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Preço do petróleo recua mais de 30% em dois meses. O que pode vir a seguir?

Cotações estão mais baixas do que antes do início do conflito na Ucrânia, mas elas podem subir e descer com a mesma facilidade

Por Clifford Krauss
Atualização:

THE NEW YORK TIMES - Quando a Rússia invadiu a Ucrânia no fim de fevereiro, especialistas em energia calcularam que os preços do petróleo poderiam chegar a US$ 200 o barril, um valor que levaria os gastos com envios e transporte de mercadorias para a estratosfera e deixaria a economia global de joelhos.

Agora os preços do petróleo estão mais baixos do que quando a guerra começou, tendo caído mais de 30% em apenas dois meses. Na segunda-feira, as notícias de uma desaceleração na economia da China e uma redução nas taxas de juros chinesas fizeram os preços caírem ainda mais, para menos de US$ 90 o barril de referência americano.

Exploração de petróleo em Shafter, na Califórnia; aumento da produção americana é um fator por trás do declínio do preço do petróleo Foto: Alisha Jucevic/The New York Times - 26/5/2022

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Os preços da gasolina caíram todos os dias nas últimas nove semanas, para uma média de menos de US$ 4 o galão em todo o país, e os preços do combustível de aviação e do diesel também estão diminuindo. Isso deve se traduzir mais cedo ou mais tarde em preços mais baixos para coisas tão diversas quanto alimentos e passagens aéreas.

No entanto, seria prematuro comemorar. Os preços da energia podem aumentar bastante com a mesma facilidade que podem despencar, inesperada e repentinamente.

A China, onde os lockdowns para combater a covid-19 continuam comuns, acabará por reabrir suas cidades para mais comércio e tráfego, aumentando a demanda pela commodity. As retiradas de petróleo da reserva estratégica de petróleo dos Estados Unidos vão chegar ao fim em novembro e o estoque precisará ser reabastecido. E um único acontecimento inesperado – digamos, um furacão inundando o canal para navios de Houston e deixando várias refinarias do Golfo do México sem condições de funcionar durante semanas ou até meses – poderia fazer os preços dos combustíveis dispararem.

Esse tipo de catástrofe poderia provocar ondas gigantescas de efeitos na economia dos EUA e até mesmo na global, pois os preços da energia são fundamentais para precificar tudo o que é enviado e produzido, sejam grãos ou materiais de construção.

“Os preços do petróleo sempre têm a capacidade de surpreender”, disse Daniel Yergin, historiador especializado no setor de energia e autor de “The New Map: Energy, Climate and the Clash of Nations” (O Novo Mapa: Energia, Clima e o Duelo de Nações, em tradução livre).

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Os preços podem diminuir ainda mais se o Irã concordar com um novo projeto de acordo nuclear depois de voltar atrás na exigência de que o Exército dos Guardiães da Revolução Islâmica fosse retirado da lista de terroristas dos EUA, abrindo uma possível torneira para pelo menos um milhão de barris a mais por dia de exportações iranianas de petróleo.

Além disso, a perspectiva de um aumento contínuo nas taxas de juros faz com que muitos investidores e economistas prevejam uma recessão – e uma redução na demanda –, apesar da taxa de desemprego estar baixa e os lucros continuarem resilientes.

“Acho que os preços do petróleo podem baixar mais”, disse Sarah Emerson, presidente da ESAI Energy, empresa de análise do mercado de energia. “Temos diversos fatores convergindo ao mesmo tempo: a China reduzindo suas importações de petróleo bruto no terceiro trimestre, o fim da temporada de maior uso de gasolina no verão do hemisfério norte, preocupações com uma desaceleração econômica e, honestamente, bastante oferta.”

Mas ela foi rápida ao acrescentar: “Isso não quer dizer que os preços não vão voltar a subir”, chamando a atenção para o fim das retiradas da reserva estratégica – da qual os EUA, em conjunto com outros países, vêm liberando até 1 milhão de barris por dia – e a possibilidade de a Europa substituir a queima de petróleo por gás natural, caso haja um inverno rigoroso.

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Prever os preços da energia sempre foi uma atividade inútil porque há muitos fatores, inclusive as expectativas dos traders que compram e vendem combustível, as fortunas políticas de países produtores instáveis como Venezuela, Nigéria e Líbia, e as decisões de investimento de executivos de empresas petrolíferas estatais e privadas.

Hoje, essas complexidades são particularmente difíceis de se avaliar.

“(Quando) os otimistas em relação ao petróleo vão começar a corrigir para baixo as previsões?” foi o título de um relatório recente sobre commodities do Citigroup. Com uma recessão global “no horizonte”, dizia o documento, “o que é mais provável, uma temporada robusta de furacões na qual vemos os preços dispararem? Um retorno dos barris iranianos? Ou uma recessão, com o petróleo a US$ 60 até o final de 2022 e início de 2023?”. Se o barril do petróleo cair para US$ 60, os preços médios da gasolina nos EUA provavelmente cairiam pelo menos mais US$ 1 por galão.

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Porém, alguns dias após as projeções do Citi, uma pesquisa sobre commodities do Goldman Sachs previu um salto nos preços conforme a demanda por combustível se recuperasse. “Vemos cada vez mais riscos de cauda para os preços das commodities inerentes ao cenário de crescimento contínuo, baixo desemprego e poder de compra das famílias estabilizado”, concluiu o relatório.

A guerra na Ucrânia continua sendo uma variável importante nas perspectivas da oferta mundial, pois a Rússia costuma fornecer um de cada dez barris do mercado global de 100 milhões de barris por dia. Desde a invasão da Ucrânia, as exportações diárias russas diminuíram cerca de 580 mil barris. A expectativa é que as sanções europeias ao petróleo russo aumentem um pouco mais até fevereiro, reduzindo as exportações diárias russas em mais 600 mil barris.

Outro fator tem sido a demanda relativamente fraca nos EUA, que é responsável por mais de um terço da demanda global de gasolina. A temporada de viagens de carro entre o fim de maio e início de setembro normalmente aumenta o consumo em 400 mil barris por dia. Mas até agora, a demanda por gasolina continuou estável em relação às médias de abril, de acordo com a pesquisa do J. P. Morgan Commodities.

Essa tendência pode mudar conforme os preços caem. Os americanos aumentaram seu consumo de gasolina em 508 mil barris por dia na semana passada em relação à semana anterior, de acordo com o Departamento de Energia do país. Entretanto, o consumo continuou mais de 300 mil barris por dia abaixo do que era um ano atrás.

E, depois, também há um abandono maior dos combustíveis fósseis. Um número crescente de investidores em energia está cético quanto ao futuro do transporte à base de petróleo e diz que os preços no longo prazo vão cair.

“A demanda por veículos elétricos está aumentando”, disse Daniel Sperling, especialista em transporte da Universidade da Califórnia, em Davis. “Isso quer dizer muita coisa.”/ TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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