar um aumento das expectativas do mercado para a taxa Selic, segundo economistas. A leitura é que juros de 9% no fim deste ano e de 8,5% no fim do ano que vem, como indicado pelas medianas da pesquisa Focus, são insuficientes para fazer com que o IPCA convirja para o centro da meta, de 3%.

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Essa percepção surgiu na última quinta-feira, 28, após a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI). No cenário de referência, o BC estimou que a inflação fecharia o ano em 3,5%, cairia a 3,2% em 2025 e repetiria a mesma taxa em 2026. Ou seja, com a trajetória de taxa Selic embutida no relatório Focus, a autoridade monetária não vê o IPCA retornando ao alvo.

“A mensagem que veio das projeções do RTI, de inflação acima da meta dois anos à frente, é que não parece ser possível a Selic cair até 8,5%, que o ciclo teria de parar antes”, afirma Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC e consultor da A.C. Pastore & Associados. “Do ponto de vista de mercado, já houve uma reavaliação a esse respeito: a curva não coloca mais 9% como uma Selic terminal possível.”

O nível da taxa Selic precificado pela curva de juros tem oscilado ao redor de 9,75% desde a última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), pouco menos de duas semanas atrás, enquanto o boletim Focus ainda não se moveu. Como mostrou o Estadão/Broadcast, o colegiado tentou usar a ata da terça-feira passada, 26, para mostrar que seu cenário-base para o juro no fim do ciclo estava preservado, mas não convenceu o mercado.

Banco Central pode ter de reduzir menos os juros para trazer expectativa de inflação de volta à meta Foto: André Dusek / Estadão

Segundo Schwartsman, é natural que a forma de apuração do Focus atrase os ajustes nas projeções, mas a tendência continua sendo de elevação das medianas. Uma Selic de 8,5% no fim do ano que vem, com IPCA de 3,5%, como indica a mediana, representaria juro real de 5% - apenas um pouco acima da taxa neutra calculada pelo próprio BC, de 4,5%, e bastante em linha com a estimativa de boa parte do mercado.

“Se a projeção para a inflação segue acima da meta e para reduzi-la à meta você precisa de um juro real maior do que o neutro, estamos vendo que o juro terminal claramente não será 8,5%”, afirma o economista, que espera Selic de 9,25% no fim do ciclo de cortes.

O economista-chefe da G5 Partners, Luís Otávio de Souza Leal, considera “bem possível” um aumento da mediana para a taxa Selic no fim deste ano, de 9% para 9,25%, na próxima edição do Focus. Nas contas dele, as projeções apresentadas pelo BC no relatório trimestral sugerem que seria necessário que os juros ficassem entre 9,5% e 9,75% no fim deste ano para promover a convergência da inflação para o centro da meta.

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Mesmo assim, ele mantém a expectativa de queda da Selic a 9% no fim deste ano, com um corte de 0,5 ponto porcentual em maio, seguido por cinco baixas de 0,25 ponto. Segundo Leal, interromper a redução dos juros ainda no primeiro semestre poderia colocar o BC sob pressão na segunda metade do ano, quando o governo escolherá o próximo presidente da autarquia.

“O modelo do BC não está convergindo não só por causa da trajetória de juros do Focus, mas também por causa das expectativas de inflação, que estão acima da meta. E por quê? Porque ninguém sabe que BC estará aí a partir de janeiro. Se o BC parar de cortar juros agora, essa vai ser uma profecia autorrealizável: você aumenta a chance de ter um nome heterodoxo e, aí, as expectativas não caem mesmo”, afirma.

Risco

A diretora de macroeconomia para o Brasil no UBS Global Wealth Management, Solange Srour, acredita que a mediana do Focus para a Selic não deve mostrar grandes mudanças por ora. Segundo ela, é mais provável que os economistas esperem mais dados de inflação subjacente para ver como vai se desenrolar a relação entre o mercado de trabalho apertado e os preços de serviços mais ligados à atividade econômica, uma das incertezas apontadas pelo BC.

Em sua avaliação, a precificação hoje de mercado, em torno de 9,75%, pode ser um nível restritivo demais, mas é um patamar mais condizente com os dados e a comunicação recente do que os 9% da Focus. Ela ainda lembrou que o comitê vem indicando que os juros devem ficar em patamar restritivo.

“Com base no nosso cenário, parece que a Selic terminal daria para ser menor que 9,75%, mas depois de um discurso que mostra uma certa divisão no Copom, dados mais fortes de mercado de trabalho, PIB dos Estados Unidos e discursos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) mais duros o risco está para ser mais alto do que ser mais baixo”, afirma.

Ela pondera, contudo, que o que vai determinar qual número está mais próximo da realidade são os dados dos próximos meses, e, principalmente, de quando se dará o início da queda de juros pelo Fed.

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