Por que ensino a distância tem ganhado espaço na pós-graduação?

Dos cerca de 173 mil cursos de especialização ativos no País em 2023, 54,2% são a distância; alunos buscam programas de até um ano com investimento mensal de R$ 1 mil

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Por Paulo Reda
Atualização:

Um aspecto que chama a atenção em pesquisa recém-divulgada sobre o crescimento da procura por cursos de especialização no Brasil é o destaque obtido pelos programas ministrados na modalidade EAD (ensino a distância). Dos cerca de 173 mil cursos de especialização ativos no País, 54,2% eram a distância, alta de 479% ante 2019, tendência que vem se mantendo mesmo após o fim da pandemia, que forçou as instituições de ensino a se adaptarem ao modelo online ou híbrido.

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De acordo com Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior no Brasil, inicialmente o aumento na busca pela opção do EAD no Brasil se deu não apenas por causa do isolamento social determinado pela pandemia, mas também pelo custo mais baixo. Ele acredita que a tendência para o futuro é de convergência dos dois formatos, presencial e EAD, em um modelo híbrido, que inclua as vantagens de cada um dos formatos. Para Capelato, essa opção se justificaria inclusive pela melhoria da economia do País verificada em 2023.

O levantamento revela ainda que a maioria dos alunos planeja um investimento médio de R$ 1 mil mensais e busca cursos com duração de um ano. “As instituições de ensino precisam se adaptar a essa realidade, se quiserem prosseguir nesse ramo. Professores e coordenadores de cursos devem mudar a mentalidade para este novo momento”, afirma Rodrigo Capelato.

Luana Aparecida da Silva, arquiteta e urbanista, realizou curso de especialização no formato EAD em Habitação de Interesse Social e Assistência Técnica na PUC-Campinas Foto: Luana da Silva/Arquivo Pessoal

Ele alerta que “tem muita coisa a ser melhorada no ensino a distância”. “Ainda há oferta de cursos de baixa qualidade. Nesse tipo de programa, o aluno busca professores mais vinculados ao mercado de trabalho. Isso precisa ser observado.”

Segundo análise do Semesp, com a participação de quase 500 estudantes de cursos de especialização, foi verificado que mesmo os entrevistados que manifestaram preferência pelas atividades classificadas como síncronas, ou seja, que acontecem em tempo real, defendem que não sejam meramente aulas expositivas, mas interativas. “As atividades assíncronas (remotas) seriam utilizadas como complemento, como material de apoio”, ressalta Capelato.

Rogério Bazi, pró-reitor de Educação Continuada da PUC-Campinas, relata que hoje a instituição mantém 26 cursos de EAD em pós-graduação e mais 6 programas de educação remotos ao vivo “Tivemos um crescimento médio de 35% nessa modalidade”, destaca. A experiência mostra que o estudante de EAD procura formação de qualidade, com a possibilidade de aulas síncronas mediadas pelo docente, e assíncronas , durante as quais estuda e realiza as atividades propostas de forma remota.

Bazi explica que uma grande novidade implementada recentemente são os cursos com dupla certificação entre a PUC-Campinas e a PUC do Paraná. “Chancelado por duas instituições de ponta do Brasil, os cursos incluem uma reunião de professores globais, com aulas ao vivo e gravadas, que podem ser assistidas de qualquer lugar por meio da internet. Nas aulas ao vivo, o estudante pode interagir e tirar dúvidas com os professores, ampliando assim o processo de aprendizagem. Cada curso tem um período de 12 meses, com carga de 360 horas. Além de estudar com professores renomados do Brasil e do mundo, o estudante terá como diferencial a dupla certificação quando finalizar o curso. Um fator a mais no currículo como pós-graduado, o que, sem dúvida, é um diferencial quando se pensa no mercado de trabalho.”

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Mary Murashima, diretora de Gestão Acadêmica da FGV Educação Executiva, afirma que, em 2019, 18 mil dos 22 mil alunos de cursos de pós-graduação da universidade estavam inscritos na modalidade presencial. Depois da pandemia de covid-19, essa média passou a ser de 50%. “No período de isolamento social, tivemos duas semanas para colocar todos os alunos dos módulos presenciais em atividades online. Durante toda essa época, fomos testando modelos”, diz.

De acordo com ela, o EAD representou a criação de um novo público, que busca uma alternativa mais participativa de ensino. “Com plataforma passiva não funciona mais.”

Como o Estadão mostrou em outubro, com a divulgação dos dados do Censo da Educação Superior pelo Ministério da Educação (MEC), houve uma explosão da educação EAD no Brasil. Segundo as estatísticas, o número de cursos na modalidade ofertados no País aumentou 700% em dez anos, saindo de 1.148 em 2012 para 9.186 no ano passado. O ritmo de criação de cursos aumentou a partir de 2018, com a flexibilização da abertura de polos – crescimento de 189,1%.

Ainda de acordo com o MEC, considerando dados da rede privada, que detém a maior parte das matrículas de ensino superior no País, o número de alunos por professor na EAD é mais de sete vezes maior do que no presencial. A média é de 171 alunos para cada professor nos cursos a distância e de 22 estudantes por docente na modalidade presencial.

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