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Novo resultado do Pisa revela barreira que o Brasil não consegue superar; leia análise

Desenvolvimento em Matemática depende muito da aula presencial; alunos não têm desempenho superior a 390 pontos em avaliação internacional

Por Ernesto Martins Faria
Atualização:

Os dados do Pisa 2022, a principal avaliação internacional de aprendizagem, foram divulgados nesta terça-feira, 5. O exame foi aplicado a estudantes de 15 e 16 anos. Havia muita expectativa sobre esse resultado, pois é o primeiro do País desde a reabertura completa de suas escolas após a pandemia. Isso porque as provas do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e do Programme for International Student Assessment (Pirls), a avaliação internacional de leitura, foram aplicadas ainda em 2021.

O Brasil registrou pequena queda na pontuação média de seus estudantes. Provavelmente, mais sutil do que muitos esperavam. Em comparação ao Pisa 2018, a pontuação média em Matemática passou de 384 para 379; em Leitura, de 413 para 410, e, em Ciências, de 404 para 403. Em Leitura e Ciências, é possível dizer que o cenário ficou praticamente estável.

Brasil teve pontuação baixa no Pisa especialmente em matemática. Foto: Werther Santana/Estadão

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Sabe-se que a Matemática é uma área do conhecimento que depende muito da atuação da escola (mais do que Leitura, por exemplo) e, após quase dois anos de escolas fechadas, era imaginada queda grande na aprendizagem dos alunos na disciplina. No entanto, embora 5 pontos até não seja muito (a média dos países da OCDE caiu 15 pontos), uma análise mais aprofundada dos dados revela que há aspectos importantes a serem considerados.

Primeiro: o cenário prévio da disciplina. Muito antes da pandemia, o patamar do Brasil já era bastante difícil. O País não tem conseguido nem quebrar a barreira dos 390 pontos, o que indica que é muito mais comum os alunos não atingirem o nível 2 (considerado o mínimo esperado para essa faixa etária) do que atingi-lo. Em 2022, apenas 26,7% chegaram a esse patamar; enquanto na OCDE foram 68,9%.

No nível 2, os estudantes são capazes de “interpretar e reconhecer uma situação simples, representada de forma matemática, como comparar a distância entre duas rotas e converter preços em escalas diferentes”.

Em que pese o fato de haver mais alunos de perfil vulnerável fazendo o Pisa (na pandemia muitos alunos de baixo desempenho foram aprovados automaticamente e, com isso, mais jovens de 15-16 anos chegaram ao 7º ano e se tornaram aptos a realizar o exame), estamos longe de um resultado que represente uma aprendizagem adequada aos estudantes.

Um segundo aspecto, de grande relevância, é que o nosso percentual de alunos de bom desempenho — que já era baixo — caiu consideravelmente. O índice de estudantes brasileiros que alcançaram ao menos o nível 3 caiu de 13,6% para 10% e, ao menos o nível 4, de 4,3% para 3% — são quedas de 26,5% e 30,2%, respectivamente.

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Há, porém, alguns pontos positivos que precisam ser reconhecidos: o percentual de estudantes nos níveis mais baixos da escala do Pisa poderia ter aumentado de forma mais expressiva nas três disciplinas avaliadas. Isso, felizmente, não aconteceu.

Parece haver no Brasil um trabalho para conter defasagens extremas que tem surtido efeito, não só em Leitura como em Matemática e Ciências. Talvez seja reflexo das políticas de avaliação, acompanhamento pedagógico e monitoramento em curso no País. Mas, para esse tipo de diagnóstico, é necessária investigação maior. Ações de contenção dos impactos da pandemia por gestores e professores também podem ter surtido efeito.

O que fica com o Pisa 2022 é que conseguimos nos estabilizar em um patamar baixo, mas que representa certo nível de aprendizagem, mesmo com a inclusão de mais alunos vulneráveis. Patamar que alguns outros países não alcançam, como o Paraguai. Mas é isso o que devemos almejar como país? Certamente não.

A educação tem de gerar oportunidades, e a escassez de alunos de bom desempenho, em especial em Matemática, cobra o seu preço. Precisamos de um projeto de nação para reverter esse cenário. E a missão não pode ser só da educação. Precisa envolver outras esferas de governo.

*Ernesto Martins Faria é diretor-fundador do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede)

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